Pequenino & Melancólico

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- Só não entendi o motivo, eu estava na praia - Pedro diz.

- Cara, isso não faz o menor sentido, mas fará se um dia você mudar a forma em que vê os fatos. -Benjamin reafirma - Para cada deserto um novo valor se dá a pequena gota D'água.

Pedro estava contente, pois veio de uma cidade grande e agora estava em uma pequena cidade do litoral brasileiro.

Ficou tão impressionado ao ver o mar que decidiu comprar sua prancha para surfar. Seu sonho estava se realizando e ele pode ver com seus próprios olhos o quão é bom estar na praia e ter amigos para compartilhar esses momentos.

Muito mimado pela família e teve uma bela infância. Seus pais serviram de exemplo em muitas coisas, mas Pedro não era um menino tão exemplar como pensava ser.

Pedro vivia ocupado e com 14 anos começou com um comportamento estranho. Pensava ele que não existia lei alguma e que tudo que acontecia era por seu próprio impulso combinado com outros, que supostamente pensavam como ele.

O que certamente faz você duvidar da realidade.

Para Pedro a realidade era independente de meio social e convívio. Isso não trouxe para ele uma imagem de filosofo, mas sim de uma pessoa problemática.

Seus pais não queriam assumir que ele tinha um comportamento estranho dos demais meninos de sua idade o que certamente agravou seu problema.

Mas Pedro tinha um psicólogo dentro de casa, o engraçado é que ninguém sabia, na verdade, a empregada cristã supôs que o Pedro conversava no quarto em voz alta com uma pessoa que não estava ali. Por este mesmo motivo ela se recusou algumas vezes de entrar no quarto rabiscado do menino.

Isso aconteceu por conta de um dia que ela foi entrar no quarto do Pedro e... Ele estava conversando com um rosto e... expressivamente falando parecia um bruxo com rugas e roupa de mordomo.

O Pedro tinha colocado uma máscara sob a bola de futebol americano e a máscara ficava bem preenchida dando uma impressão de ser realmente um rosto sem corpo e diabólico.

A empregada cristã deixou claro para os pais de Pedro que não iria limpar o quarto do menino, e os pais disseram que estava tudo bem, não havia problema quanto a isso.

- Eu lhe disse que: nas relações humanas tudo é regido por interesse. Caso a praia não lhe fornecesse ondas para surfar você iria? - Benjamin retorna.

- Provavelmente não.

- Caso não houvesse as ondas, você iria para encontrar uma menina como fez ao sábado, mas mal viu a praia neste dia. - Implica.

Os dois estavam há horas conversando e eu não entendia muito bem o motivo. Percebi que o Benjamin queria instruir alguma coisa para Pedro.

-O tempo não existe - Desta vez o Benjamin afirmou entonando a voz e estremecendo as paredes do quarto.

- Se o tempo não existe como tenho 14 anos? - Questionou ele.

- Simples, um ditador romano chamado Júlio Cesar definiu, quando determinou que um ano teria 365 dias. - Benjamin começa gargalhar com um tom de quem zomba - Einstein disse que o tempo é relativo a velocidade, e a visão de passado e futuro é apenas uma ilusão. Você que não passa de um repetente quer me dizer o que? Certamente você não passa de um menino manipulado. - Disse alfinetando o menino.

-Você está certo, não posso discordar.

- E se você é tão inteligente, por que não concretiza sua existência?

- Tão inteligente limitado à uma bola de futebol americano com uma máscara vestida de forma desprovida. - Disse Pedro devolvendo os insultos.

Neste dia o diálogo terminou por ai.

Mas Pedro teria que enfrentar uma realidade onde a limitação do Benjamin já não existia, porém... Ainda não estava ciente que isso iria ocorrer. Saiu do assunto trancando a porta e indo para fora de sua casa pegar um ar, como quem tivera trocado alfinetes, se igualando ao Benjamin em questões de poderes.

Logicamente Benjamin não iria deixar isso como estava. Mas é bom lembrar que os dois não são inimigos. Pedro sente bem longe, algo bem singelo, de percepção frágil e incompreensível uma voz não muito diferente, mas talvez até familiar.

Ele é familiarizado em escutar vozes, afinal conversa com uma máscara em seu quarto, o único problema é que ele está em um condomínio brincando com seus amigos. Na verdade, o Pedro estava mentalizando de onde vem essa voz. Agora a voz não estava limitada as paredes de seu quarto rabiscado, mas fluía através de toda matéria que o cercava.

Pedro estava lembrando de quando tinha seus 9 anos. Lembrava que ficava em frete ao espelho se observando e isso já era normal.

Certo dia ele viu algo diferente em se observar, percebeu que seus olhos tinham mudado, bom se quer saber eu falo: Neste dia o Pedro olhou para o espelho por horas e notou que sua pupila estava dilatando e voltando ao normal de forma rápida e não comum. E a partir deste dia enfrentou um sério problema para dormir, pois em sua mente assim que fechava os olhos se materializava um rosto ou algo próximo.

A sensação que ele descrevia para o psiquiatra era que uma identidade estava surgindo e que enquanto não se formava para ele... o perturbava. Esse processo levou alguns anos. Todas as noites as mesmas visões, sem a mínima nitidez. Durante essa lembrança veio em sua mente um estalo que o fez perceber que tudo agora fazia mais sentido.

O Benjamin era a identidade que estava se formando em sua mente através dos sonhos e o silêncio da madrugada.

- Não sei o que quer comigo.

- Eu não quero nada que nunca tive - Respondeu ao Pedro.

- Você pensa comigo, dorme comigo e agora pensa que pode me vigiar?

-Eu nasci junto com você, e estou dividindo minha função cognitiva com um menino que tem um cérebro do tamanho de uma noz - Benjamin retruca.

-Pedro, eu sempre estive aí. Lembro de quando você viveu como se eu não existisse - inconsequente, destemido, fugaz e retrogrado -Preciso aprender a lidar com isso, até ontem você apenas ouvia.

-Eu dizia meus problemas, contava meus segredos e tudo isso apenas para uma mascara ,ou melhor, dizia tudo isso para uma bola de futebol americano vestido com uma mascara barata.

-Agora veja você, julgado por uma mascara que aparentemente não tem vida alguma e nem valor. Mas que possivelmente sabe de tudo que você viveu, seus maiores medos e o mais legal é que também sei seus maiores segredos - Benjamin ri com um tom assombrado.

O Pedro era um menino comum. Brincava em seu condomínio, tinha seus amigos, não havia um trauma e aparentemente muito bonito. Pedro queria ser uma pessoa grande, famosa, e sua ganancia o cegou. Buscou no horizonte visual, na divisa entre a carne a alma um refúgio para se tornar grande. Queria que sua força fosse expressada pelo poder em suas mãos.

Ele não queria academia para malhar, mas sim algo mais profundo. Como diversas outras crianças de sua época materializou uma alma em um objeto inanimado. Gerando uma vida aprisionada. Diferente do convencional, onde antes de um ventre, um sexo, e antes disso um consentimento. Pedro roubou uma vida. O que o traumatizou e agora quer ser apenas criança.

Tão novo e tão ganancioso. Mas a pergunta, a duvida que ele tinha se foi. Agora tudo faz sentido. Pedro quis PODER e em troca de uma vida, obteve. Tão novo, e já com uma divida. E não há juros. É simples: Pedro teve quer dá a vida de quem ele mais ama. E na hora H se surpreendeu, pois não pode enganar o seu sócio dizendo que mais ama outra pessoa.

Automaticamente veio em sua mente o nome de quem ele mais amava, e após 3 segundos o nome iria parecer escrito no papel do contrato, sendo assim quem ele mais ama iria ao fim, sem volta. Neste momento ele renegociou. E deu a para o sócio a pessoa em que aquela pessoa mais amava. confuso? não.

Em vez de dar a vida em que ele mais amava, ele deu quem aquela pessoa mais amava. Sem entender compareceu ao enterro. Negando para si que não foi sua culpa. Negando a existência imediata de uma voz.

Pedro ainda está mentalizando de onde vem essa voz?

Pensando AltoOnde histórias criam vida. Descubra agora