Capítulo 7.

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Após longos momentos de conversa, as princesas estavam mais calmas, apesar de decepcionadas e muito perturbadas com a "cena" que haviam presenciado. As duas estavam quietas, já não choravam e eu tentava fazê-las dormirem. Elas precisavam de uma noite de sono minimamente aceitável depois de todo este turbilhão.

Sempre que pareciam ter pego no sono, eu tentava levantar da cama que dividia com elas, mas sempre que me movia, uma das duas acordava e me pedia para ficar. Depois da terceira tentativa, me dei por vencida e permaneci ao lado delas por toda a noite. Acabei aceitando que, talvez, esta fosse mais uma estratégia do destino para que eu me acalmasse e colocasse a cabeça em ordem. Eu precisava pensar no que iria fazer diante de tudo.

Já que pareço ser a única adulta desta família, preciso pensar e agir com responsabilidade. Por mais que minha vontade grite e proteste contra minha razão, por mais que o meu único desejo agora seja quebrar esta casa inteira na cabeça de Pedro, exilar sua amante de meu país e proteger minhas filhas de todo mal que eles estão nos causando, essa é uma realidade que está fora de cogitação.

O fato é que preferi continuar dentro do quarto, esquecendo de todos que estavam reunidos no andar de baixo da Quinta, ignorando todos os protocolos que deveriam ser seguidos por uma anfitriã e, principalmente, por uma imperatriz. Já não queria voltar para o salão, não queria ter que olhar nos olhos de Pedro, ter que lidar com seu falso moralismo, cinismo e hipocrisia, sem poder dizer nada naquele momento. Não queria ter que continuar fingindo não enxergar a podridão que era o caso de Pedro. Preferi permanecer exatamente onde estava e acabei adormecendo junto delas.
No final de tudo, minha estadia no quarto das princesas até a manhã seguinte acabou sendo um momento de conforto para nós três.

Mas não, não estou esquecida. E sim, meu ódio continua vivo e pulsante.

Acordei muito cedo, na verdade, mal consegui pregar os olhos durante toda a noite. Dividir uma cama de solteiro com duas crianças é, no mínimo, desconfortável.
Os primeiros raios de sol ainda não apontavam no céu, ainda estava escuro, o céu permanecia acinzentado, mas finalmente saí de dentro do quarto. Deixei as duas quietinhas, dormindo abraçadas e com expressões de serenidade.
A Quinta estava silenciosa, se comprado ao momento em que eu estava indo ao encontro de Isabel e Leopoldina, pois já não havia sinal de música, os convidados tinham ido embora, além do fato de todos ainda estarem dormindo. Os empregados se encarregaram de retirar as decorações e limpar o ambiente, e todo aquele "clima de festa" que invadia o salão na noite passada, havia desaparecido.

Fui em direção ao jardim, o cenário que presenciou todos os acontecimentos relatados pelas crianças.
Abri as grandes portas francesas que serviam como uma divisa entre a parte interna da Quinta e o jardim e, automaticamente, uma grande corrente de ar invadiu o ambiente, fazendo com que meu vestido balançasse.
Tirei os sapatos e comecei a andar pelo local, sentindo o impacto da grama fria e macia com meu corpo que estava quente. Apertei os dedos dos pés contra o chão, a fim de aproveitar o contato que estava tendo com a terra. Olhei para os céus e suspirei fundo. Preciso encontrar a razão de tudo isso. Preciso entender em qual momento nossa história se transformou nisso...
Eu só queria que tudo fosse um pesadelo. Um grande e terrível pesadelo, daqueles que nos causam arrepios e frios na barriga mesmo após acordar. Eu preferia que tudo isso tivesse sido um sonho. Um sonho muito ruim, a propósito.

Deus, por favor, me diga o que preciso fazer. Eu preciso de forças, forças suficientes para continuar lidando com isso. Forças para arrancar do meu coração, de uma vez por todas, o que sinto por Pedro. Preciso de forças para conseguir olhá-lo nos olhos e não me abalar, não me atrair, não me perder naquela imensidão azul. A raiva, o ódio e o ressentimento podem passar, mas o amor... por que é sempre tão difícil superar o amor?

Sinestesia - Pedresa Onde histórias criam vida. Descubra agora