Leonor se prepara para acordar o filho, quando escuta batidas na porta do quarto. Miguel foi resolver os assuntos da fazenda e restou para ela, cuidar do menino que se encontrava em um estado deplorável.
Ela caminha pelo chão de madeira até abrir a porta e avistar seus dois mais novos com a curiosidade estampada no rosto.
— Tomás falou que a gente tem irmãozinho novo!
Os mais velhos tiveram tempo de aprender o português com fluência, mas os caçulas gêmeos — Que só são chamados de gêmeos devido a mesma idade de transformação — Ainda estão em processo de adaptação e aprendizado, por isso suas línguas enrolam quando falam, e as vezes preferem se comunicar em italiano, seus idiomas naturais. Ainda que os pais chamem atenção, cobrando discrição.
— Correto meu bem, mas ele ainda está se recuperando. — Diz Leonor fazendo um carinho discreto no cabelo de um dos dois, Matteo.
— Ah, — Esse bufa com ligeira irritação — Mas a gente queria brincar com ele!
Leonor dá um sorriso, lhe agrada saber que os mais novos não estão ciumentos, motivo de uma de suas preocupações.
— Tudo no seu tempo, certo? Por que não vão ajudar o pai de vocês? Ele prometeu tos ensinar a arte do cultivo hoje.
— Verdade! — Luca levantou um braço exclamativo. — Se eu plantar mais que você eu ganho o jogo. O último a chegar é mulher do padre!
O rapazinho corre pelos corredores do casarão, enquanto o irmão revira os olhos em desdém ao jeito do irmão gêmeo. Antes de seguir Luca, Matteo se vira para a mãe.
— Qual o nome dele?
Leonor suspira por costume e observa rapidamente o garoto que está em sono profundo, inquieto. Ela queria saber o seu nome naquele momento.
— Vamos descobrir ainda. Agora vá!
Quando os dois saem ela fecha a porta, planejando abordar seu menino sem que seja difícil demais, e sem precisar chamar Miguel, claro.
Se aproxima em passos lentos e abaixa perto do corpo sonífero do mais novo. Com um pequeno toque no rosto ele acorda assustado, rapidamente se sentando nos lençóis.
— Calma rapaz!
O menino ofega com força, como se fosse tirado de um verdadeiro pesadelo. Leonor não pode evitar fazer mais cafunés nos cabelos em caracóis dele, e este parece não se sentir muito confortável com isso.
— Como está se sentindo? — Pergunta ela com calma.
— Eu to vivo?
— Sim meu querido...— Dispensa quaisquer explicações que envolvam o fato de que ele não é mais um humano. — Se importa de eu perguntar seu nome?
O garoto que antes olhava para o curativo muito bem feito pela moça, agora a fita, confuso.
— Ernesto...
Ele viaja para além dos olhos, se localizando, rebobinando a fita que passou muito rápida pra ele. E então ele se recorda, Celinha está em perigo, então ele volta a repetir isso.
— A minha irmã! Preciso salvar ela...
Ele se ergue enérgico, e se prepara pra levantar. Leonor abre a boca tentando interrompê-lo, mas se assusta ao ver ele apoiar-se no primeiro pé já urrando de dor.
— Não faça isso, menino! — Ela é rápida em se postar do lado dele, tentando trazer seu corpo de volta ao chão, ouvir seu grito lhe causou arrepios na espinha, sempre detestou ver os filhos doentes. — Não vê que está ferido?
![](https://img.wattpad.com/cover/295599986-288-k159587.jpg)
VOCÊ ESTÁ LENDO
O Encourado
RandomEm um Brasil de 1960, as lendas voam como pássaros, principalmente depois de um montante de mortes misteriosas acontecerem entre as florestas. O vilarejo está apavorado, ninguém sai de noite. Ernesto, um rapaz de 18 anos que acabou de perder a mãe...