Capítulo 11.

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A tempestade seguia intensa e as árvores, que demonstram ser inabaláveis, estavam praticamente sendo derrubadas pela ventania perene. Os sonidos estrondosos dos trovões não davam o menor descanso, os clarões no céu, ocasionados pelos raios, mantinham-se ainda mais constantes e o receio de continuar ali crescia a cada minuto.
Nós estávamos no meio do nada, próximos à uma mata fechada, onde a única saída se dava pelo acesso à uma estrada de barro que nos fez chegar até aqui. Todo este cenário havia se tornado pavoroso, pois Pedro permanecia desacordado e imóvel, e eu já não sabia o que fazer.
Ele não estava morto, disso eu tinha certeza. Após alguns minutos perdidos em tentativas frustradas de fazer com que ele acordasse, notei que sua respiração estava parcialmente regular e, ao checar seu pulso, percebi seus batimentos estáveis. Acredito que o impacto tenha sido forte o suficiente para mantê-lo desfalecido, mas não para matá-lo.
Mas eu não entendia o por que Pedro não estava acordando. Por mais otimista que eu tente ser na maior parte do tempo, é difícil impedir que certos pensamentos negativos invadam minha mente agora. Estou nervosa e preocupada, mas não posso ficar desesperada! Pedro necessita de um médico, isto é fato, mas onde encontrarei alguém para nos ajudar durante a tempestade e numa madrugada no meio do nada?
Comecei a recorrer a Deus e a todos os Santos para que o fizessem acordar. Ele não tem sido um ótimo pai ou marido nos últimos meses, mas ainda sim, continua sendo meu marido e pai das minhas filhas. Morrer não é uma opção. Sendo assim, decidi fazer algo... por mais que eu não tenha ideia do que fazer exatamente.

Teresa: Como você pôde se colocar na frente de um animal como aquele, Pedro? -tentei arrastá-lo de volta para o estábulo. -Você realmente esperava que iria me convencer com aquilo? -parei para puxar o ar que me faltava. -Dio Santo, como você é pesado!

Não podíamos continuar do lado de fora, então tentei arrastar o corpo de Pedro para dentro do estábulo onde tudo aconteceu. Ele era muito pesado e por estar totalmente desacordado, dificultava ainda mais a locomoção. Ainda havia o fato daquilo tudo estar parecendo uma cena de crime, fazendo com que eu me sentisse cada vez mais culpada. Então, depois de praticamente jogar um cavalo em cima dele, o mínimo que eu poderia fazer agora era levá-lo de volta ao estábulo com o máximo de delicadeza e protegê-lo da chuva.
Peguei seus braços e tentei puxá-lo pelas costas. Foi difícil suspendé-lo, me custou um certo tempo, muito fôlego e força, mas consegui colocá-lo dentro de um local coberto e, aparentemente, seguro. O cavalo não havia lançado Pedro para tão longe, então não demorou muito para que eu conseguisse conduzir seu corpo. Tentei colocá-lo deitado em cima de um amontoado de feno, de modo que ficasse numa posição razoavelmente cômoda.

Teresa: Você disse que faria qualquer coisa para ter il mio perdono, mas io non imaginei que tentativa de suicídio fazia parte dos seus planos! -deitei ao lado dele no chão do estábulo, fiz carinho em seu cabelo e tentei recuperar o equilíbrio mental que a situação me cobrava.

Eu não sabia o que fazer. Pensei em sair em busca de ajuda, mas tive medo de deixá-lo sozinho. E se ele acordar enquanto eu estiver ausente?
Tantos questionamentos surgiram em minha mente que preferi deitar ao seu lado, rezar e tentar pensar em qual seria a decisão mais acertada a se tomar.

Teresa: Io ti perdono, seu louco! -senti as lágrimas surgirem em meus olhos e me agarrei ao corpo dele. -Ti perdono... apesar de todo o medo que estejas me fazendo sentir agora!

Após alguns segundos deitada no chão ao lado de Pedro, decidi levantar e sair em busca de ajuda. Eu estava com medo, obviamente, mas não posso continuar parada e esperar por um resgate que, certamente, não virá. Ninguém sabe onde estamos, ninguém sequer sabe que saímos da Quinta no meio da noite. Toda responsabilidade recaía sobre mim, portanto, a única coisa que devo fazer agora é montar no outro cavalo e correr à procura de ajuda.
Enxugo as lágrimas, tento deixá-lo da maneira mais confortável, nas condições possíveis, e vou em busca do outro cavalo que estava preso na cavalariça. A propósito, percebi que o meu cavalo havia fugido logo após o fatídico episódio.
Não existe tempo para pensar se o certo é ir em busca de ajuda ou continuar esperando que Pedro acorde... Logo, prefiro sair do que continuar de mãos atadas e sem saber como agir.

Sinestesia - Pedresa Onde histórias criam vida. Descubra agora