Ouçam: To Build A Home - The Cinematic Orchestra (part. Patrick Watson)
Senti meu corpo travar. Encarar seus olhos brilhantes agora pareciam tortura.
— Pode falar, meu bem. — ele continuou sorrindo.
— E-eu nem sei por onde começar. — gaguejei nervosa. Céus! — Talvez o que eu te conte hoje te faça me olhar de outra maneira.
— Você sabe que não. — acariciou meu rosto e riu. — Me conta, o que você fez? Roubou um banco ou matou alguém? — disse risonho, mas eu não consegui expressar nada. Então lentamente o sorriso que estava no rosto dele foi desaparecendo. — Raquel você está começando e me deixar preocupado.
— Sérgio, eu cometi um erro imperdoável. — dei um passo para trás criando coragem para contar a verdade. — Antes de qualquer coisa eu quero que você me perdoe, mas eu não posso mais esconder isso de você.
— Raquel, você sabe que pode me contar qualquer coisa. — me olhava preocupado e tentou se aproximar, mas eu o parei.
— Eu descobri a gravidez da Paula oito anos atrás, três meses depois que eu fui embora daqui. — senti meus olhos marejarem e ele me olhar surpreso, como se tentasse entender onde eu queria chegar.
— O que você quer dizer com isso?
— A Paula é sua filha, Sérgio. — falei por vez fechando os olhos. Senti as lágrimas descerem mesmo com eles fechados e meu coração se acelerar.
Estava feito.
— O quê? — sua voz quase não saiu.
— Me desculpa por esconder isso de você... E-eu não tive coragem... — encarei seus olhos e vi que lágrimas desciam o rosto pálido dele. Estava sem reação e aquele silêncio me pareceu ainda mais perturbador.
— Não. — negou com a cabeça várias vezes — Você não faria isso comigo... N-não, não é possível. — gaguejou olhando para qualquer canto menos para mim.
— Me desculpa... — partiu meu coração o ver totalmente sem chão. Ele ficou em silêncio por um instante até um grito sair de sua garganta:
— COMO VOCÊ PODE?! — gritou aos prantos e me assustei. Seus olhos estavam carregados de lágrimas e eu senti meu coração se despedaçar no mesmo instante.
— Por favor, Sérgio... me escuta. — minha voz quase falhou.
Tentei me aproximar dele, mas o vi dar dois passos para trás, como dois estranhos se afastando. Era assim que ele me olhava. Como se a Raquel de antes não estivesse mais na sua frente, não havia mais aquele brilho no olhar de antes muito menos amor: era o que eu mais temia.
— Eu juro pra você que tentei te contar antes, mas eu não consegui. — minhas lágrimas já desciam e a dor no meu peito aumentava vendo o sofrimento dele.
— Por oito anos? — estava indignado. — Você não teve coragem de me contar que eu tinha uma filha POR OITO ANOS? — gritou as últimas palavras.
— NÃO! — o calei. — Eu fui atrás de você quando descobri a gravidez. — sua expressão suavizou e ele ficou em silêncio esperando que eu continuasse. — Três meses depois eu voltei a sua procura, e sabe o que eu descobri? Que você havia se mudado e começou outra vida ao lado da Larissa!
Senti um incomodo ao tocar naquele assunto, meu estômago praticamente revirou. Aquela época foi uma das piores na minha vida, foi ali que eu descobri que precisaria ser mais forte do que imaginei.
— Você imagina como eu me senti Sérgio? — minha boca estava trêmula e eu tinha dificuldades de respirar. — Imagina o quão insignificante eu me senti quando soube? Você nem se quer atendeu as minhas ligações, e não foram poucas! — eu já não fazia mais questão de segurar as lágrimas.
— Sabe por que eu fui embora? — ele olhou em meus olhos e falou ofegante enquanto chorava. — Eu fui embora para esquecer você, Raquel! Esquecer toda a dor que você me causou. Você não tem noção de como eu fiquei naqueles meses! Você me destruiu Raquel, me destruiu! — o choro dele se intensificou. — Não jogue a culpa das suas escolhas em mim!
Senti um nó se formar na minha garganta. Doeu. Nossa como doeu. Aquelas palavras foram difíceis demais de serem escutadas e me atingiram de maneira brutal. Me lembrei das vezes que ele me chamava de egoísta. Era verdade. Imaginei o quanto eu fui prejudicial na vida dele, eu havia ido embora sem dar uma resposta muito menos a chance de tentarmos. Aquela Raquel era inconsequente e egoísta. Todos tinham razão.
— Você roubou de mim oito anos na vida da minha filha. — ele titubeou não tendo mais forças para se manter de pé. — Eu não vi ela nascendo, não escutei seu primeiro choro, muito menos ouvi ela me chamar de papai pela primeira vez. — ele apertou seu próprio peito como se pudesse aliviar a dor que sentia em seu coração. — Eu não a conheço. Você tem noção disso? Eu não conheço a minha própria filha. Como você teve coragem de me trair dessa forma?
— Sérgio... — meu coração se apertou e eu chorei soluçando. — Me desculpa. Eu tive medo! Muito medo. — minhas mãos começaram a tremer e eu sabia o que aquilo significava. — Eu era praticamente uma adolescente. Sozinha, em outro país e agora com uma criança para cuidar. Eu desisti de você quando percebi que já era tarde demais, achei que eu poderia dar conta de tudo sozinha. Eu senti que não era justo retornar para a sua vida e te trazer dor novamente, então eu apenas deixei tudo como estava.
— Me fazer sofrer? — ele negou com a cabeça. — E por isso você escondeu a verdade por oito anos? Obrigada por me poupar. — riu sem vontade alguma. — Saiba que eu estou sofrendo bem mais com isso. Me sinto traído... Eu... Eu confiei em você, Raquel!
— Eu sei. — encarei minhas próprias mãos.
— Eu confiei em você e mais uma vez você partiu meu coração. — me olhou decepcionado. — Por favor, só me procura agora se for falar da nossa filha.
Ele se virou de costas e caminhou em direção a sala. Senti meu peito arder e um desespero já conhecido por mim voltar a tona: eu estava perdendo ele.
— Sérgio espera! — corri e segurei em seu braço. — Por favor, não faz isso. — senti dificuldade de respirar e um medo percorrer todo meu corpo.
— Me dá um tempo pra digerir isso tudo. — disse sem me olhar. — E-eu... Eu não consigo, Raquel. — puxou seu braço me fazendo o soltar e saiu sem esperar por resposta.
Silêncio. Apenas silêncio.
Senti meu peito arder e minha garganta fechar, minhas mãos tremiam enquanto meu corpo parecia entrar em transe. Eu havia o perdido. Eu tinha tanto medo que aquilo acontecesse que a verdade me pareceu ser ainda mais dolorosa. Ele tinha escapado das minhas mãos como pequenos grãos de areia. E a culpa era minha.
"Você é egoísta"
"Como você pode Raquel?"
"Até uma filha você escondeu dele"
"Eu me sinto traído"
As vozes invadiam minha mente enquanto as lágrimas desciam e a dor aumentava. Minhas mãos tremiam e eu tentava com dificuldade retomar o fôlego, eu sabia que estava tendo mais uma crise. Meu pranto me fazia enxergar embasado, a dor no meu peito parecia um dor física, como se parte de mim estivesse ido embora junto com ele ao fechar a porta.
Silêncio. Tudo ficou em silêncio.
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Notas da autora:Me desculpem pelo surto de ontem kkkkkk como agrado (e de tanto vcs pedirem) resolvi publicar o capítulo hoje mesmo💖
Me digam o que acharam do capítulo de hoje e da reação do Sérgio 👀
No próximo teremos muitas explicações, inclusive o motivo que fez Raquel demorar tanto para contar a ele.
Enfim, até o próximo amores 💖

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Eu ainda te amo
RomanceSérgio e Raquel namoraram durante a adolescência, mas seus planos foram interrompidos quando Raquel iniciou sua faculdade em outro país. Mesmo após o término e seguindo suas vidas, o amor ainda existia entre ambos e as lembranças eram as memórias ma...