Capítulo 18

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  Assim que retornamos para perto do pessoal, uma música lenta tocada por alguns rapazes se iniciava. As pessoas se juntavam em pares, para dançarem suavemente de acordo com o ritmo.

- O que é isso ?

Perguntei. Me aproximando de uma lixeira para de depositar o saco plástico.

- É "a dança " - A morena fez aspas com os dedos. - Dizem que o seu par no luau de inicio  do verão,  vai ser o seu par  romântico pelo resto do ano.

 De repente, antes que eu pudesse indagar mais a respeito, todas os olhares se viraram em uma só direção. Até os casais que dançavam abraçados perderam o ritmo para esticarem os pescoços e conseguirem ver melhor. Meu olhar seguiu o dos demais, até a direção onde Caroline o ruivinho estressado tinham ido. Aos poucos, ambos se aproximavam do centro da praia, onde as dança lenta acontecia. Eles tinham as mãos entrelaçadas, ele parecia estonteante, e ela parecia nervosa. Uma sensação de aperto atingiu meu estômago, um nó desconhecido se formando na minha garganta.

Eles estavam mesmo juntos.

Assim que chegaram ao redor da fogueira, onde  casais se distribuiriam perto da chama enorme e quente, Guilherme virou-a de frente pra si e colocou as mãos na cintura dela. Trouxe-a para mais perto de si, até estarem grudados, e começou a dançar lentamente com ela. Tudo naquilo me incomodou,e eu podia ouvir os sussurros das pessoas ao redor, cochichando a respeito do casal. Algum tipo de sentimento,com certeza fraternal, fazia com que eu sentisse a necessidade de arranca-la dos braços dele e tira-la dali. Já que ela parecia visivelmente nervosa, e desconfortável, provavelmente pelos olhares vidrados dela.

- Ei. - Ouvi Pamela cochichar em minha direção,fazendo um sinal para que abaixasse um pouco para escuta-la melhor. - O Lorenzo está me chamando. Você vai ficar bem aqui sozinho?

Assenti mecanicamente,meus olhos ainda vidrados nos dois. Em questão de segundos,Pamela conversava brevemente com um garoto alto de pele morena, cabelos cheios de cachos grandes  que caiam até as orelhas, e depois ambos se juntaram aos casais para dançar juntinhos.Ela parecia olhar para a coisa mais bela do mundo, os olhos pareciam brilhantes mesmo naquela distância, e o garoto mantinha as mãos respeitosamente nas costas dela.

- Quer dançar?

Uma voz melodiosa soou atrás de mim, e me virei para ver a quem pertencia.

- Oi?

 Indaguei confuso, me deparando com uma garota loira de pele bronzeada e olhos claros. Ela tinha cabelos meio ondulados e um sorriso descontraído no rosto.

- Nós somos os únicos sozinhos. - Ela riu com humor. - Podemos dançar se você quiser. Só pra não ficarmos sozinhos.

 Ela deu de ombros, esperando uma resposta minha.

- T-tudo bem. - Gaguejei. - Se você se sentir confortável.

Ela sorriu largo, um sorriso vazio de qualquer malícia ou flerte. Apenas parecia feliz de não estar mais sozinha. A garota me puxou para perto da fogueira,e colocou as minhas mãos em suas costas, para depois colocar os braços ao redor do meu pescoço. Ela não era tão baixa quanto Caroline e Pamela, e parecia ter apenas dez centímetros a menos que eu.

- Eu sou a Nia. - Assegurou ela. Mantendo uma distância confortável entre nossos rostos. - Me mudei pra cá faz duas semanas.

- E-eu não moro aqui. - Por que eu continuava gaguejando? - Sou o Miguel.

Balançávamos o corpo lentamente junto da música, e não tive coragem de procurar Caroline com os olhos de novo, mesmo que quisesse muito. Afinal, o que eu estava esperando? Conheço aquela garota a dois dias,e me senti amargurado de repente, um constrangimento interno por em algum momento ter pensado tentar algo. Eu nunca havia tido uma namorada, e não seria em um cidade longe de casa que isso aconteceria,muito menos com alguém que eu mal conhecia. Senti meu rosto arder de constrangimento, de vergonha por ter achado ela tão bonita, ou o vestido azul tão perfeito nela. Mesmo enquanto dançava com outra garota,não conseguia parar de pensar no vestido azul dela, ou nos fios castanhos e ondulados. 

Meus olhos nem estavam nos da garota a minha frente, eles olhavam por cima dos ombros bronzeados, para o fogo brilhante que lavrava a fogueira. As chamas claras se mexiam constantemente,e tons de amarelo, azul, laranja e vermelho me distraiam.

- Você não é muito de papo né? - Perguntou ela,com uma voz cuidadosamente delicada e educada. - Desculpe se te constrangi, eu estou perto demais?

 Meus olhos encontraram as íris claras e esverdeadas. Me apressei em balançar a cabeça negativamente, sorrindo um pouco.

-Não é isso. Você não me constrangeu e foi muito educada. - Suspirei. - Eu só estou com a cabeça em outro lugar. Me desculpe não ter te convidado antes, se tivesse te visto teria pedido. Não é educado deixar uma moça sozinha em uma dança.

Ela gargalhou baixinho.

- Não esquenta! - Ela balançou a cabeça descontraidamente. - É muito legal da sua parte dizer isso.

 Meus olhos tentaram observa-la um pouco mais. A pele era cor de caramelo e os olhos contrastavam perfeitamente com aquele tom. Tinha algumas sardas espalhadas pelo rosto e não usava nenhuma maquiagem. O cabelo era mediano e estava totalmente solto, por mais claros que os fios eram, era aparente que aquele tom era natural. Ela era uma garota muito bonita. E até alguns olhares masculinos ainda estavam nela,mesmo quando os citados estavam dançando com outras meninas.

- Por que ninguém te convidou? - Perguntei. - Tem uma porção de rapazes que não tiram os olhos de você.

Ela deu de ombros.

- Não quis dançar com nenhum deles. Não pareciam confiáveis, e não me deixavam  confortável.

- E eu sou confiável?

Ri contido.

- Você me pareceu muito calmo. - Ela riu. - E meio deslocado também. Eu percebi que era diferente logo de cara.

Franzi o cenho. Ainda meio confuso, tentando raciocinar o que tinha de tão diferente afinal.

- E você? Por que não convidou ninguém?

Perguntou a garota.

- Eu não conheço muita gente aqui. - Desviei o olhar do seu. - E a garota com quem eu queria dançar está com outro.

- vish!, qual delas é? - Indagou ela, olhando de fininho para todas as garotas com seus devidos pares. - Quem sabe eu conheça.

- É a garota de vestido azul e cabelo castanho. - Senti um vazio no estômago outra vez. - Que está dançando com o garoto ruivo.

 Pude ver a surpresa nos olhos dela assim que conseguiram encontrar o casal citado.

- A garota que está justo com o Sanches?

- O que ele tem de tão bonito afinal?  - Perguntei, olhando nos olhos dela. A voz mais grave que o normal, e o nó de raiva em minha garganta duplicando de tamanho. - Eu realmente preciso saber.

Ela pareceu meio séria,pela primeira vez desde que a conheci.

- Ele é muito bonito sim. Mas não é isso que atrai as meninas. - Ela deu de ombros. - É a maneira como ele age. É confiante e vai direto ao ponto, isso o torna atraente.

- Ou talvez ele seja só um garanhão egocêntrico.

Assegurei em resposta, vendo-a sorrir um pouco.

- Pode ser isso também.

Até que o verão acabeOnde histórias criam vida. Descubra agora