CAPÍTULO 29

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(Nick)
- Só mais um minutinho, senhor. – um dos porteiros fala novamente enquanto me vê impaciente no carro, esperando a barra elétrica subir.
- Essa barra estava dando defeito antes, falamos com o sindico e ele não fez nada! – reclama outro funcionário.
- Você sabe que eu sou o síndico, não sabe? – o mais velho fala para o cara que deve ser novato, pois nunca o vi lá, mas antes de receber qualquer pedido de desculpas se vira para mim – Desculpe mesmo, senhor Nicholas. Vamos resolver isso o mais rápido que podemos.
- Tudo bem, sem problemas. – e vendo sua expressão, que parece muito de medo, imagino que já que ele é o tal que tinha que avisar ao Jonathan a hora que o Alex chegasse. O Alex... – Eu deveria ter vindo andando...
- Desculpe, mesmo. – o novato fala para mim – Nunca aconteceu dessa forma antes.
- Eu sei, tudo bem. – o mesmo me encara como que não acreditando que eu esteja legal com isso – É que eu estou meio nervoso, pois tenho algo importante a fazer lá dentro. Eu tenho que me desculpar com alguém, por um erro terrível.
E bota terrível nisso.
Quem esquece o próprio primeiro ano de aniversário de namoro?!
- Entendo. – diz o cara, que não parece ser muito mais velho que eu, e volta a mexer nos controles junto com os outros dois que parecem estar muito perdidos.
Vendo que demoraria de sair dali, assim como os outros dois carros atrás de mim, penso em como esse cara que diz que entendeu, não tem como me entender.
Eu mesmo não entendo como eu esqueci...
Não. Na verdade, eu lembro sim e os culpo por isso.
Jonathan e Guilherme.
O fato dos dois terem interceptado a mim e o Caio, falando que não contariam nada e ainda por cima ameaçaram meu amigo, coisa que eu me senti ameaçado também, me desestabilizou.
Desestabilizou nós dois. O Caio com raiva e decepção e eu... Eu apenas fiquei em estado de choque.
Fiquei assim todo o jantar na casa dos Reymond, já que o Jonathan me fez ficar, e mesmo quando eu disse que estava bem cansado e fui dormir primeiro.
Dormir... Eu nem se quer preguei o olho até o Alex chegar e me abraçar.
Seu calor me fez esquecer os problemas, mas não o fato de que teria que fugir deles, pois naquela casa eu não conseguiria pensar direito sobre o que fazer. Foi por isso que logo que acordei eu fiz o que tinha pensado quando o Alex tinha me falado para dormir aqui.
Eu levantei da cama com muito cuidado, beijei meu amor com muito carinho e muito zelo, já que ele ainda estava dormindo e parecia em paz assim. Logo em seguida coloquei minha calça e troquei de camisa, tirando a de dormir que já tenho guardado lá e colocando a que vim.
Saí do quarto e depois disso só me apressei pelas escadas com o intuito de ir para a saída em seguida.
- Nick? – ouvi assim que tinha saído da escada e estava me virando para ir para a entrada da casa.
E me virei de volta e vi os dois, que pareciam estar indo para a cozinha quando eu estava em minha pressa descendo, e não os percebi antes.
- Marcela, Vinicius. O que fazem acordados essa hora? – os questionei para tirar o foco de mim – Deviam estar dormindo.
- Você também, ô espertalhão! – Vinicius falou de um jeito que me pareceu muito coisa que sua irmã faria e ri de leve com isso, mas em seguida me senti culpado por ter rido.
Parece que quando você está com um peso em seus ombros, como todo esse segredo sobre o Alex está fazendo em mim, sem mesmo ele saber, faz você perder a vontade de rir.
E faz se sentir culpado por ter rido.
- O Liam vai vir daqui a pouco, por isso acordei cedo. – Marcela se explica – O Vinicius vai jogar com o Matheus e o Nic...
- Nicolas! – ouvimos a voz de Matheus logo após o estrondo que a porta da frente fez quando o seu irmão mais novo entrou correndo, atrapalhando Marcela de falar.
- Nicholas! – o garoto me gritou e logo me agarrou na cintura.
Parece até que ele cresceu um pouco da ultima vez que o vi.
Mas só reparei nisso agora que estou revendo a cena em minha cabeça, pois na hora só pensei como aquilo poderia ter acordado alguém lá de cima e tinha que sair dali o mais rápido possível.
- Oi. Eu tenho que ir. Tchau! – falei rapidamente já desgrudando o Nicolas de mim e indo correndo para a porta, que ficou aberta.
Eu fui bem rude, mas eu estava com tanta pressa para fugir da casa que nem me toquei disso.
- Nick! – Marcela me gritou, mas já tinha passado pela porta.
Só que com impulso que eu saí quase dei de cara com o Liam, que estava chegando.
- Opa! – ele brincou colocando as mãos na frente do corpo e riu, mas eu continuei sério – Tudo bem, Nick?
- Eu... Eu vou ter que ir. – foi tudo o que eu disse saindo em disparada, literalmente fugindo da casa dos Reymond.
Na verdade, eu estava fugindo de tudo e todos.
Fugindo da verdade inegável, que não é quem é ou não o pai do Alex, e sim que eu não tenho poder nenhum para contar tudo ao meu amor ou fazer os responsáveis o fazerem.
Eu sou mesmo um covarde.
- Pronto, senhor. – o novato da portaria fala e a barra protetora se levanta, no que eu volto para o presente, onde vou tentar resolver a burrada que eu fiz.
- Obrigado. Tenham um bom dia. – eu digo enquanto movo o carro do meu tio para dentro do condomínio. Já chega de ser rude com todo mundo.
Já dentro do condomínio dou uma acelerada até o limite máximo permito aqui, mas é rápido o suficiente para eu chegar na praça do local sem muita demora.
Mal chego e bato o olho em algo que me surpreende positivamente.
Pela primeira vez um casal gay, que não sou eu e o Alex, passeando na praça.
Os rapazes estão de mãos dadas, andando pelo parque, não se importando com os olhares dos outros.
O Alex e eu deveríamos estar assim agora e não eu correndo para tentar concertar meu erro. Paro o carro e fico encarando o casal de longe.
- Eu sou um imbecil. – e foi isso que eu fiquei imaginando o tempo todo depois que acordei na minha cama.
Quando eu tinha chegado em casa, nem mesmo minha mãe ou meu tio tinham acordado, e eu fui direto para meu quarto, me joguei na minha cama e peguei no sono.
Mas enquanto não dormia de vez me sentia muito mal, só que não imaginava o motivo, pois apenas tinha na minha cabeça o fato de que a verdade continuaria longe do Alex. Logo depois adormeci, vencido pelo cansaço dos meus olhos.
Assim que acordei eu me sentei na minha cama, com meu cabelo desarrumado e fiquei encarando o colchão que estava em cima há pouco, coberto pela fronha azul que eu acho linda.
Só que dessa vez não achei nada lindo, pois segundos depois comecei a socar o colchão com força, com raiva...
Com real desespero.
Só percebi que esses sentimentos me invadiram quando estava cansado de tanto bater no local e como essa confusão que me meti, não importou o que eu fiz, nada mudou.
- Nada mudou. – eu sussurrei para mim mesmo – Eu sou um imbecil. Como se eu se quer pudesse pensar que poderia superar aqueles dois...
Mas não continuei me sentindo mal, pois pensei no Caio e em como eu não estava sozinho nisso. E de fato esse sentimento de estar sozinho era o que me impedia de fazer algo a respeito e ele mudou isso.
E mesmo naquela hora com tudo tendo dado errado eu vi que se eu estava acabado, o Caio também estava.
Então eu me levantei, me arrumei e logo desci para o café, pra ficar forte para visitar o Caio, pois tinha certeza de que juntos poderíamos pensar em algo.
Eu entrei na cozinha e fui para o balcão da pia sem cumprimentar ninguém que estava na mesa. Bem rude mesmo.
Acho que me segurei tanto ontem a noite que, quando acordei na casa dos Reymond ou mesmo na cozinha da minha casa, eu tinha resolvido inconscientemente não ser nada legal com quem encontrasse.
Eu estava e estou cheio de coisas na minha cabeça para tentar ser legal, então eu me foquei em apenas ficar calado.
- Bom dia, família! – meu tio Kleber tentou me animar assim que me viu entrar e percebeu que estava tão desanimado que nem os cumprimentei.
- Quando não cumprimenta, ou está estressado ou de TPM. – eu virei para trás para brigar com meu tio para apenas perceber que quem falou isso foi minha mãe, que riu de leve e voltou a beber seu café.
- Noite ruim? – meu tio perguntou parecendo curioso.
- Vida ruim. – respondi apenas e me voltei para mexer nas fatias de pão, mas logo fui abrir a geladeira para pegar o leite.
- Encontro ruim? – minha mãe me questionou.
- Encontro? – eu perguntei tirando minha cabeça da geladeira e os encarando – Que encontro? Eu só fui jantar com os Reymonds e dormi lá.
- Mas sua mãe quis dizer de hoje. – meu tio Kleber pontuou e eu fiz cara de confuso, pois era assim que estava – É que... Você ficou tantos dias falando e planejando sobre hoje, que a gente achou que o fato de estar aqui significasse que algo deu errado. – e nisso eu senti aquela pontada e aquele mesmo sentimento ruim de antes de dormir voltou, e comecei a perceber tudo – hoje não é dia 24? Não é hoje que é...
- O primeiro aniversário de namoro meu e do Alex! – eu disse agitado e fechei a porta da geladeira com força.
- Nicholas, não me diga que... – minha mãe parou ao ver minha expressão.
- Eu esqueci! – gritei enquanto ia correndo para a entrada de casa.
- Você esqueceu o aniversário de um ano de namoro de vocês, moleque?! – meu tio Kleber falou gritando enquanto me seguia e eu fiquei indo de um lado a outro na sala para pensar no que fazer – O PRIMEIRO ANO DE VOCÊS!
- EU SEI! – gritei de volta, mas então tentei me acalmar – É que eu tinha tanto o que pensar ontem... Ah, o Alex não vai me perdoar! – eu falei muito desesperado.
- Vai falar com ele. – minha mãe disse me segurando pelo ombro para me parar – Faça algo!
- Certo. Certo. – eu repeti para mim mesmo e tive uma ideia. Nisso eu saí de perto deles e comecei a subir as escadas – Eu tenho que colocar em pratica minha ideia. Preciso de seu carro, tio. Mãe, vou pegar suas cestas.
Nisso eu fui rapidamente ao meu quarto, peguei o meu presente para o Alex, ajeitei meu cabelo no espelho, troquei de roupa e voltei correndo para baixo.
- Já está tudo dentro do carro, filho. Tudo o que tínhamos preparado. – minha mãe falou enquanto eu desci de volta as escadas e eu aceno com a cabeça, agradecido.
- Toma! – meu tio Kleber jogou a chave para mim quando voltei, assim que pisei no térreo.
- Valeu. – agradeci já abrindo a porta de casa.
- Boa Sorte! – os dois gritaram para mim enquanto eu os deixava na porta de casa, indo para o carro.
- E eu preciso de sorte mesmo. – digo para mim mesmo agora, que estou na frente da casa dos Reymond.
Olho a casa que está assustadoramente silenciosa e penso se o Alex está com muita raiva de mim.
Que ingênuo, é claro que está.
Respiro fundo e saio do carro.
Logo que ouço o apito do carro tendo o alarme ligado eu me viro e começo a andar lentamente em direção a porta da casa.
Subo os degraus que leva a até a entrada de fato e fico olhando a madeira da larga e alta porta, pensando como não queria ter feito besteira.
Mas não tenho o que fazer. Agora é encarar as consequências.
Eu vou para a campainha para tocá-la, mas quando meus dedos iam tocar a tomada sinto a madeira se mover e sumir da minha frente, me fazendo retrair na hora. Encaro quem me atendeu.
Olhando a garota na minha frente eu tenho a certeza de que me retrairia de qualquer jeito, mas nesse caso de medo.
- Sério mesmo, Nicholas Valentin?! – Marcela gritou comigo, me chamando pelo nome completo. Mal sinal. – Eu juro que vou te esganar... – e a vejo ser segurada pelos ombros para não ir pra cima de mim.
- Não! Não vai. – Liam aparece falando enquanto faz uma massagem em seus ombros. Segundos se passam e quando vê Marcela, que está respirando pesado, se acalmar um pouco ele me encara – Entra. – e tanto seu olhar como sua voz mostra que não estou com uma boa reputação com ele também.
Os dois com um olhar muito sério para mim me dão espaço e assim que entro, vejo mais um olhar em minha direção, tão bravo quanto os deles.
- Vacilou, Nicholas. – Vinicius briga quando passo por ele e o Matheus, que está o segurando pelo braço.
Acho que todo mundo quer bater em mim.
- Eu sei. – digo assim que pego no corrimão da grande escada da mansão e olho para cima, temeroso – Quão mal estou com o Alex?
- Tente umas 100 vezes do que eu estou! – Marcela grita e eu vejo que estou ferrado.
Bufo de estresse.
- Não é tão ruim quanto aparenta. – Liam fala parecendo tentar ser amigável, mas todos nós o olhamos em descrença – O quê? Eu estou só tentando ser positivo! – ele diz olhando de Marcela a nós, perto da escada.
- Eu sei que o que me espera lá em cima eu mereço. – digo e depois dou um suspiro profundo para me preparar.
E em seguida começo a subir as escadas.
- Boa sorte. – Vinicius diz e eu aceno feliz por ainda ter seu apoio.
- Os nossos pais saíram e demos uma desculpa pela falta do Alex. Seja rápido, pois eles vão voltar e vão questionar se ainda verem meu irmão trancado no quarto. – Marcela fala e eu aceno a cabeça, subindo mais rápido para o segundo andar da mansão.
- Mas o Alex não está trancado. – ouço a voz do Vinicius assim que chego ao último degrau.
- Ele está pior. – a voz do Liam é a última que ouço antes de me virar pelo corredor.
Percebendo que algo está muito errado graças ao melhor amigo do meu amor e eu saio em disparada pelo cumprido corredor, indo em direção ao quarto dele.
Eu paro bruscamente e todo ofegante em frente ao quarto e na hora me surpreendo. Ele realmente não está trancado no quarto, como o Vinicius disse.
A porta está aberta.
E o Alex está me encarando com o olhar mais vazio que já vi nele.
Seu olhar dura só alguns segundos e depois ele piscando varias vezes, pelo que eu imagino para não chorar, volta com o olhar para o chão a frente da cama, onde ele está sentado. Sua coluna toda inclinada, seus cotovelos sobre suas pernas e sua pesada respiração que eu percebo daqui.
Tudo isso mostra sua decepção comigo.
Sentindo uma grande agonia com essa situação eu logo tomo coragem e entro no quarto, paro em frente ao Alex, me ajoelho e pego em seus braços. Não sou negado, mas em vez de ser positivo, isso parece ser algo muito mal.
Seu olhar continua no chão e o sigo para achar...
Respiro pesadamente, mas agora de tristeza ao ver a caixinha embrulhada. Possivelmente meu presente.
- É triste, não é? – eu elevo minha cabeça e dou de cara com seu olhar sobre mim – Não é decepcionante quando tem uma quebra de expectativa? Não sei se sabe o que é isso, Nick. Eu sei, pelo menos. – Alex fala e o pior, diferente de sua irmã me chamou pelo meu apelido, coisa que só faz quando está muito chateado.
- Eu preferiria você gritando comigo a esse olhar. – eu digo mostrando também minha frustração – E eu sei como é se decepcionar assim. Hoje eu me decepcionei comigo mesmo por esquecer o nosso dia. – vejo Alex fechar os olhos, como se sentisse uma dor horrível ao ouvir meu erro na minha própria voz, e acho que de fato sente dor, em seu coração – Perdão.
- Não é tão fácil assim. – Alex sussurra apenas e abre os olhos, fixando em mim, me fazendo sentir preso neles.
- Então só confia em mim e vamos sair. – eu digo desesperado por tê-lo comigo. Tiro do bolso um pano e o mostro – Eu tenho uma surpresa para você, amor. – sinto Alex meio que hesitar me responder, apenas me olha indeciso – Você ainda confia em mim para sair comigo?

Eu Só Quero Ser Seu - LIVRO IIOnde histórias criam vida. Descubra agora