17 - Cavalgadas da primavera.

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A chuva forte de minutos atrás havia finalmente parado, mas deixou o chão molhado. Eu podia ouvir os sons constantes dos carros passando pela rua em frente ao bar e, de longe, a sirene da ambulância que cortava o trânsito. Porém, eles foram desaparecendo lentamente, com a distância entre mim e Deena. Nem o relâmpago desenhado no céu foi capaz de nos afastar.

Não consigo explicar com riqueza de detalhes como tudo aconteceu. 

De manhã, eu não queria vê-la, de tarde, nós só conversamos para brigar, e de noite estamos aqui, envolvidas em uma bolha difícil de estourar. 

Em um instante Deena brincava como uma criancinha com o urso de pelúcia e no outro inclinava-se em minha direção, deixando claro o que queria. 

Por um segundo, quis empurrá-la, lembrando das milhares de promessas que fiz a mim mesma dizendo que nunca mais a beijaria, mas já era tarde demais para parar. 

Os olhos verdes e intensos arrebataram-me sem ao menos pedir permissão. E quando os seus lábios quentes e macios encontraram os meus, eu soube que poderia fazer quantas promessas quisesse, mas seria impossível fugir dela. Esse pensamento fez o meu corpo enrijecer, mas amolecer como gelatina quando seu braço envolve a minha cintura, me mantendo perto dela.

Minha mão direita tocou a sua face, acariciando-a com os dedos delicadamente. Ela contornou os meus lábios com a ponta da língua e sugou meu lábio inferior, mordendo-o levemente antes de liberá-lo. Suspirei com o contato e senti a sua língua mais uma vez, implorando por passagem, essa sendo cedida no segundo seguinte, dando à Deena liberdade para aprofundar o beijo. 

Nossas línguas se encontraram como se fosse tudo combinado, em perfeita harmonia e sincronização assim como a mais bela apresentação de balé.

É isso o que complica tudo: nós temos a maldita química. Os seus lábios fazem mágica nos meus e eu ainda não desenvolvi o antídoto para inibir esse feitiço. Deena tem pegada, tem atitude e sabe o que fazer para deixar-me entregue nos seus braços. Meus olhos continuaram fechados quando o beijo acabou. Ela fez questão de acariciar os meus cabelos e depositar selinhos demorados e ternos sobre a minha boca adormecida e avermelhada, sem falar nada, somente me beijar.

Foi perfeito, talvez muito mais do que isso, e eu senti medo. Medo porque já tinha visto o final dessa história um milhão de vezes e nunca foi bom. Medo porque não sabia desvendar o formigamento no meu estômago. Medo porque, sob o olhar terno das íris esverdeadas, o ódio se dissolvia em carinho.

— Deena...

— Shh... — Colocou o dedo sobre a minha boca. — Deixa eu te olhar mais um pouco.

Céus! Eu estou ferrada em suas mãos. 

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— Você está me envergonhando. — Confessei ainda fora de área, baixando a cabeça na tentativa de fugir do seu olhar. Porém, ela não deixou, levando o indicador e o polegar até o meu queixo e fazendo com que eu a erguesse novamente. 

— Eu não consigo parar. — Abriu um sorriso de tirar o fôlego e eu pude sentir o meu coração espancar a minha caixa torácica. Droga! Todo o sangue presente no meu corpo deve estar concentrado nas minhas bochechas agora. — Você é bonita demais para não ser admirada, Fraser.

Tentei abraçá-la, mas precisei ficar na ponta dos pés para conseguir entrelaçar os meus braços ao redor do seu pescoço. Deena me fitou de maneira surpresa e usou os próprios braços para rodear a minha cintura firmemente, retribuindo o ato e prendendo-me entre eles. 

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