Ligação

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Raquel ficou dez minutos no carro tentando controlar sua respiração, ela sentiu seu coração partir de uma só vez ao ouvir a palavra "casamento". Ela jurava que seria ela a entrar no altar com Sérgio a esperando, imaginava que seria com ele sua família e seus últimos dias de vida. Mas esses planos agora eram dele com outra mulher.

— Mamãe, o que você está esperando? — Paula colocou o rosto entre os bancos da frente e notou a mãe pensativa.

— Não é nada, filha. — ela limpou as lágrimas e ligou o carro saindo em direção a casa da sua mãe.

No caminho Paula falava coisas aleatórias entre as férias na casa da avó e o que fez na escola dias atrás. Raquel não conseguiu prestar muita atenção, seus pensamentos estavam longe e especificamente em Sérgio. Cerca de dez minutos depois elas chegaram na casa da avó, Paula retirou o cinto e saiu apressada até a porta principal.

— Vovó abre aqui! — ela tocou a campainha mais uma vez.

Mariví abriu a porta e sentiu os braços da neta abraçarem sua cintura, seu sorriso se tornou ainda maior quando escutou da mais nova que ela estava morrendo de saudades suas.

— Eu também estava minha pequena, muitas!

— Será que tem espaço pra mim? — Raquel sorriu e se aproximou das duas.

— Sempre, querida. — elas se juntaram em um abraço apertado e cheio de saudades.

Após entrarem, Raquel deixou as malas em seu antigo quarto e se juntou as meninas que estavam no jardim brincando com flores.

— Vocês demoraram. — comentou Mariví quando Raquel se sentou ao lado delas.

— A mamãe ficou conversando com um amigo dela na lanchonete, por isso a gente demorou. — paula disse na inocência.

— Que amigo?

— Ninguém importante. — Raquel se adiantou.

— Um tal de Sérgio, vovó.

Aquele nome fez mãe e filha se encarem. Um sorriso discreto, mas percebido por Raquel, surgiu nos lábios da mais velha. Raquel sabia que a mãe iria a encher de perguntas.

— Vocês conversaram? O que ele disse? Me conta tudo.

— Não conversamos, mãe. Apenas nos encontramos na lanchonete. Ele e a noiva dele. — Raquel fez cara de nojo sem perceber.

— Fiquei sabendo que eles vão casar. — Mariví disse sem ânimo. — Eu preferia que fosse você, eles nem combinam.

— Mãe! — Raquel a repreendeu e olhou para Paula, a garota estava distraída com as flores. — Cuidado com o que fala.

— Ela é pequena, nem vai entender. — Mariví riu baixo. — Mas então, sobre o que falaram?

— Da vida e do casamento dele, apenas isso. — encostou suas costas no banco. — E a noiva dele ainda me chamou para o casamento.

— É sério? — Mariví ficou surpresa.

— Sim, só falta me chamar para ser madrinha. — Raquel riu e prendeu os cabelos em um coque. — Era só o que me faltava mesmo.

Ambas ficaram em silêncio, Mariví notou o semblante da filha e percebeu haver mágoa em sua fala, só então ela percebeu o quanto aquela história poderia machucar Raquel.

— Filha, você está bem com tudo isso?

— Estou, mãe. — Raquel desviou o olhar para o chão. — É um pouco difícil, mas eu supero. Afinal, quem foi embora fui eu.

Eu ainda te amoOnde histórias criam vida. Descubra agora