Orquestrando

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Meu coração tem marcas profundas feito a lua que carrega suas crateras. Meus pensamentos são como abismos, eles me devoram por dentro. Sou uma casa com traumas, rachaduras que já suportou todas as tempestades possíveis. Eu não sou nada do que quero ser,
e talvez isso esteja me matando. Se eu tivesse dedicado tanto amor a mim mesmo igual dediquei aos outros, talvez eu estaria mais inteiro do que quebrado.

Sei lá, não sei... Já caí inúmeras vezes achando que não iria me reerguer, já me reergui inúmeras vezes achando que não cairia mais. Existem coisas que sempre vão doer, apertar o sapato, incomodar, latejar no peito. Não tem jeito: por mais que a gente se livre de traumas e mágoas alguns sentimentos não legais sempre vão morar dentro do coração. Não por rancor ou coisa parecida, mas porque nem tudo dá pra ser esquecido e deletado da vida num passe de mágica. A gente sente, é de carne, osso e sentimento. Nada mais óbvio do que carregar na bagagem algumas tristezas. Não somos feitos só de coisas boas, temos lados obscuros e que não sabem perdoar.

Por debaixo da pele, eu estou sendo costurado. Meus sentimentos criaram raízes profundas, nos lugares onde o sol não alcança. As vezes sinto vontade de chorar todas as minhas dores até desaparecer.

Ás vezes sou meio frio, atrapalhado, áspero e antipático. Mas sou aquele cara que está sempre sorrindo, cantando músicas alegres pra disfarçar a tristeza, que chora ao invés de rezar, que guarda tudo até que a dor passe ou então desminua. Quebrado por todos, mas nunca deixei de me dá forças, de me levantar, de enxugar minhas lágrimas no banheiro, na cama ou em algum cantinho qualquer pedindo a Deus que entendesse o que eu estava sentindo.

Estou em processo de transformação, de amadurecimento, de descobertas. A minha pressão psicológica tá um labirinto de se perder. Meus pensamentos me enlouquecem de tanto que penso, me mato, me cobro, me destruo. Deus sabe o quanto estou tentando. Todo mundo tem uma história. Todo mundo passou por algo que o mudou. Comecei a me livrar de tudo que não fosse saudável. Pessoas, tarefas, tudo e qualquer coisa que me pusesse para baixo... De início minha razão chamou essa atitude de egoísmo, mas hoje sei que se chama amor próprio.

A única recompensa que você recebe depois de sofrer, é amadurecimento. Mais nada, afinal, vida não mima ninguém. Por dentro os sentimentos gritam feitos os trovões agitados no céu. Talvez eu tenha endurecido com os passar dos anos, fui criando sentimentos novos, problemas novos, conhecendo e desconhecendo a mim mesmo. Hoje eu não sou o mesmo de dez anos atrás e nem serei o mesmo daqui dez anos no futuro. Não vim aqui pra fazer espetáculo pra ninguém, muito menos deixar a língua da sociedade romper com o meu caráter. Assim como eu abraço as opiniões, também tenho o direito de te mandar passear na puta que pariu.

Sou ansioso, perco a paciência fácil, me irrito fácil também, brigo e choro por qualquer coisa, me estresso diariamente, sempre acho que meus problemas são maiores que eu, e sei que não há nada de anormal nisso tudo, mas só eu sei o quanto é difícil ser assim. Sempre fui fechado, desconfiado, nunca fui bom em demonstrar alguns sentimentos. Quase ninguém sabe sobre mim e o que sabem e aquilo que deixo escapar. Quem acha que me conhece, está achando errado, afinal de contas nenhum de nós é aquilo que realmente mostramos para outros.

As pessoas vão te magoar, vão partir seu coração, vão te violentar internamente. Você vai chorar, vai querer sumir, vai sofrer por dentro como a maioria faz. Ninguém sai ileso nos dias de hoje, no fundo todos nós estamos tentando nos concertar de alguma coisa.

A verdade é que não posso andar pela vida esperando que todos fiquem. 

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