Capítulo 15.

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Narrado por Pedro

Havia amanhecido mais rápido do que eu imaginava e só me dei conta quando os primeiros raios de sol invadiram o quarto através da janela. Passei a noite em claro, nada me fazia conseguir dormir e todos os meus pensamentos giravam em torno de Teresa.
A única coisa que realmente me preocupava agora era o fato de estarmos brigados. Sinto-me péssimo por não ter conseguido impedir aquela discussão e, pior, por tê-la tratado daquela maneira. Fiquei cego, admito, mas não devia ter gritado com Teresa. Para piorar, nossas meninas ainda presenciaram parte da briga e isso me deixa ainda mais perturbado.

Ela está aflita, é óbvio. Se sente responsável por aquelas pessoas em seu país de origem e por acreditar ser seu dever conceder as tropas brasileiras. Além de tudo isso, ela deve sentir-se completamente encarregada de fazer valer o nosso acordo entre reinos. Teresa não costuma falar sobre isso, a menos que alguém cite este detalhe que flutua sobre nosso casamento.

O acordo entre nossos reinos foi, sem sombra de dúvidas, um divisor de águas no quesito político. O Império do Brasil, apesar de geograficamente vasto e popularmente abrangente, jamais possuiu o respeito e notoriedade internacional que o Reino de Nápoles sempre tivera. Deste modo, o tratado selado entre nós não se retinha apenas em função da união de um homem com uma mulher, mas obre a união de um país com o outro.

Esta tensão sempre foi perceptível em Teresa. Por mais que, com o passar dos anos, ela tenha conseguido lidar com isso de maneira mais flexível, minha esposa sempre se sentiu obrigada a "fazer valer" o acordo. É como se, a todo momento, ela se lembrasse que veio para o Brasil com uma missão. A missão de não ser apenas uma imperatriz, mas de ser uma princesa que, apesar de tudo, jamais se esquecerá de suas origens.

Ela nunca negligenciou seu trabalho como imperatriz e, como dito popularmente, mãe desta nação. Teresa assumiu esta pátria como sua desde o instante em que colocou os pés nesta terra. Entreteceu nossos quatro filhos em seu ventre de modo admirável e amou todo este povo como se tivera saído de dentro dela. Teresa é, verdadeiramente, a mãe que este Brasil sempre ansiou ter.

Em momento algum de minha existência pude imaginar que um dia teria o privilégio de desposar alguém tão especial quanto ela. Não sou digno de tê-la. Nunca poderei ser. Quando aceitei fazer a proposta de casamento, pensei nos benefícios que o Brasil poderia adquirir, apenas. Acreditei que seria bastante utópico de minha parte achar que conseguiria ser feliz e amado por uma completa desconhecida. Mas, apesar de não merecer, fui agraciado com a chegada deste ser sublime.

Sim, sublime. É exatamente o que ela é. Praticamente uma divindade. Poderia passar horas admirando-a como mulher, ouvindo-a cantar ou, simplesmente, observando-a regar as flores de seu jardim. Ela é, sem exageros, um ser celeste. Não precisei de muito tempo ao seu lado para notar tudo isto, mas precisei sentir que estava prestes a perdê-la para, só então, valorizá-la.

Neste momento, sentado em uma poltrona no meu escritório, sinto-me extremamente culpado por ter dito aquelas palavras à minha esposa. Fui, de fato, um tremendo egoísta e mimado desde a infância. Apenas ela teve tamanha firmeza para gritar-me tais palavras com sinceridade.
Em todos estes anos de casamento, Teresa sempre foi honesta com relação às suas convicções. Nunca agiu de modo sorrateiro, manipulador ou conspiratório para ter o que queria, pelo contrário, todos os seus feitos foram alcançados através de sua tenacidade invejável. E este sempre foi um dos motivos que me tornam cada dia mais fascinado por ela.

Depois de nossa discussão, na noite anterior, passei boa parte da madrugada trancado no museu da Quinta. Aquele lugar, sem dúvida alguma, exalava a presença de Teresa. O ambiente a pertencia e cada detalhe que compunha o lugar gritava isso. Estar ali era como estar perto dela. Eu não podia ir até o seu quarto, pois sabia que eu sou a última pessoa a quem ela gostaria de ver.
Fui um tolo ao berrar para ela que era "apenas com o povo brasileiro que deveria se preocupar", e só após vê-la subindo às escadas acompanhada de nossas filhas que me dei conta disso. Como pude querer que ela virasse as costas para o país onde nascera? Como pude querer que ela lhes negasse ajuda?

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