Capítulo 5.

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Hoje a Quinta da Boa Vista amanheceu agitada. Empregados circulando por todos os lados desde cedo, ornamentações sendo preparadas, instrumentos sendo afinados, mesas sendo postas... ah, eu amo esse ar diferente que invade a residência imperial em épocas de festa. Não que o jantar para os deputados seja uma festa, mas inegavelmente será algo que nos tirará de nossa rotina.

Lurdes: Isso, Matias! Um pouco mais para a esquerda... as orquídeas estão perfeitas aí! -a mulher dizia enquanto apontava para o lugar onde o jardineiro deveria posicionar as flores.

Matias: Que bom que está do seu agrado, baronesa! Aproveitei as orquídeas mais belas do jardim. -ele dizia orgulhoso ao olhar para os vasos.

Nicolau: Você tem feito um excelente trabalho no jardim de dona Teresa Cristina, Matias! -disse o mordomo que segurava uma pasta contendo a lista de convidados.

Depois de provar e aprovar alguns pratos que estavam sendo preparados para o jantar, me dirigi até o salão principal para verificar como estava o andamento das outras coisas. Durante o trajeto, encontrei alguns empregos e os instrui de pequenos detalhes que ficaram pendentes.

Teresa: Mas que belas orquídeas brancas, senhor Matias! -fiquei admirada ao entrar no salão e observar as flores.

Matias: Colhidas do jeito que a senhora solicitou, majestade! -ele falou enquanto tirava uma flor de dentro do arranjo e a entregava para mim.

O gesto do jardineiro atraiu alguns olhares para nós, principalmente porque o retribui com um sorriso. Aproximei aquela singela flor do meu rosto, fechei o olhos e senti seu aroma. Orquídeas brancas são as minhas favoritas. São discretas, mas ao mesmo tempo, elegantes. Trazem um ar de sobriedade e delicadeza ao ambiente, da mesma forma que traduzem sofisticação e nobreza. As orquídeas brancas sempre estiveram presentes em minha vida, até no meu buquê de casamento, justamente porque transmitem inocência, pureza, amor e espiritualidade.

Enquanto tudo isso acontecia, Pedro adentrava o espaço e se deparava com a cena. O jardineiro do palácio havia me oferecido uma flor.

Pedro: Pelo que vejo, a organização do evento está muito bem encaminhada. -ele olhava diretamente para a flor em minhas mãos.

Teresa: Sì, tudo está conforme planejado! -suspirei olhando para a flor em minhas mãos.

Os empregados retornaram aos seus afazeres e deixaram que Pedro e eu ficássemos "a sós". Não dava para ficar exatamente a sós em um salão cheio de gente, mas estávamos num lugar mais reservado, digamos assim.

Pedro: Você fez um belo trabalho, Teresa! Tudo está impecável, como sempre. -falou de uma forma sincera.

Teresa: Jura? Engraçado! -sorri sem mostrar os dentes. -Nem parece o mesmo Pedro que encarregou outra pessoa para cuidar de tudo isso.

Pedro: Eu... sinceramente, não sei no que estava pensando! -respirou com um certo pesar.

Teresa: Você cometeu o grande equívoco de achar que alguém poderia cuidar da minha casa melhor do que eu! -dei dois tapinhas em seu peito e me afastei.

Ah, francamente! "Eu... sinceramente, não sei no que estava pensando"??? Faça-me o favor. Este homem, o imperador do Brasil, não é capaz nem de formular uma justificativa decente para a própria esposa?
Revirei os olhos no momento em que dei as costas para Pedro, aquela resposta dada por ele foi, sem sombra de dúvidas, patética. Eu só... -bufei.
Não posso me concentrar nisto agora, tenho muitas coisas que realmente necessitam da minha preocupação e Pedro não é a mais importante delas.

Sinestesia - Pedresa Onde histórias criam vida. Descubra agora