CAPÍTULO 23

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(Alex)

- Está tudo bem, pai? – eu pergunto após ver ele ficar encarando Caio por mais de um minuto.

- E-está. – ele me responde e finalmente me olha com sua cara surpresa – Como soube do Heitor?

- É uma história que rola na empresa, você sabe. – falo para não expor meu namorado, mesmo que na empresa já ouvi muito dessa historia também. O vejo acenar que sim pra mim e voltar seu olhar para o Caio novamente – O Caio também me contou uma parte da história.

- Foi. – Caio continua monossilábico desde que meu pai chegou e ainda vejo muita raiva no olhar dele, coisa que antigamente era direcionada a mim.

- Eu... Eu sinto muito pelo que aconteceu com seu pai, Caio. – meu pai começa e vejo que ele não tem jeito nenhum em se desculpar, ou mesmo mostrar que sente muito. Deve ser falta de costume – Eu nunca imaginei que o fato dele ser demitido de forma injusta, como eu fiz, provocaria tanto mal a ele.

- E também o fato dele não ter achado fácil emprego, mesmo sendo um ótimo Arquiteto, certo? Só coincidência mesmo. – Caio questiona ao meu pai, que apenas abaixa a cabeça.

- É realmente muita decepção. – eu digo e vejo o olhar triste do meu pai para mim – Não foi novidade para mim que você faria uma coisa dessas, pai. Só as consequências que...

- Eu nunca imaginaria que as coisas iriam para esse rumo! – meu pai se defende e vejo angustia em sua voz, assim como em seu olhar – Se eu imaginasse que o Heitor ficaria tão mal a ponto de voltar para as drogas enquanto fazia o tratamento, eu teria o readmitido.

- Mas não tinha como saber. – Caio fala, dando um passo a frente e encarando meu pai com muita raiva – Mas tinha como o senhor ser mais humano, não um burocrata que se acha cheio de poder e que pode mexer com a vida de qualquer pessoa sem que haja consequências. – ele sorri de canto e o olha com desdém – Você é só uma criança mimada, um adulto que esqueceu de crescer e ter compaixão pelo próximo.

Caio solta tudo que parecia estar entalado em seu peito a tanto tempo e meu pai apenas fica parado, ouvindo tudo, quieto.

Se fosse em outra ocasião, o senhor Jonathan Reymond já teria expulsado qualquer um que levantasse a voz para ele em sua própria casa. Mas não, ele apenas fica parado, estático, ouvindo cada palavra vinda do filho do homem que ele prejudicou.

É visível sua culpa, mas também é visível que ele precisa ouvir isso da boca do Caio, como ele também precisa desabafar tudo ao homem que machucou seu pai.

Era por isso que, depois que descobri tudo pelo Caio e saber da conversa dele com o Nicholas, não comentei nada com meu pai, apenas esperei o momento certo para colocar um na frente do outro.

E esse é o resultado.

Meu pai pela primeira vez em muito tempo, desarmado, ouvindo alguém que ele machucou. Finalmente tendo que enfrentar o resultado de suas ações egoístas, provindas de, como o Caio falou, falta de compaixão pelo próximo.

- Eu... Eu realmente sinto muito. – meu pai repete novamente com o olhar baixo – Eu realmente já fiz muitas coisas ruins durante a minha vida e machuquei muitas pessoas. – e nisso ele olha para mim e segue ao Caio – Eu vou levar esses sentimentos de culpa pelo resto da minha vida.

E no fim eu nunca pensei que essa conversa também se voltaria a mim, pois vejo que, além do Heitor, meu pai também está falando do que fez comigo.

- É o mínimo que deve fazer. – Caio diz, ainda sem tirar a raiva de seu olhar e tom de voz.

- Chegamos! – ouço o grito da porta e vejo Vinicius entrando em casa sendo seguido por Matheus – Porque a porta está aberta? – meu irmão indaga assim que entra e olha para todos nós em seguida – E que climão é esse aqui?

Eu Só Quero Ser Seu - LIVRO IIOnde histórias criam vida. Descubra agora