Capítulo 9.

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Capítulo narrado por Pedro:

Três semanas se passaram desde a discussão que Teresa e eu tivemos no museu, e as palavras dela me perturbam desde então. Meu sono, que já não era muito regular, se tornou ainda pior. Minhas noites parecem infinitas e nada do que eu faça me permite esquecer o que aconteceu.

Me sinto péssimo. Minha relação com Teresa e com minhas filhas está péssima. Tentei conversar com Teresa em alguns momentos, mas ela está irredutível, me evita o máximo que pode, não se demora no mesmo ambiente em que eu esteja e sempre escolhe fazer as refeições antes ou depois de mim para não ter que ficar ao meu lado. As meninas também estão distantes, apenas respondem meus cumprimentos e não prolongam nenhuma conversa. Apesar de continuarem falando comigo, parece ser apenas por obrigação e não por realmente sentirem vontade. Sinto que perdi a confiança das três.
Isabel é mais maleável e paciente, mas Leopoldina é extremamente parecida com a mãe. As duas possuem o mesmo gênio, a mesma teimosia, o mesmo ímpeto e se recusam a permanecer numa situação que as incomoda.

Tem sido cada vez mais difícil estabelecer qualquer tipo de comunicação com elas. Outro dia, tive que falar com Teresa através de Celestina. Ela se recusava a falar comigo e pediu para que sua dama de companhia interceptasse nossa conversa. É extremamente desafiador ter que lidar com este tipo de situação e continuar mantendo a sanidade, mas admito que todas as coisas que vem acontecendo são consequências de minhas próprias atitudes, são de minha total responsabilidade.

Desde que Teresa e eu regressamos da viagem que fizemos ao Norte e tivemos aquela conversa, as coisas entre nós cambiaram de forma abrupta. É óbvio que isto aconteceria, até por que eu usei as palavras "encontro" e "almas" na mesma frase para me referir à Condessa de Barral.
Demorei um mês e meio para perceber o quão egoísta tenho sido com minha própria família. O qual inconsequentes e imaturas foram as minhas atitudes, sobretudo com Teresa.

Um órfão como eu, que crescera sem a presença do pai, que perdera a mãe cedo demais, que fora criado por amas e que seu maior desejo ao alcançar a fase adulta, era construir uma família, não consegue lidar com a riqueza que lhe foi concedida. É muito irônico que eu tenha tudo que sempre quis ter e, ao mesmo tempo, não saiba dar o devido valor.
Teresa presenteou-me com o que qualquer homem gostaria de receber de uma mulher. Ela me deu sua pureza e ingenuidade. Ela me entregou o que tinha de mais fidedigno, seu coração. Deixou tudo e todos para trás, saiu de sua própria casa para vir habitar a minha. Fez da Quinta da Boa Vista um verdadeiro lar. Me deu as maiores alegrias de minha vida e, o mais importante, me deu seu amor sincero.
E agora, sentindo todo este tesouro esvair-se como areia pelos meus dedos, percebo que não mereço absolutamente nada do que tenho.

A questão é que, de fato, tenho sentimentos pela Condessa. Sentimentos que me deixam confuso, que controlam minha mente a ponto de não conseguir distinguir se é amor, paixão, desejo ou um mero entusiasmo. Confesso que, quando estou com Luísa, me sinto bem, me sinto envolvido. Temos boas conversas, boas trocas, sentimos prazer juntos. Porém, admito que meus sentimentos por Teresa são diferentes. Não posso fazer uma comparação, pois são naturezas completamente distintas.
Teresa me dá confronto, estabilidade, segurança e tranquilidade. Ela me proporciona a certeza que, mesmo com todos os problemas, nosso lar sempre será meu porto seguro. Sinto que, com ela, posso conversar sobre qualquer assunto, dos mais simples aos mais absurdos. Ela sabe de coisas sobre mim que nem mesmo eu consigo enxergar.
Enquanto com Luísa, me sinto enérgico, fervoroso, lascivo. Sinto que ela me faz ser impulsivo, destemido, me provoca uma série de excentricidades que, até então, eram desconhecidas. Luísa me trouxe a um ambiente totalmente novo, cheio de descobertas e, acredito que por este motivo, meu fascínio por ela foi instantâneo.

No entanto, reconheço que meu compromisso com Teresa vai além de qualquer excentricidade. Reconheço que, no momento em que conheci Luísa, passei a negligenciar Teresa. E ela me deu sinais. Desde o início Teresa deu sinais de que eu a perderia. Eu os ignorei e só agora consigo enxergar o quanto ela estava sendo sincera. Preciso conversar com ela, implorar seu perdão, assumir minha culpa e mostrar meu arrependimento. Preciso que ela saiba do quanto necessito de sua presença ao meu lado para seguir adiante.

Sinestesia - Pedresa Onde histórias criam vida. Descubra agora