Capítulo 2.

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Está se tornando cômico como as coisas passaram a desandar nesta casa desde que a Condessa de Barral chegou. A carga horária de estudo das princesas triplicou, os empregados estão a cada dia mais insatisfeitos com a presença petulante e audaciosa da preceptora, e minha paciência têm sido testada cada vez mais.

Saio do meu quarto em passos rápidos na companhia de Celestina e me ponho a pensar no que poderia acontecer se eu fingisse esquecer de todos os meus títulos só para poder avançar no pescoço de alguém.
Antes de chegar ao pé da escada, ouço a voz da condessa falando com meu jardineiro, instruindo-o a colher rosas vermelhas no jardim das princesas para a decoração do jantar que daríamos para os deputados. Rosas vermelhas num jantar de estado? Francamente...

Teresa: Buon giorno! -digo séria interrompendo o monólogo da condessa sobre as rosas.

Luísa e Jardineiro: Bom dia, majestade! -os dois respondem juntos enquanto fazem uma reverência e a mulher me lança um sorriso.

Teresa: Algum problema nos jardins, senhor Matias? -finjo não saber o que está acontecendo.

Matias: De modo algum, majestade! Estou aqui apenas para ouvir as instruções da condessa. -ele olha para Celestina como se quisesse dizer algo mais e logo baixa a cabeça.

Teresa: Perdono, instruções da condessa? -agora olho diretamente para ela arqueando uma das sobrancelhas de modo instintivo.

Luísa: Sim, dona Teresa! O imperador me confiou a tarefa de organizar o jantar para os deputados recentemente eleitos e eu estou definindo a decoração. -ela gesticulava.

Enquanto a mulher usava as mãos para se justificar, a única coisa que eu pensava era em como alguém podia ser audacioso a este ponto. Ela estava definindo a decoração de uma evento que aconteceria em minha casa sem me consultar? A cada palavra da mulher, eu sentia meu sangue ferver.

Teresa: Non, condessa! Mio marido certamente deve ter se equivocado quando lhe encarregou de suas "novas" funções. Eu sou a responsável pela organização da Quinta, bem como os eventos dados por nós. -disse num tom baixo, conciso e quase irônico.

Luísa: Majestade, o imperador foi claro quando me disse para... -a interrompi.

Teresa: Dona Luísa, Pedro pode ser o imperador do Brasil, mas quem dita as regras desta casa, sono io! E io digo que, por hora, a senhora está encarregada apenas da educação das princesas. Quanto aos preparativos para o jantar, não se incomode, io cuido de tudo. -falei no mesmo tom inicial, afinal de contas, por mais raiva que eu estivesse sentindo dela, jamais transpareceria.

Neste momento tive a certeza de ouvir Celestina soltar um leve sorrisinho seguido de um "hum!" atrás de mim.
Ignorando qualquer protesto da condessa, passei entre ela e Matias seguindo em direção a mesa de café da manhã. Eu realmente me pergunto o que se passa na cabeça de Pedro. Se ele está querendo entrar numa guerra comigo, pode ter certeza que eu comprarei a briga. Como se não bastasse assumir sua amante para mim e forçar a presença dela na Quinta, ele ainda a incumbe da organização dos eventos que acontecem na minha própria casa? Isso não. Basta!

O desjejum seguiu tranquilo, apesar do incômodo que tive com a condessa no início da manhã. Pedro não estava presente. Eu e minhas filhas conversamos de forma leve, lembramos das últimas vezes em que fomos à praia e elas disseram o quanto sentiam falta dos momentos de lazer em família. Pedro está sempre ocupado ou seja lá o que ele está sempre fazendo. Ele nunca tem tempo. E eu, por mais que tenha vontade de estar com minhas filhas, sou impedida pelo largo quadro de aulas delas. O que nos resta são os "beijos de bom dia" ou os "beijos de boa noite" que sempre tento dar nelas. Estou a todo custo tentando cultivar bons momentos quando estamos juntas, seja nas refeições ou quando as coloco para dormir.

Sinestesia - Pedresa Onde histórias criam vida. Descubra agora