As ondas de Waikiki

La apuesta

Loli estava tão concentrada em seus afazeres que demorou a perceber que batiam em sua porta. Ao ver a pasta de Rafael em cima de sua mesa logo imaginou que o homem tinha voltado para buscá-la.

— Pode entrar, senhor Contreras. Percebi que esqueceu a sua pasta. — a produtora disse sem desviar atenção do que fazia.

— Perdon, mas eu não sou o senhor Contreras. — o homem falou entrando na sala mesmo que a permissão não fosse dirigida a ele.

Assim que escutou a voz familiar falando com ela, Loli sentiu sua espinha inteira arrepiar. Não era possível que aquilo estava acontecendo. A produtora não conseguia acreditar que ele tinha tido a audácia em procurá-la justamente ali depois de tudo o que fez.

No entanto, assim que seus olhares se cruzaram a produtora reparou no olhar de soberba que seu ex-noivo a encarava. Nunca tinha reparado naquele detalhe em todos os anos de relacionamento, entretanto pela primeira vez enxergou como ele era. Sem máscaras. Sem idealizações. E o que ela viu foi o que Salvador Bravo sempre foi: um apresentador prepotente.

— O que você está fazendo aqui? — Loli perguntou com cara de poucos amigos.

— Nós precisamos conversar. — Salvador disse.

— Diga isso por você. — a produtora comentou rispidamente. — Porque eu não tenho nada para conversar com você. Será que pode sair da minha sala?

— Acho que nós merecemos essa última conversa que não chegamos a ter. — o apresentador propôs. — Você me deve isso.

— Eu te devo? Isso é o cúmulo da falta de caráter. — Loli falou de forma debochada. — Você é a última pessoa do mundo que pode se achar no direito de vir aqui e exigir qualquer coisa de mim. O que tivemos acabou e está enterrado para mim. Agora pode ir procurando o seu rumo que estou atolada de trabalho.

— Tinha que ser o trabalho. Como sempre sendo workaholic. — Salvador desdenhou. — Isso é cansativo, sabia?

— Cansativo para quem? — a produtora questionou. — Só se for para você que sempre conseguiu tudo de mãos beijadas sempre escorado na carreira de seu pai.

— Não venha enfiar o meu pai nesse assunto. — o apresentador esbravejou.

— Não foi você que veio enfiar o meu trabalho na conversa? Sendo que uma coisa não tem nada a ver com a outra. — Loli disse aumentando o tom de voz. — Quer saber de uma coisa? Não retiro nada do que disse afinal só te disse a verdade. Você sempre pegou carona na carreira de seu pai. Tudo de mão beijada é mais fácil, não é? Tanto que pessoas como você não tem capacidade de reconhecer que nem todas as pessoas do mundo tiveram as mesmas oportunidades. Vamos encerrar essa conversa por aqui que não quero mais perder o meu tempo com você.

— Eu só saio daqui quando conversarmos sobre a sua gravidez. — Salvador falou. — Precisamos esclarecer esse assunto de uma vez por todas.

— Eu não tenho nada para conversar com você. — a produtora disse. — E muito menos preciso esclarecer nada sobre a minha gravidez que não diz respeito nenhum a você.

— Vim para averiguar todas as possibilidades. — o apresentador comentou. — E eu não sairei daqui até ter uma resposta sobre isso.

— Estas loco. — Loli disse ficando mais exaltada ainda com o rumo que aquela conversa estava tomando. — Isso é um absurdo...

Loli foi interrompida assim que ia rebater o que Salvador disse, pois escutou batidas em sua porta. Antes de responder a produtora tentou respirar fundo para se recompor. Se lembrou do que a sua obstetra disse em sua última consulta e percebeu que toda aquela agitação não faria bem ao bebê. As batidas na porta continuaram e a mulher deu permissão para que entrassem. Ao ver Rafael entrar no local no mesmo instante sentiu um alívio percorrer o seu corpo e não conseguiu entender o porquê de se sentir assim com a presença do homem.