Capítulo 17

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- Finja ser minha namorada.

Disse ele.

  As palavras estavam embaralhadas na minha cabeça. Não sabia em qual delas prestava a devida atenção primeiro.

Minha.

namorada.

Meus estômago se encheu de uma euforia nova,minhas bochechas queimavam com a possibilidade a qual eu nunca tinha pensado antes.

Finja.

Significa que não seria real.

Todas as borboletinhas cheias de alegria,cada parte de mim que estava vibrando em ansiedade, tudo acabou. A euforia deu lugar a um vazio, um sentimento dolorido, um soco de  realidade no estômago.

- Fingir namorar você? - Cuspi as palavras. - E o que faz você achar que eu concordaria com isso?

Me afastei, alguns passos cegos dados no escuro. Mesmo que a maior parte de mim gritasse para que eu chegasse mais perto,para que eu corresse pra ele. Mesmo quando cada parte do meu corpo quisesse ficar colado ao dele,mesmo que fosse uma mentira.

Ele pareceu confuso, a expressão preocupada.

Droga,pare de fazer essa cara!

- Pensei que você... - Ele hesitou. Tentando escolher as palavras certas.- fosse me ajudar.

- E o que eu ganharia com isso? - Indaguei. Sorrindo amarga. - O que estão falando de tão ruim assim? Por que você está tão desesperado?!

Desesperado.

Ele só poderia estar desesperado para me pedir algo assim. Para querer namorar com a esquisita que ninguém conhecia,mesmo que fosse fingimento,ele devia mesmo estar em apuros para querer ser visto comigo.

- Eles estão dizendo que eu sou um filho bastardo. - A voz dele parecia pesada e mais grave do que o normal. - Estão dizendo que a minha mãe deu um golpe do baú ou algo assim. Que ela era tão promíscua quanto eu. Eles nem imaginam que eu fui adotado.

- Ninguém sabe que você é adotado Guilherme? - Eu jurava que todos soubessem, mas só não falassem sobre o assunto. - Eu pensei que todos soubessem.

Ele balançou a cabeça negativamente.

- Só o pessoal do café sabe. - Ele suspirou. - Porque são de confiança e conhecidos próximos do meu pai.

Por que isso assustava tanto ele?

- Por que você não quer que descubram?

Os olhos verdes pareciam sombrios daquela distância,e o rosto pálido inexpressivo.

- Todos tem coisas que querem esquecer. E se descobrirem sobre a adoção, vão começar a perguntar sobre os maus pais biológicos,ou sobre a minha vida antes daqui. - Ele cruzou os braços. - Eles acham que sou um filho perdido, ou um filho de algum caso ou divórcio.  Já que apareci repentinamente depois da morte da dona Olívia.

- E por que você me escolheu? - Minhas bochechas esquentaram. - pra ser a sua namorada de mentira?

- Você é a única garota em que eu confio. - Ele parecia tão vulnerável e sensível, que mal o reconheci. - Sei que nunca diria a verdade pra ninguém,e que ficaria do meu lado.

E também era a única garota que sabia sobre a adoção,óbvio.

  O plano,era falho, claramente. Quase incoerente demais e sem grande necessidade, aparentemente. Mas daria certo,Guilherme Sanches nunca namorou desde que chegou a cidade. Era visto com uma garota nova a cada dia,e os boatos do quão inalcançável ele era emocionalmente só se espalhavam. E até eu mesma nunca imaginei Guilherme namorando alguém, nem mesmo nas minhas fantasias apaixonadas mais impossíveis. Ele simplesmente não era esse tipo de pessoa, não era o tipo de garoto que se apega a algo por muito tempo, era simplesmente quem ele era. 

   Um namoro com uma garota desconhecida com quem ele trabalhava,geraria ainda mais alvoroço e fofocas. Esqueceriam de qualquer coisa fora disso por semanas, e quando o tal namoro acabasse, geraria mais uma temporada de confusão até que se lembrassem de algo de novo.

Eu não queria fazer isso.

Certo, talvez quisesse um pouco.

Quem eu queria enganar?

Namorar o Guilherme era o sonho de qualquer garota da cidade.

E mesmo que a ideia de ser literalmente usada, me magoasse muito, a ideia de deixa-lo ser massacrado por comentários maldosos e fofocas me incomodava mais. O que eu  poderia perder com aquilo afinal? Nada!. Ainda por cima, conseguiria chegar perto dele, poderia segurar a mão dele e poderia...

Poderia ser dele, mesmo que fosse falso, mesmo que fosse fingimento. Mesmo que acabasse um dia.

  Meus pés se moveram sozinhos,até que estivéssemos perto de novo,até que eu sentisse um resquício do hálito quente dele  no topo da minha cabeça. Meus pés se esticaram o mais alto que eu pude, para que eu pudesse fazer com que meus  braços se movessem até estar em torno do pescoço dele. Senti os ombros rijos pela surpresa do abraço repentino, mas em seguida, pude sentir os braços dele em torno de mim. Me envolvendo em um abraço.

- Eu te  ajudo Gui.

Assegurei, sentindo-o me apertar mais forte contra si.





Até que o verão acabeOnde histórias criam vida. Descubra agora