Havia escurecido, eu e Miguel conversamos e comemos biscoitos até que a noite ficasse intensa, e o clima, frio demais.
- Muito obrigado por ter me levado até lá.
O garoto agradeceu sem jeito, os cachos escuros balançando suavemente por conta da ventania. As mãos se ocupando em tirar a minha mochila das costas, e estende-la para mim logo em seguida.
- De nada. - Sorri gentil. - Obrigada por embarcado nessa, e por ter carregado a mochila,
Coloquei a mesma nas costas novamente, olhando em direção a porta de entrada de casa.
- Quer entrar pra jantar Miguel?
Questionei de súbito, me recordando do que meu pai havia falado mais cedo.
- Na verdade, preciso ir para a pousada. - Os olhos escuros vidraram os meus. - Preciso passar mais tempo com a minha mãe, perguntar sobre o meu pai e seila...
As íris escuras perderam um pouco do brilho habitual. O rosto bonito inexpressivo de repente.
- Seu pai?
Perguntei em tom baixo, enquanto cruzava os braços em ansiedade.
- Ele não chegou ainda. - Miguel também cruzou os braços, o que lhe dava um ar mais severo de certa forma. Pela dureza que sua expressão transmitia,e pelo maxilar definido que estava rijo demais de repente. - Disse que iria ficar mais algum tempo em São Paulo, mas que logo viria pra nossa viagem em... família.
- Você está preocupado, não é?
- Talvez, não sei exatamente com o que.
Os olhos lindos deixaram os meus.
- Acha que algo ruim pode ter acontecido?
- Não sei, mas algo dentro de mim diz que não. - Ele deu de ombros. - Sinceramente,acho que ele desistiu de vir ou algo do tipo.
- Por que ele faria isso?
- Ele não gosta da nossa companhia, o que mais poderia ser? Está muito mais interessado no próprio trabalho ou na secretária.
Droga.
- Miguel...
- Tudo bem. - Interrompeu ele, antes que eu pudesse prosseguir. - Não me olha assim.
Forcei minhas pernas a caminhar até mais perto do moreno, receosa pela reação que aquilo poderia desencadear. O coração batendo surpreendentemente rápido, as mãos soando tensas.
Isso é tão inapropriado.
Mais um passo largo na direção dele.
Ele vai me achar maluca.
Os olhos dele correram em direção aos meus, as sobrancelhas grossas se franzindo levemente.
Me estabeleci a alguns centímetros dele,firmando meus pés no gramado do jardim. Para me certificar que não pudesse recuar aquele ponto. Minha respiração se dificultou, meus pulmões se contraindo de forma pesada.
Ele está tão perto.
- Carol, o que você...
Estendi meus braços em direção ao pescoço exposto pela camisa comum,colando nossos corpos em um abraço forte. Apertando-o contra mim mesma, afundando meu rosto no seu peito como pude. Ouvi meus batimentos ao pé do ouvido se mesclando com os dele, que repercutiam forte em seu peito. Meus ouvidos estavam tão perto de sua caixa toráxica, que as frenéticas batidas soavam claras para mim, de um jeito surpreendentemente reconfortante.
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Até que o verão acabe
RomansCaroline trabalhava em um café a beira mar, nativa daquela cidadezinha pequena, a garota não se destacava muito em meio a multidão que enchia a cidade naquele verão. Miguel era apenas mais um turista que visitava as ruas movimentadas,mas o destino d...