Capítulo 4

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Leonor se prepara para acordar o filho, quando escuta batidas na porta do quarto. Miguel foi resolver os assuntos da fazenda e restou para ela, cuidar do menino que se encontrava em um estado deplorável.

Ela caminha pelo chão de madeira até abrir a porta e avistar seus dois mais novos com a curiosidade estampada no rosto.

— Tomás falou que a gente tem irmãozinho novo!

Os mais velhos tiveram tempo de aprender o português com fluência, mas os caçulas gêmeos — Que só são chamados de gêmeos devido a mesma idade de transformação — Ainda estão em processo de adaptação e aprendizado, por isso suas línguas enrolam quando falam, e as vezes preferem se comunicar em italiano, seus idiomas naturais. Ainda que os pais chamem atenção, cobrando discrição.

— Correto meu bem, mas ele ainda está se recuperando. — Diz Leonor fazendo um carinho discreto no cabelo de um dos dois, Matteo.

— Ah, — Esse bufa com ligeira irritação — Mas a gente queria brincar com ele!

Leonor dá um sorriso, lhe agrada saber que os mais novos não estão ciumentos, motivo de uma de suas preocupações.

— Tudo no seu tempo, certo? Por que não vão ajudar o pai de vocês? Ele prometeu tos ensinar a arte do cultivo hoje.

— Verdade! — Luca levantou um braço exclamativo. — Se eu plantar mais que você eu ganho o jogo. O último a chegar é mulher do padre!

O rapazinho corre pelos corredores do casarão, enquanto o irmão revira os olhos em desdém ao jeito do irmão gêmeo. Antes de seguir Luca, Matteo se vira para a mãe.

— Qual o nome dele?

Leonor suspira por costume e observa rapidamente o garoto que está em sono profundo, inquieto. Ela queria saber o seu nome naquele momento.

— Vamos descobrir ainda. Agora vá!

Quando os dois saem ela fecha a porta, planejando abordar seu menino sem que seja difícil demais, e sem precisar chamar Miguel, claro.

Se aproxima em passos lentos e abaixa perto do corpo sonífero do mais novo. Com um pequeno toque no rosto ele acorda assustado, rapidamente se sentando nos lençóis.

— Calma rapaz!

O menino ofega com força, como se fosse tirado de um verdadeiro pesadelo. Leonor não pode evitar fazer mais cafunés nos cabelos em caracóis dele, e este parece não se sentir muito confortável com isso.

— Como está se sentindo? — Pergunta ela com calma.

— Eu to vivo?

— Sim meu querido...— Dispensa quaisquer explicações que envolvam o fato de que ele não é mais um humano. — Se importa de eu perguntar seu nome?

O garoto que antes olhava para o curativo muito bem feito pela moça, agora a fita, confuso.

— Ernesto...

Ele viaja para além dos olhos, se localizando, rebobinando a fita que passou muito rápida pra ele. E então ele se recorda, Celinha está em perigo, então ele volta a repetir isso.

— A minha irmã! Preciso salvar ela...

Ele se ergue enérgico, e se prepara pra levantar. Leonor abre a boca tentando interrompê-lo, mas se assusta ao ver ele apoiar-se no primeiro pé já urrando de dor.

— Não faça isso, menino! — Ela é rápida em se postar do lado dele, tentando trazer seu corpo de volta ao chão, ouvir seu grito lhe causou arrepios na espinha, sempre detestou ver os filhos doentes. — Não vê que está ferido?

O EncouradoOnde histórias criam vida. Descubra agora