CAPÍTULO 10

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• E m m a•

Já sentiu como se uma grande merda estivesse prestes a acontecer na sua vida? Essa era a sensação que eu estava sentindo enquanto andava de um lado para o outro daquele enorme quarto de Kiera, o medo do que estava prestes a vir começava a tomar conta de mim, e meu cérebro criava mil formas e posibilidades de tentar reverter toda a situação. Eu não podia ficar incomunicável, Willian não podia descobrir tudo e eu tinha que achar alguma prova de que minha mãe não era a mentirosa da história.

_Pensa, Emma... pensa. - murmuro comigo mesmo prestes a sofrer um avc. A fim de espairecer um pouco caminho até a grande janela de madeira que dava vista ao pátio do castelo, havia guardas em volta do muro, mas um em especial me chamou a atenção. Ele caminhava em direção a um canto mais privado onde um garoto estava parado. Era Willian, o reconheci pelas roupas.

Aquilo pareceu suspeito, talvez fosse a minha grande chance de virar o jogo, mas para isso eu tinha que vê-los melhor, por isso pego o telescópio de Kiera e aponto em direção dos dois.
Willian dá  ao guarda um pequeno rolo de notas que é guardado no instante seguinte, em troca o guarda tira um pedaço de papel do bolso e entrega ao príncipe que sorri dando uns tapinhas nos ombros de Edgar.

_O que está fazendo, Kiera? -A voz de Robert faz meu corpo estremecer e eu me viro assustada, o palavrão fica na ponta da língua.

_Pai... você me assustou. -digo me recompondo, levo uma mão ao peito.

_O que estava fazendo? - Ele volta a perguntar enquanto caminho até minha cama.

_Bom, como não posso sair achei que olhar o jardim daqui faria eu me sentir lá fora. - se ele estava aqui, foi porque meu jogo emocional deu certo, então nada mais justo que continuar usando. - Se veio para pegar meu celular ele está sobre a mesa. Pegue e me deixe sozinha.

Eu o vejo suspirar e vir em minha direção, seu cabelo loiro estava úmido e penteado para trás e em seu rosto crescia alguns fios da barba.

_Pode baixar a guarda um segundo, por favor? Não vim aqui para brigar. - ele se senta na beira da cama, sua postura era invejável e seus olhos estavam fixos na janela. - Eu não quero te afastar, não quero que vá para um colégio interno, tão pouco quero que se sinta presa e infeliz... mas essa é a nossa vida, filha.

Ele fica em silêncio, como se sua mente divagasse em lembranças e no fundo eu sabia no que ele estava pensando.

_Também não foi fácil para mim, eu sei que parece que tive chances de conhecer o Reino por aí, de me apaixonar e conhecer pessoas fora dessa bolha que vivemos. - ele me olha, seus olhos azuis estavam brilhando, será que ele choraria? - Diferente de você, meu casamento já era algo que iria acontecer, mas por algum milagre Deus teve misericórdia de mim e colocou sua mãe no lugar certo, na hora certa... Eu não estava na praça por diversão, mas a serviço da coroa.

Novamente  desvia os olhos de mim, e respira fundo, ele era um homem forte mas de coração mole que não havia superado um amor antigo. Eu mal o conhecia, mas vê-lo daquela forma tão frágil só fez com que eu sentisse orgulho de ser filha dele.

_Na vida temos que abrir mão de certas coisas para o bem do povo. Você é nova demais para entender isso, mas eu preciso que se esforce. - ele me olha novamente - Você sabe o quão tradicional sua vó é, ela acha que não sou firme com você.

_Você não tem que provar nada a ela. -digo e um sorriso tímido surge em seus lábios.

_Você ainda está de castigo. Mas pode ficar com celular e vamos repensar sobre o colégio eu só peço uma coisa, Kiera. - ele se aproxima envolvendo minhas mãos nas dele - Se comporte e tente ser compreensiva, Deus sabe dos meus esforços para fazer sua vida ser mais leve do que a minha foi.

É nesse momento que meu peito dói e a culpa de ter falado aquelas coisas para ele recai sobre mim. Nunca fui boa em pedir desculpas, não sei se Kiera pedia com facilidade, mas naquele momento tão íntimo eu fiz o que sempre fazia quando queria dizer algo que eu não sabia como dizer: eu o abracei.

Por um momento achei que ele não retribuiria,  mas senti ele suspirar e seus braços me envolverem me apertando contra si. Ele cheirava a terra molhada, um cheiro reconfortante e familiar.

_Eu não queria... -começo a dizer mais ele me afasta olhando em meus olhos.

_Xiii... Eu sei. - em seus labios há um sorriso gentil se formando - Está tudo bem. -Seus olhos percorrem todo meu rosto enquanto seu sorriso se desfaz aos poucos - Você tem o gênio forte de sua mãe e eu já me acostumei com isso.

Ao mesmo tempo que ouvir aquilo aqueceu meu coração, também me deixou triste. Na sua cabeça Rachel havia o abandonado com uma filha recém nascida após a outra morrer depois do parto, imagine lembrar toda vez disso sempre que olha para mim, ou melhor, para Kiera.

_O almoço já vai ser servido. Tenta não derrubar a mesa dessa vez. - ele brinca percebendo que algumas lágrimas começaram a surgir no meu olho e eu deixo escapar uma risada. Enquanto ele sai do meu quarto eu me pego pensando como seria a reação dele em descobrir que eu sou a Emma.

O que me faz lembrar de Willian, aquele príncipe de merda não pode estragar tudo. Me levando indo em direção a janela, e lá estava ele andando em direção ao Palácio, mesmo com minha miopia eu o vejo dobrar um papel e por no bolso esquerdo do casaco. Eu tinha que saber o que está escrito lá.

Willian ergue seu rosto, nossos olhos se encontram por alguns segundos antes de sair do meu campo de visão. Movida a ansiedade e dom de fazer besteira decido sair do meu quarto e ir em seu encontro, formei um plano tão ridículo que poderia dar certo.

Tinha que dar certo.

Ao virar em um corredor o vejo no final dele, seus olhos verde oliva automaticamente cravam em mim, por um segundo sinto minhas pernas bambearem, ele tinha um andar confiante que me irritava. Eu sorrio caminhando em sua direção, o plano era simples: fingir tropeçar e quando caissemos no chão eu enfiaria a mão em seu bolso pegando o bilhete.

Simples e fácil, tão clichê que ele nem notaria. Tinha tudo para funcionar, certo?

Errado.

Quando cheguei perto o suficiente, fingi tropeçar em meus próprios pés, meu corpo se chocou contra o dele, mas não fomos ao chão, eu era pequena e magrela demais para derrubar um cara como ele. Senti sua mão em minha cintura me amparando para não cair, meu rosto ficou próximo demais do dele, sem perder muito tempo enfiei minha mão em seu bolso enquanto ele ainda estava distraído comigo, mas não encontrei nada.

Impossível, eu vi quando ele colocou o maldito bilhete no bolso esquerdo!

Seus lábios grossos esticaram formando um sorriso sacana, eu me afasto do seu corpo.

_Desculpe. -digo sentindo meu rosto queimar. Ele era... intenso

_ Tão graciosa como um filhote de girafa recém nascido. - Ele diz colocando as mãos nos bolsos ainda observando cada centímetro do meu corpo.

Queria xinga-lo, como queria tirar aquele sorrisinho prepotente de seus lábios grossos e atrativos...

_ Com licença,  príncipe Willian. -digo fechando o pulso com raiva.

_Até daqui a pouco, Kiera. -  retribuiu quando passei por ele, o nome de minha irmã veio carregado de ironia.

Eu tinha que virar esse jogo!

TROCA QUASE PERFEITAOnde histórias criam vida. Descubra agora