12 - A partida de alguém, e as lágrimas do que ficam

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Estava chovendo forte.

A chuva começou repentinamente, como se o mundo lamentasse pela morte dele.

Embora mantivesse a compostura, Levi não parava de pensar na carroça logo atrás de si. O corpo de Erwin estava lá, frio e sem vida. Não podia parar de imaginar que talvez ele pudesse acordar e voltar a dar ordens, mas Levi sabia muito bem que isso não aconteceria. Ele não conseguia fechar os olhos. Não conseguia pensar em mais nada. O corpo de Erwin, morto, não saía de sua mente.

Suas mãos tremiam. Por mais que ele apertasse as rédeas do cavalo, ainda sim, as suas mãos tremiam. Sabia que seu companheiro agora estava descansando, depois de ver o olhar de alívio que ele deu após a decisão de desistir de seus sonhos, mas Levi ainda estava vivo. Estava vivo, e carregava Erwin morto na carroça atrás de si.

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-Doutor Lawrence. -Levi falou assim que bateu na porta.

Ele entrou no consultório médico e viu o homem encarando o corpo de Erwin. Tinha lágrimas nos olhos, mas lutava para não derramá-las.

-Estou tão cansado. -O médico suspirou. -Tão cansado...

Levi acreditou que aquele não era o melhor momento para falar. Ele mesmo não sabia o que dizer, então achou melhor apenas escutar.

-Já preparei os corpos de tantos homens e mulheres do Reconhecimento que jamais poderia contar. Estou tão cansado de receber mortos aos montes. As pessoas que eu conheço, os amigos que amo... mesmo aqueles que eu nunca vi. É impossível não sentir vontade de chorar por cada um deles. Eu admiro muito vocês. Receber os corpos já é destruidor, não consigo me imaginar ver os meus companheiros morrer.

-Não é uma tarefa fácil. -Levi respondeu observando o corpo limpo e preparado para o funeral em cima da maca. -Na verdade, nós apenas seguimos em frente.

-Erwin... meu amigo. Nos conhecemos desde crianças. Lembro-me do pai dele, de como as coisas ficaram difíceis depois da morte dele. -Ele segurou a mão fria do comandante morto. -Meus pais até chegaram a cuidar dele por algum tempo. Depois que crescemos, nossos caminhos tomaram rumos diferentes, mas nunca abandonamos nossa amizade. Meu filho o tinha como o mais incrível dos heróis! Quando entrou para o Reconhecimento, celebrou como se tivesse descoberto como matar todos os titãs de uma vez só.

O médico precisou parar por um instante para conter as lágrimas. Limpou o rosto e colocou os óculos novamente. Tinha tanta tristeza no olhar e na voz que chegava a doer.

-Ele foi para diversas missões. Foram anos difíceis, mas a cada vez que ele voltava, parecia admirar Erwin ainda mais, e nós celebrávamos a vida de cada um dos que voltavam vivos. Entretanto, um dia, o meu filho não voltou. Nós sabíamos que ele tinha acreditado em Erwin até o fim, então nós escolhemos acreditar também. Mas agora, o Erwin também se foi. -Ele começou a chorar e soluçar. -Eu não sei mais como me sentir! Não sei mais como continuar! Quantos filhos ainda vão precisar morrer? Quantos amigos de infância? Quantos irmãos?

-Eu entendo como você se sente. -Levi abaixou a cabeça em respeito.

-Me pergunto quantos ainda vão morrer até que tudo isso acabe.

O doutor Lawrence se sentou no banco mais próximo e se debruçou sobre a ponta da maca onde Erwin estava. Começou a chorar sem cessar. Levi se sentou ao lado dele e colocou a mão sobre o ombro do médico. Quando o homem ergueu a cabeça, Levi mantinha um sorriso triste no rosto, embora não derramasse nenhuma lágrima.

-O Erwin é insubstituível. -Levi falou. -Não haverá ninguém como ele. Nunca. Ele foi importante o suficiente para que sua memória nunca seja esquecida.

Flower Girl, Levi AckermanOnde histórias criam vida. Descubra agora