Capítulo 07

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 Quando o som estridente do despertador de mesa soou,eu já estava acordada. Meus olhos ardiam por estarem abertos a tempo demais e meu corpo experimentava um cansaço familiar. Mais uma noite sem conseguir dormir.

Sofria de insônia desde os meus onze anos de idade. Era raro que eu dormisse pelo menos três noites por semana. E não havia nada que pudesse fazer enquanto aquilo. Meu pai logo correu atrás dos melhores especialistas e medicamentos. Para depois de três consultas mensais chegarem a conclusão,de que era psicológico. Os medicamentos não estimulavam sono algum não importava a quantidade de dosagens. Apenas traziam efeitos colaterais, como falta de atenção e disposição, assim como alguns problemas ósseos. As altas dosagens de remédios na tentativa de sucesso,remédios  geralmente dado a adultos ,estavam começando a degradar os meus tecidos ósseos. Por isso resolveram suspender o tratamento teste e empacarem a pesquisa por hora.

Isso já fazia cinco anos.

E de vez enquanto ainda recebíamos convites de um  laboratório do outro lado do estado,para fazer alguns exames e acompanhar o andamento do trauma. Sim,se acordo com os especialistas a falta de sono era resultado de um trauma psicológico que ocorreu na infância enquanto eu dormia, ou algo do gênero.

Era ridículo,vergonhoso,e bobo.


O meu rosto parecia mediano em frente ao espelho do banheirinho apertado do café. As olheiras não estavam chamando tanta atenção, e o calor do dia tinha posto algum tipo de cor nas minhas bochechas. Já era uma  da tarde, o horário de pico do  café. E Guilherme e Melissa,nossos garçons,corriam de mesa em mesa como doidos. Anotando os pedidos e entregando os doces e bebidas geladas. Então minha rápida ida ao banheiro tinha de ser na velocidade da luz. Lavei as mão e passei um pouco de água no rosto. Antes de sair do banheiro e fechar a porta,correndo para trás do balcão novamente.

Meus olhos,assim como os de todas as pessoas naquele salão lotado,focaram em uma garota que adentrava a porta da frente. O sino acima da porta soou, e a figura de uma garota loira iluminou o local. Ela tinha uma pele cor de caramelo,olhos verdes como esmeraldas e sardas por todo o rosto. Usava uma regata de tecido leve verde,saia jeans ,sandálias de amarrar e o cabelo longo e  loiro claro em um coque frouxo perfeito. As feições eram suaves e decididas,como se ela soubesse exatamente o que estava fazendo.

Todo o salão permaneceu em um silêncio uníssono,enquanto ela se dirigia até o caixa.

- Bom dia! Posso ajudar?.

Perguntei. Com um sorriso sem graças nos lábios. Recebendo outro como resposta.

- Claro!,eu gostaria muito de algumas balinhas de caramelo. - Respondeu educada,ainda mantendo o sorriso. E apontando com o indicador para um dos vidrinhos de bala,onde estavam os cubinhos de caramelo que ela queria. - Podem ser cinco, por favor?

Assenti rápida enquanto enfiava minha mão dentro do vidrinho pela metade,pegando os cinco cubinhos de caramelo e os colocando dentro de um pequeno pacote de papel pardo. E o deixando em cima do balcão.

- Um real por favor.

- Aqui. - Ela entregou a moedinha. Suas unhas estavam perfeitamente pintadas de azul, e as mãos eram delicadas. - Muito obrigada!.

E assim que pegou seu pacotinho,me sorriu uma ultima vez,antes de sair pela porta com os mesmo passos calmos e fortes com os quais á adentrou antes.

Os meus olhos percorreram o salão, vendo as pessoas voltarem a comer ou a olhar para a tela de seus celulares. Fitei Guilherme, que ainda olhava para a porta, atônito. Como se a garota linda ainda estivesse ali. Típico. Mas senti um bolo pesado no estômago,algo tipo de raiva descabida. O tipo de sentimento amargo e estranho até então.

Ciúmes.

Os olhos dele encontraram os meus,e os meus miraram as minhas mão acima do balcão. Droga.

Os olhos dele eram azuis esverdeados,o nariz era reto e simétrico, assim como a boca média e bem desenhada. Sardas quase invisíveis cobriam o nariz e as bochechas. O cabelo ruivo  e liso se estendia até parte do seu pescoço. E  lhe caia perfeitamente  em movimentos sedosos sempre que ele balançava a cabeça enquanto anotava um pedido. Naquela tarde,ele tinha amarrado a parte de cima do cabelo em um coque pequeninho e desajeitado. Enquanto a maioria do cabelo ainda estava solto.

Ridículo de tão charmoso.

Mesquinho.

Mulherengo.

Eu o xingava mentalmente. Enquanto atendia o restante dos clientes e via o tempo passar até que rápido com tanta movimentação.  O restante das horas passou voando, e meu bom humor aumentava  a cada minuto. Sabendo que estaria sendo liberada mais cedo naquele dia. Quando o relógio mostrou dezessete horas em ponto, corri até a dispensa,onde Melissa estava.

-Mel,eu estou indo. - Falei eufórica. Vendo-a assentir sorrindo. - Tudo bem mesmo eu sair mais cedo hoje?.

- Claro meu bem!. Você merece depois  dessa correria toda. - Ela andou até mais perto, ainda sorrindo. - Bom descanso.

Assenti rápido correndo para sair dali o mais rápido que pude. Nem me dando a preocupação de trocar de roupa antes. E estava saindo pela porta dos fundos,quando vi a silhueta inconfundível e ruiva,apoiada na parede do corredor que levava a saída . De costas para mim,Guilherme estava com as duas mãos espalmadas na parede, com uma garota no meio delas. Ela estava encostada na parede,virada de frente para ele,na ponta dos pés para alcança-lo. Logo os braços cheios de pulseiras estavam em torno do pescoço dele,  e as mãos cheias de anéis se ocupando em brincar com os fios de cabelo  ruivos.

Por ele ser tão alto,meus olhos não conseguiram alcança-la,e eu não pude ver quem era ela.Todo o euforismo e  alegria murcharam um pouco. Mas não me permiti sentir mais do que aquilo,respirando fundo e em silêncio. Agarrando meu avental com as mãos,sabendo que não conseguiria passar pelos fundos com eles ali, ocupando o pequeno espaço do corredor escuro. E ir até lá cutuca-los e pedir para que saíssem seria  constrangedor demais, por isso me limitei a dar meio volta e sair pela porta da frente do salão.

Está tudo bem.






Até que o verão acabeOnde histórias criam vida. Descubra agora