ℋ𝑒𝒶𝓇𝓉𝒷𝑒𝒶𝓉

23. Novo dia

Wuxian se via como um adulto no corpo de um adolescente. Com seus quase 36 anos de caminhada e muitas histórias para contar, o homem sempre viveu um dia de cada vez, esperando o melhor de tudo e de todos. O que era completamente diferente de Wangji, que acumulava rotina centrada, concentração em todas as áreas da vida e tendo todos e qualquer imprevisto detalhado na mente nesses 37 anos de jornada.

Wangji sempre gostou de silêncio e organização, e esse traço em sua personalidade não era difícil de perceber. Já Wuxian gostava de barulho e bagunça, o que era completamente notório e conhecido por todos.

Entretanto, desde que o Wei fora morar com o Lan, os propósitos e ensinamentos de ambos se misturaram um pouco.
Não importava o quão alto a música ecoava pelo andar de baixo ou o quão alto era o barulho dos passos ecoando na casa silenciosa, os dois adultos estavam feliz e em paz, aproveitando cada minuto.

Tudo, obviamente, não era um mar de rosas ou a maior perfeição do mundo. Eles tinham suas próprias diferenças, costumes e gostos. Porém, sempre sentavam e resolviam esses atritos.

Yuan constantemente se via rindo das discussões alheias, seja por botar muita pimenta na comida, trapacear no jogo de xadrez ou até mesmo decidir se o Snape era mesmo um vilão ou não na saga. Mas as brigas sempre acabavam com Wuxian rindo auditivamente e beijando os lábios do outro, que desviada o rosto sentindo suas orelhas queimarem em vergonha.

Não era novidade para ninguém que o relacionamento não-oficial já estava oficializado, apenas precisava de um pedido formal. Há alguns dias, Jiang Cheng e Yanli ficaram por horas no celular aconselhando o irmão do meio a tomar alguma atitude em relação ao assunto, enquanto Zixuan zoava o cunhado de todos os nomes covardes possíveis.

Wuxian também conversou com Yuan. O adolescente sorriu compreensivo escutando o pai lhe dar mil e uma satisfação da vida amorosa e perguntando o que ele pensava sobre a situação. E Yuan, claro, montou um monótono de mais ou menos trinta minutos falando o quão a favor do namoro/noivado/casamento ele era.

Por outro lado, Wangji conversava diariamente com seu tio, irmão, cunhado e melhor amigo sobre a surpresa que estava preparando para o homem a algumas semanas.

Aliás, por falar no Lan mais velho, Qiren experimentou pela primeira -e provavelmente não última- vez o que era ter um desvio de qi quando conheceu o patriarca da família Wei.

No começo, o senso de humor e carisma cativaram o mais velho, além da educação e simpatia de seu filho. Mas Wuxian não conseguia manter a pose por muito tempo, então, sua personalidade brincalhona logo saiu da caixa e fora atormentar o pobre senhor de idade.

Qiren jurou nunca ter conhecido uma alma tão energética e cheia de vida desde que seu neto faleceu. Era uma sensação engraçada e estressante ter o homem falando baboseira e o chamando de 'coroa' o tempo todo, entretanto, aquilo estranhamente deixava seu sobrinho sorrindo igual bobo.

Sendo assim, expulsou os três de casa com a promessa de só ver o moleque que seu filho estava namorando novamente no altar. Sua cabeça não aguentava tanta barulheira e risada alta.

Naquele dia, Wangji fez o caminho para casa com um sorriso de orelha a orelha, pois ele sabia que seu tio havia adorado a companhia do outro e estava muito feliz por eles.

Porém, alguns males da vida aparecem em momentos inoportunos. Em uma madrugada qualquer, Wangji acordou com barulho de tosse alta vinda do banheiro de seu quarto. Por ter acordado no susto, seu cérebro demorou a funcionar e entender o que estava acontecendo.

Desde que confessou seus sentimentos a Wuxian e fora correspondido, uma pequena mudança de território aconteceu, e o outro passou a ficar mais em seu quarto do que no próprio.

Wangji levantou rapidamente e correu até o cômodo, encontrando o corpo pálido sentado no chão. Seus olhos estavam vermelhos de tanta força que seu estômago fazia para expulsar alimentos e medicamentos. A pele normalmente quente e convidativa estava fria e úmida, com suor pingando de seu testa.

Wuxian estava tendo um princípio de infarto.

Mingjue tinha plantão naquela madrugada, então estranhou quando o número de seu cunhado apitou em seu celular. Após desvendar as palavras desesperadas e ofegantes do homem, mandou o mais rápido que pôde uma ambulância até o local. Yuan acordou as pressas com barulho de sirene e vozes pelos corredores, sentindo que algo estava errado assim que Wangji apareceu em seu quarto apático e sem cor, como um cadáver vivo.

Felizmente, depois de algumas horas, Wuxian já encontrava-se bem e aparentemente fora de risco, mas continuava internado para avaliações.
Mingjue até tentou achar maneiras menos arriscadas para tratar o paciente, entretanto, só lhe restava uma única saída enquanto a saúde do outro ainda estava estável.

Um transplante de coração.

- "Lan Zhan... Vá para casa. Já estou nesse hospital a dois dias e você continua aqui."

- "Wei Ying não quer que eu fiquei?"

- "Claro que quero, amorzinho! Mas você precisa descansar, tomar um banho relaxante, comer direito... Eu não quero que fique doente também."

Wangji, que estava sentado na poltrona ao lado da cama, deitou sua cabeça na barriga do homem, sentindo os dedos longos e presos em aparelhos acariciar seu cabelo.

- "Eu não vou ficar sozinho, A-Xuan e A-Cheng iram ficar comigo essa noite. Vá para casa e fique com A-Yuan."

Wuxian apertou e acariciou as bochechas pretuberantes do outro, sorrindo terno enquanto olhava o rosto do homem que tanto fazia seu mundo colorido.

- "Wei Ying nunca chama eles assim."

- "Chamar eles assim às vezes não mata ninguém. É até fofo! Que foi? Quer um apelido também?"

Wangji sabia que aquelas provocações eram apenas fachadas para não preocupa-lo.

- "Gosto quando Wei Ying me chama pelo nome."

- "Lan Zhan é um nome bonito para um homem mais bonito ainda!"

Trouxe o rosto alheio para mais perto e beijou a ponta do nariz rechonchudo e gelado. Wangji sorriu, o beijando na testa e logo após lhe dando um selinho.

Caminhou até o grande e um pouco duro sofá que tinha no quarto e acordou delicadamente a bolinha pequena e enrolada que dormia serenamente. Yuan não queria ir embora e muito menos sair de perto do pai, mas fora convencido pelos dois adultos, que sempre repetiam 'Amanhã é um novo dia'.

E sua única esperança estava presa naquela frase.

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faz um tempinho que não apareço por aqui para falar algo kakakaka!

bom, a história está chegando em sua reta final e eu não tenho nenhuma estrutura para dar o famoso 'adeus'...
mas histórias são assim, elas começam, se desenvolvem e acabam...

provavelmente só irei atualizar dps do dia 25, então um feliz natal para todos vcs! curtam bastante e comam muito! ❤