Escolha

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Com cuidado, Sérgio colocou Larissa na cama e a cobriu. Ela estava esgotada, seu choro havia se tornado tão intenso que acabou por dormir nos braços do noivo. Sérgio então soltou as lágrimas que havia segurado o tempo que esteve com Larissa nos braços, ele queria se manter forte não só por ela, mas por ele também. Como na primeira noite que ele havia descoberto que perdeu o primeiro filho uma lembrança invadiu sua mente, dando espaço para mais dor:

Flashback

— É a sua vez, amor!  — Sérgio animou e se juntou aos amigos no sofá. — Ganha essa pra gente!

A morena sorriu convencida e pegou a caneta em mãos enquanto ia até a lousa com quadro branco colocado especialmente para o jogo. Era noite de Natal, os familiares dos dois estavam na casa do casal e comemoravam a data juntos em uma bela ceia em família.

— Presta muita atenção. — sorriu para o noivo e começou a desenhar assim que o cunhado disparou o cronômetro.

— Bebê? — disse ao ver ela desenhar uma chupeta e gesticular com as mãos. — Crianças?

— Talvez isso ajude. — Larissa sorria nervosa enquanto desenhava.

— Meu Deus! Larissa o que é isso? — os amigos riram. — Tá parecendo um extraterrestre.

— E eu pensava que eu era ruim de desenho. — Andrés riu bebendo seu champanhe.

— Presta atenção, Sérgio! — ela tentou desenhar algo mais foi impedida pelo barulho do cronômetro indicado que havia acabado o tempo. — Posso fazer mímica? — colocou a caneta de volta ao quadro. — Só assim para ele entender.

— A culpa não é minha que você não desenha bem, amor. — Larissa cerrou os olhos e ele riu.

— Vamos mímica então. — o tio da morena, que também estava jogando, concordou.

Larissa retirou um papel na pequena caixa escura cheia de temas para o jogo, ela analisou a palavra e fingiu estar pensativa.

— Ok, pode começar a contar. — fez um sinal para o cunhado e olhou para o namorado em expectativa.

Assim que o botão começou a cronometrar Larissa gesticulou com as mãos em sua barriga, ela fez caretas indicando que a pessoa se sentia mal enquanto Sérgio analisava cada detalhe da mímica.

— Enjoada? — ele acompanhava os gestos dela. — Mal-estar? Doença? — a viu negar com a cabeça e passar as mãos novamente na barriga sorrindo. — Grávida? Gravidez! — praticamente gritou animado a última palavra.

— Tempo! — Andrés riu e viu a morena voltar a se sentar ao lado do namorado. — E então, Lari, ele acertou?

— A mímica, sim. — ela deu risada. — Pena que na vida real ele ainda não percebeu. — encarou o namorado ainda mantendo o sorriso enquanto via um ponto de interrogação se formar na cabeça de Sérgio.

— Como?

— Eu estou grávida, amor.

Ele raciocinou por alguns segundos até seu sorriso surgir de orelha a orelha e contagiar o dela. Todos na sala ficaram da mesma forma até ouvir o grito de felicidade de Sérgio.

— Eu vou ser pai? Eu vou ser pai! — respondeu a si mesmo e abraçou a morena ouvindo os familiares parabenizar.

Fim do flashback

Aquela lembrança, junto a outra três meses depois, ficaram marcados na mente de Sérgio. Exatas doze semanas após a descoberta, Larissa sofreu um aborto espontâneo resultando na perca do bebê. Sérgio lembrou como foi difícil as semanas seguintes: Ela não comia, não sorria, não tinha ânimo algum para sair da cama ou querer reagir. Ele temia que aquilo voltasse a acontecer. O casal estava tentando ter filhos a exatos dois anos, mas o problema crônico de Larissa não facilitava com o desejo de ambos, até que uma fertilização acabou dando certo. Pelo menos até os três meses de gestação dela. Agora estava acontecendo tudo novamente e ele se sentiu péssimo.

Eu ainda te amoOnde histórias criam vida. Descubra agora