Miguel ara a terra cerca de 800 metros de distância da casa onde sua esposa e filho mais novo se encontram. Seus ex-caçulas estão com ele, Matteo segura a enxada com uma certa dificuldade e Luca tenta ir arrancando os matinhos no chão. Eles limpam a região para ser germinada nas próximas semanas.
O homem para por alguns segundos respirando aquele ar úmido do verão, e prevê a chuva. Em meio aos seus planejamentos de fazendeiro pressente mais alguma coisa.
Um vulto, o levantamento de uma leve poeira no seu rosto.
Não demora a constatar: Alguém acabou de passar a toda velocidade na sua frente.Entra em estado de alerta, coisa que seus filhos sequer ainda notaram, e vira o olhar para sua casa bem ao longe.
Leonor em questão de 30 segundos surge na sua frente, já explicando tudo. Ele ouve com atenção e o coração imaginariamente erra as batidas, "O menino fugiu" é o que ela diz.
Ele se pune por saber que isso aconteceria, Leonor nunca recebeu os recém-nascidos sem ele exatamente por isso. Ela vacilou e agora o menino estava sabe-se lá onde.
Matteo e Luca se entreolham, eles ouviram os sussurros desesperados da mãe.
Além de um pai, como um verdadeiro líder Miguel se vira para os dois.
— Fiquem aqui, terminem o serviço.
Luca assente animado, "vai terminar primeiro que o irmão", seu espírito competidor sussurra nos seus ouvidos. Já Matteo arregala os olhos atento a tudo que acontece na fazenda.
Depois Miguel observa sua esposa que está chateada e não esconde isso, ele sente sua decepção em baixar a guarda.
— Venha comigo, nós vamos achá-lo.
Com um meio sorriso, coloca a mão no ombro da mulher no objetivo de confortá-la e em um piscar de olhos, os dois adultos não estão mais ali.
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Enquanto isso, Ernesto para em uma árvore já longe do território de Miguel, apoia a mão no tronco áspero e arqueia as costas.
O que diabos aconteceu? Como ele estava na fazenda e em questão de segundos já não estava lá? Só queria correr, mas não pensou que o faria tão rápido.
Então era verdade? Velocidades monstruosas, sem batimentos e respiração...Não, não podia ser...
Nem a irmã e nem o casal de malucos estavam mais na sua cabeça naquele momento. Ele só queria ir para a vila e contar isso ao delegado, ou ao padre, qualquer um.
Talvez, pensa ele, fossem eles o motivo da matança de gente na floresta, talvez fossem eles que levaram sua irmã.Range os dentes e a ira o toma ao pensar em tamanha possiblidade. "Como podem? Salvaram a minha vida e mataram a minha irmã?!".
Dessa maneira, tirando proveito da nova característica, ele rapidamente cruza aquela floresta determinado a se vingar, e não demora a chegar na vila.
Já amanheceu a muito tempo, e a feira está montada. Olha ao redor, pessoas comprando, outras vendendo, mas principalmente: Homens matando animais.
Ele observa uma galinha ao longe morrendo, seu sangue jorrando, sem cabeça, e então, a salivação, a sede e o suor o invadem. Ele não consegue pensar muito bem, só quer beber aquele líquido que esguicha da pobre galinha prestes a ser vendida.
— Senhor, está bem? — Ele é interrompido por uma transeunte que o percebeu. Seu estado seminu e machucado começa a chamar a atenção. — Tem alguma coisa no seu olho.
A mulher ergue o dedo contra o rosto do rapaz, nota ali algo em Ernesto que ele não pode ver.
O garoto se ocupa de ouvir atentamente um novo tipo de sangue correr pelo pescoço destapado daquela moça que o aborda.

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O Encourado
AcakEm um Brasil de 1960, as lendas voam como pássaros, principalmente depois de um montante de mortes misteriosas acontecerem entre as florestas. O vilarejo está apavorado, ninguém sai de noite. Ernesto, um rapaz de 18 anos que acabou de perder a mãe...