Capítulo 04

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Grandes.

Ela tinha olhos grandes.  E uma pele oleosa e cheia de pintas. E ainda me olhava nos olhos quando me empurrou pra que eu saísse de cima dela.

- Você é louco?. - Ela disse, se levantando e esfregando as mãos uma na outra. Ela olhava pro chão agora. - Isso podia ter machucado.

Levantei a cabeça pouco dolorida,com os pulmões ainda queimando pela impacto da queda.

- Me desculpa mesmo. - Suspirei envergonhado antes de tentar me explicar. - Eu só queria ver se conseguia chegar a tempo. Antes do café fechar.

A garota levantou a cabeça até que seus olhos se encontrassem comigo de  novo. Ainda séria e meio avoada,ela tomou fôlego para me responder.

- Tudo bem, pelo menos não machucou ninguém com essa coisa. - Ela levantou o dedo indicador em direção ao skate caído dois metros longe de nós. - Nunca gostei de garotos que andam rápido por ai nessas coisas. Ainda mais quando não sabem parar.

Cuspindo as palavras, adiantou o passo e saiu andando em passos longos para longe da cafeteria.

Pensei que pessoas de cidades pequenas  eram mais simpáticas.

Assim que finalmente me levantei. Mal pude acreditar que mantive aquela conversa ainda sentado no chão. E me apressei em levantar e correr para pegar o skate velho. Suspirei em alívio quando o vi intacto e sem um arranhão sequer.

- E no fim de tudo, nem consegui comprar um pão doce. - Disse sozinho. Ainda olhando para a entrada fechada da cafeteria e o corredor escuro de onde a garota tinha surgido do nada. Que certamente devia levar aos fundos do lugar. - Queria que a mãe tivesse o que comer quando acordasse.

- Nesse caso eu ajudo.

Reconheci a voz familiar alguns metros longe de mim.

- Pensei que tivesse ido embora enfurecida sra.avental.

Respondi. Vendo seu semblante enrijecer mais um pouco.

- Esqueci meu celular. E ouvi você ai falando sozinho. - Um sorrio metálico  se abriu no rosto todo pintado. - Assim como toda a rua deve ter escutado. Você deveria choramingar mais baixo.

Uni as sobrancelhas em protesto. Pronto para responder a altura, quando a vi se aproximar do corredor escuro.

- Vem cá. - Ela disse. Fazendo um sinal com as mãos. - O pessoal não foi todo embora ainda. Eu te vendo um pão doce.

Certo. Isso foi bem legal.

Segui aquela garota pelo corredor escuro. Com o skate ainda em mãos e dez reais amassados no bolso da bermuda. Até que estivéssemos dentro da cafeteria realmente,passamos por uma sala de ferramentas e um par de olhos ciumentos.

- Quem é aquele ruivinho de cara amarrada? - Indaguei. Vendo as bochechas dela rosarem um pouco. - Ele realmente deve querer ir pra  casa descansar.

- É o Guilherme. - Respondeu em tom baixo,para que o citado não ouvisse. - É o nosso garçom. E só estava de mal humor.

Eu conhecia aquele olhar. Ele estava com ciúme dela. E ela gostava dele.

- Aqui está. - Ela continuou.Pondo um saco ecológico e até que charmoso em cima do balcão. - O seu pão doce. E espero que sua mãe goste.

Assenti, enquanto dava a ela a única nota que tinha. Recebendo algumas outras como troco. Logo em seguida,apanhei o pãozinho com cuidado.

- Muito obrigada mesmo. - Sorri em direção a desconhecida. - Minha mãe capotou de cansaço  assim que chegamos e não teve tempo de comprar nada.

Ela balançou a cabeça em um sinal afirmativo enquanto fechava o caixa.

- Nós fechamos as dez e quarenta e cinco.

Ela disse. Parecendo mais calma,e seu timbre de voz parecia mais doce também.

- Tudo bem. - Respondi me afastando um pouco do balcão para olhar ao redor. - Vou avisar ela direitinho.

- Você pode ir se quiser. - O sorriso metálico reaparece. E a garota balança a cabeça em direção aos fundos. -  Também deve estar cansado.

Levei meus olhos naquela direção. E entendi o porque daquele sorriso,quando minha visão bateu de frente com a figura ruiva e alta de alguns minutos atrás.

Ele estava vigiando ela por acaso?.

-A sim. - Falei em voz baixa. - Muito obrigada mesmo. Foi de grande ajuda.

E quase esbarrei naquele gigante ruivo na saída.






Até que o verão acabeOnde histórias criam vida. Descubra agora