CAPITULO 24

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• E m m a •

Durante todo o café da manhã eu me sentia tensa, como se estivesse em uma zona de guerra fria. Willian me olhava com um sorriso de canto, eu me concentrava em cada gesto tentando o máximo não parecer preocupada e fazer tudo certo, minha vó com aqueles olhos julgadores me observava como se soubesse de todos meus segredos, e meu pai... Bom, meu pai era o único naquela mesa que estava comendo de verdade, como se vivesse em outra realidade.
Eu havia conseguido estragar tudo. Minha enfiei a carta na manga que tinha contra o príncipe no cu, a rainha queria conversar comigo e eu não fazia ideia do assunto e tinha medo de derrapar fazendo com que ela descobrisse tudo, porque nunca fui boa atriz. Eu não saberia ser outra pessoa, nas peças da escola eu sempre fui a figurante, então como, em que momento acreditei que esse estupido plano daria certo?
_Querida? - a voz grossa e suave do meu pai me desperta dos meus pensamentos - Você está bem? Não tocou na comida.
Cada dia que passava eu entendia os motivos de Rachel ter se apaixonado por ele, e eu sequer me refiro a suas características físicas, mas sim da sua personalidade, tão cuidadoso, gentil, se importa de verdade com quem ama... Como ela o deixou ir? Como ela pôde ir?
E enquanto eu encarava os olhos azuis de meu pai, enxergando o tanto de amor e ternura que ele carregava ao me olhar eu imaginei como seria ter crescido com ele perto, automaticamente senti meu nariz pinicar e os olhos embarçarem com as lágrimas que viriam a seguir.

_Com licença. - digo me levantando e saindo pelo corredor. Não podia perder a classe na frente de todos, não podia fazer aquele sentimento tomar conta de mim e acabar estragando tudo. Se eu ficasse ali eu desmoronaria e acabaria de vez com a farsa que estava cada dia mais difícil de sustentar.

Eu só precisava fugir.
A cada corredor que virava, meus passos aumentavam a velocidade e quando percebi já estava correndo pelo palácio, mal sabia para onde meus pés estavam me guiando, por todo caminho cruzei com guardas que me perguntavam se estava tudo bem, e alguns empregados que me olhavam preocupados.
Por fim, parei em um grande salão, com colunas enormes, estátuas de gesso belíssimas dignas de museus  e um lustre central que mais parecia ter saído do live action da Cinderela.

E ali naquele imenso salão vazio eu me permito chorar.
Chorei pelo medo que me consumia, pela infância que foi me tirada, pela culpa de ter que enganar meu pai, pela raiva que sentia da minha mãe...
Sento no chão, meu rosto entre os joelhos, abraço minhas pernas, sentindo meu peito subir e descer rápido demais e os soluços ecoando pelo lugar.
Eles teriam feito um bom par, por que ela fez aquilo? Por que ela partiu?

Sinto uma mão em meu ombro e levanto o rosto encontrando Willian de pé ao meu lado.
_ Posso me sentar aqui?
_Não. -respondo limpando as lágrimas, mas ele se senta mesmo assim - Eu disse não. O que está fazendo aqui? Será que não consegue enxergar que quero ficar sozinha?

Ele me olha em silêncio por um tempo, em seguida deita no chão de mármore com as mãos atrás da cabeça e os pés cruzados.

_ Qual o seu problema?

_Qual seu nome? -ele retruca, me fazendo revirar os olhos.

_Por que não me deixa em paz pelo menos uma vez?

_ Como veio parar aqui? -eu o encaro.
_Não vou responder suas perguntas.
_Então não espere que eu responda as suas. -Willian e suas respostas na ponta da língua. - Vamos lá, princesa, me conte sua história.
Eu o encaro com frieza e ele sorri se sentando ao meu lado. Como eu odeio aquele sorriso.

TROCA QUASE PERFEITAOnde histórias criam vida. Descubra agora