Capítulo 17.

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Minha conversa com o Duque continuou por um certo tempo. Tempo suficiente para sentirem nossa falta e nos darmos conta que era hora de sair dali. Fui a primeira a deixar a sala e combinamos que ele sairia minutos depois.

Me senti estranha durante toda a conversa. Tenho plena convicção que os meus sentimentos por Vittorio ficaram no passado, mas não tenho a mesma certeza se ele se sente da mesma forma. Vittorio deixou que seus ressentimentos ficassem muito claros para mim desde o início da conversa. E, de uma forma ou de hora, eu o compreendo. Fomos impedidos de viver nossas vidas como planejamos. Fui envolvida num jogo de interesses políticos e ele não teve escolha, senão aceitar as consequências da minha condição como princesa.

Eu não tinha ideia das coisas horríveis que aconteceram com sua família e até me senti culpada pelo tempo em que ele esperou por mim. Quatro anos. Foram quatro anos esperando por algo que, obviamente, jamais aconteceria. Eu não poderia anular meu casamento, tampouco fugir do Brasil e voltar para Nápoles. Até porque, eu já estava casada com Pedro quando saí da Itália. Este era o meu destino e, pelo que pude notar nesta conversa, fui a única que conseguiu aceitá-lo.

De todo modo, me custa entender o que levou Vittorio a vir ao Brasil. Na verdade, muitas coisas ainda me trazem dúvidas. A primeira delas é: o que fez meu irmão enviar meu ex noivo para cá e o que eles esperam com isso?
Talvez eu nunca consiga as respostas para estas perguntas, mas os questionamentos continuam ferventes em minha mente. Levamos uma década para nos reencontrarmos e quando finalmente aconteceu, as palavras sumiram da minha boca. Eu poderia escrever uma lista com tudo que gostaria de perguntar a Vittorio, mas quando ficamos juntos, na mesma sala e completamente sozinhos, todas as perguntas me fugiram.

A chegada de Vittorio foi, inicialmente, muitíssimo estranha para mim. Ainda é difícil olhá-lo e não lembrar de tudo que vivemos, mesmo que eu saiba exatamente o que há no meu coração. Além disso, tenho notado os ciúmes de Pedro crescerem cada vez que dividimos o mesmo ambiente com o Duque ou quando nos referimos à infância em Nápoles. Nos primeiros dias senti a necessidade de contar ao meu marido o que havia acontecido entre mim e Vittorio, mas preferi adiar. Adiei tanto que acabei perdendo a coragem. Eu o conheço e sei exatamente qual seria sua reação se soubesse que, por pouco, não me tornei a Duquesa di Pellegrini.

Mas de quem valem todas as respostas para as minhas perguntas se tudo continuará como antes?

Celestina: Majestade! -a baronesa exclamou assim que me viu voltar para o salão. -Onde esteve? O leilão está prestes a começar. -disse apontando para o leiloeiro que já se preparava em cima do palco.

Teresa: Io estava... -olhei para os lados, ainda distraída e pensando no que havia conversado com o Duque. -E Pedro? Onde está Pedro? -estranhei a ausência dele no salão.

Celestina: Não sei, Dona Teresa! -também olhou em volta. -Ele não voltou desde o momento em que saiu com o Marquês de Caxias.

Teresa: Mas isso já tem molto tempo, Celestina! -estranhei a demora. -Pedro já devia ter voltado. -comecei a buscar Pedro ou Caxias com os olhos.

Celestina: Dona Teresa... -começou a falar em seu tom conhecidamente desconfiado. -Também não estou vendo a Condessa de Barral por aqui! -minha dama de companhia acabou de plantar uma dúvida mortal em minha cabeça.

Teresa: Será possível? -bufei e comecei a me abanar freneticamente com o leque. -Caxias! -avistei o Marquês de longe e logo nos dirigimos até ele.

Caxias: Majestade! -fez uma reverência assim que notou minha aproximação. -Baronesa! -também cumprimentou Celestina.

Teresa: Olá, Caxias! -sorri para ele e tentei ser o mais discreta possível. -Sabe onde o Imperador está? -continuei fazendo movimentos com o leque, mas de uma forma bem mais elegante que a anterior.

Sinestesia - Pedresa Onde histórias criam vida. Descubra agora