Conversa

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Dia seguinte

Raquel

Encerrei a ligação com Sérgio — a segunda naquele dia — sentindo meu coração bater mais forte e não consegui segurar meu sorriso que insistia em aparecer ao lembrar dele. Me senti como uma adolescente boba e apaixonada novamente, ele me fazia ficar assim.

— Posso saber qual o motivo desse sorriso lindo? — minha mãe se sentou ao meu lado.

— Eu estou tão feliz, mãe!

— Imagino que isso tem a ver com um certo homem de óculos, não é? — sorriu travessa.

— Digamos que sim. — mordi o lábio rindo e olhei para minha filha que brincava no jardim.

— Eu fico tão feliz em te ver assim, querida. — acariciou meu rosto. — Você merece.

Parecia que aquilo tudo não era real, era como um sonho. Eu tinha a oportunidade de recomeçar bem na minha frente e ao lado de quem eu amava.

Mas, assim como tudo em minha vida, eu senti o medo bater a porta: vendo minha filha eu percebi que não tinha mais como evitar a verdade, não se eu quisesse realmente recomeçar. Senti meu corpo inteiro se arrepiar em alerta, qual seria a reação dele?

— Mãe. — sai de meus pensamentos. — Posso te perguntar uma coisa?

— Você sabe que sim, filha.

— Bem. — limpei a garganta. — O que você faria se descobrisse que uma pessoa escondeu algo muito importante de você?

— Eu procuraria ouvir o lado dessa pessoa. — ela foi sincera. — Toda história tem dois lados, filha. Ouvir o lado dela faz a diferença. Eu não posso julgar alguém antes de saber a verdade, eu preciso entender o porquê ela fez aquilo, entende?

— Obrigada, mãe! — sorri sem jeito e percebi que ela havia notado.

— Seja lá o que for, você vai dar um jeito, querida. — juntou nossas mãos. — Você é a Raquel Murillo. — me fez rir com a última frase.

Escutei a porta de vidro da varanda ser aberta e Alícia aparecer com dois vestidos em mãos. A ruiva estava visivelmente animada e eu conhecia aquele sorriso de longe: lá vem história.

— Esse, ou esse meninas? — mostrou as duas peças em mãos, um preto e o outro vermelho, bem no estilo dela.

— O vermelho, você fica gata nessa cor. — pisquei para ela.

— Concordo, ele destaca os seus olhos.

— Certo, vermelho então!

— Por que a pergunta? — ergui uma sobrancelha e analisei a ruiva.

— Digamos que eu tenho um encontro essa noite. — falou convencida e nos fez rir. Era típico de Alícia arranjar encontros, embora ela nunca ficasse com a mesma pessoa por mais de alguns meses.

— Posso saber quem foi o corajoso? — ela cerrou os olhos e ergueu o dedo do meio.

— Se você ainda quiser ajuda com o jantar de hoje, eu acho bom parar de gracinha, Raquel.

— Não está mais aqui quem falou. — ri.

Como combinado eu e Alícia fomos pela tarde ao supermercado fazer algumas compras tanto para minha mãe quanto para o jantar que eu pretendo preparar pela noite a Sérgio. Ele havia sugerido um restaurante, mas eu quis que fosse algo só nosso e com privacidade. Embora eu ainda estivesse receosa com esse jantar.

— Me diz, você pensou sobre? — Alícia perguntou dirigindo de volta para casa. Só então eu percebi que havia ignorado totalmente o que ela falava.

— Amiga desculpa, sobre o que falava mesmo?

— Você e o Sérgio. — parou no sinal vermelho e virou para mim. — Sobre hoje a noite, já pensou no que vai falar pra ele?

— S-sim... Bom, eu acho que sim. — falei incerta.

A verdade era que eu ensaiei aquele texto mais de mil vezes na minha cabeça, mas eu não saberia qual seria a reação de Sérgio e aquilo me preocupava.

— Eu estou com medo, Ali — encostei no banco. — Muito medo.

— Raquel, você sabe que vai ter que contar. — ela suspirou. — É melhor dizer de uma vez, se você pretende ter algo com ele não pode começar com uma mentira.

— Você tem razão. — desviei meu olhar do dela e voltei a olhar a paisagem já escurecendo na janela.

Como num passe de mágica as horas passaram e eu me encontrei devidamente arrumada a espera de Sérgio, me olhei no espelho uma última vez e gostei do que vi, embora por dentro eu esteja completamente nervosa. O som da campainha me fez sair do quarto e como eu imaginei lá estava ele: com uma roupa social preta e uma pequena rosa em mãos.

— Para a minha dama. — ergueu a flor na minha frente e sorriu.

— Uau, que cavalheiro. — agradeci timidamente e senti minha bochecha corar. Droga! Ele me deixava assim. — Entre, fique a vontade.

Fechei a porta após ele entrar e o chamei para ir comigo até a cozinha. O cheiro da comida era agradável e amenizava um pouco o clima que estávamos: parecíamos dois estranhos que não sabiam por onde começar.

— Raquel? — ele me chamou enquanto eu colocava duas taças sobre a mesa.

— Oi.

— Está tudo bem? — ergui meu rosto e o vi segurar a risada.

— S-sim. — minha resposta pareceu mais uma uma pergunta.

— Por que você está tão tensa?

— Bem, é que eu estou com um pouco de vergonha. Estamos em um... Encontro? — mordi o lábio em expectativa.

— Acredito que sim. — ele riu e se aproximou passando os braços ao meu redor. — Não precisa ficar nervosa, sou eu, seu Sérgio.

O sorriso dele se intensificou e me causou pequenos arrepios. Era lindo. Iluminava seu rosto e me fazia querer admirar por horas aquelas pequenas covinhas.

Meu corpo ficou em êxtase ao sentir os lábios dele contra os meus e me puxar para um beijo repleto de saudades enquanto juntava meu corpo ao seu. Os lábios dele eram perfeitos, eu sentia vontade de tê-los cada vez mais como se todo o tempo do mundo não fosse o suficiente.

— Agora sim podemos começar o jantar. — disse ao finalizar o beijo e tomar fôlego.

— Concordo. — falou risonho.

Senti novamente um arrepio passar pelo meu corpo indicando que algo estava errado. E eu sabia exatamente o porquê.

— Sérgio. — ele voltou sua atenção a mim. — Antes de qualquer coisa, eu preciso te contar algo.

Continua...

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Notas da autora:

Sim, eu vou deixar essa bomba no colo de vcs e vazar 👀

Até o próximo amores!

Eu ainda te amoOnde histórias criam vida. Descubra agora