Capítulo 12.

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Alguns dias se passaram desde os últimos acontecimentos e a amenidade pairava sobre a Quinta da Boa Vista. Pedro estava se recuperando muito bem e aquela inesperada tempestade havia despertado uma aproximação entre nós. As princesas estavam cada dia mais habituadas aos novos professores e também pareciam estar mais dispostas a perdoar o pai, apesar de não terem cedido totalmente.

Pedro buscou as mais variadas formas para tentar recuperar a confiança delas, mas nossas meninas ainda apresentavam resistência. Isabel permitia que ele se aproximasse com mais liberdade, enquanto Leopoldina demonstrava certo ceticismo em relação às investidas do pai. Eu as compreendia, pois também era difícil para mim voltar a ter confiança nele. De todo modo, Pedro parece estar cada dia mais engajado à recuperar a comunhão de nossa família.

Entre um compromisso e outro, decidi ir até o jardim fazer uma das coisas que mais me agradam, elaborar mosaicos utilizando conchas do mar ou restos de louça - a técnica de embrechamento -. Enquanto grudava aqueles pequenos objetos de cores diferentes nos bancos de pedra na área externa da Quinta, ouço as vozes das princesas se aproximando.

Dina: Minhas bonecas precisam de roupas novas! -falou em tom sério enquanto caminhavam para perto de mim.

Isabel: Você vai tricotar roupas para as suas bonecas como fez no ano passado? -riu da seriedade com que irmã tratou o assunto.

Dina: Imagina! Você sabe que tricotar não é minha atividade favorita... além do mais, mamãe me ajudou com as roupas de boneca no ano passado! -admitiu. -Mas você bem que poderia me ajudar, não é? -cutucou a irmã mais velha.

Isabel: Dina, francamente! Já estou velha demais para tricotar roupas de boneca... -elas trocaram alguns olhares e eu notei a chegada de ambas.

Teresa: O que as mocinhas estão fazendo aqui fora neste horário? -as olhei desconfiada.

Isabel: O professor de francês nos deu um intervalo! -depositou um beijo em minha bochecha e sentou ao meu lado no banco. -Hoje a senhora esqueceu de ir ao nosso quarto nos dar o beijo de "bom dia". -questionou enquanto passava os dedos pelo mosaico.

Dina: Mamãe tem estado muito ocupada cuidando de sua majestade, o imperador. -sentou ao lado da irmã e cruzou os braços.

Teresa: Para a informação de vossas altezas, io estive em seu quarto no início da manhã! -continuei separando as pequenas conchas e grudando-as no banco de pedra em que estávamos sentadas. -Lhes dei um beijo, como costumo fazer diariamente, mas preferi deixá-las dormindo, pois ainda estava muito cedo.

Isabel: Nós não notamos sua presença! -respondeu baixo e começou a me ajudar na elaboração do mosaico. -E o ombro do papai está melhorando?

Dina: Com a mamãe cuidando dele, com certeza já deve estar muito melhor! -soltou um ar de riso.

Teresa: Dina, já é tempo de colocar de lado esta implicância com seu pai! -a olhei.

Dina: Para ele nos decepcionar meia hora depois? -ela não escondia sua mágoa. -Não sei se consigo esquecer o que vimos naquela noite.

Isabel: É... entendo o que está dizendo, mamãe, mas concordo com Dina! -baixou a cabeça e olhou para o chão. -Papai nos magoou muito!

Por mais que estivesse presenciando o quão determinado Pedro está em recuperar a ligação que tinha com as filhas, eu também conseguia entendê-las perfeitamente. Não era uma questão de rancor ou orgulho e sim de mágoa. Elas estavam magoadas pela cena que tinham  visto, magoadas pela deslealdade de Pedro com o nosso casamento e magoadas por terem sua confiança traída pelo pai e pela preceptora. Voltar a falar com Pedro foi uma escolha minha e eu jamais forçarei minhas filhas a terem a mesma atitude. Elas terão o tempo que precisarem para aceitar o perdão do pai.

Sinestesia - Pedresa Onde histórias criam vida. Descubra agora