Capítulo 6

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Quando Ernesto abriu os olhos, o primeiro rosto que viu foi o da mulher.

Se sentou na cama completamente perdido. Por que dormiu assim de repente? Por que não conseguira conter sua fome antes e atacou aquele prato como se fosse um animal inconsciente? E por que aquele homem bateu nele como se fosse um moleque? E por...

—Deve estar havendo um mar de perguntas aí dentro, não é meu anjo?

A mulher chamou sua atenção como se lendo seus pensamentos, e os dois ficaram em silêncio por um momento. Um vento abafado entrou pela janela arrepiando os pelos de Ernesto, e isso o fez lembrar de um detalhe terrível: Estava nu. Então rapidamente puxou uma coberta disposta no canto da cama para se cobrir. Leonor suspirou chateada pela falta de confiança da parte do rapaz.

— Não precisa ter vergonha...

Ernesto a ignorou, negando contato visual e apertando o tecido da coberta em busca do concreto, de algo que ele ainda pudesse controlar, o tato.

A mulher suspirou sentida com esse distanciamento que ele queria construir antes mesmo de a conhecer. Então se levantou de sua poltrona no quarto e se sentou na cama de frente para seu menino. Sentiu ele vacilar, mas ainda assim continuar olhando o mosaico da coberta como se fosse uma coisa muito interessante para se observar.

— Eu sei que você está confuso e tem muitas perguntas, está tudo bem..., confie em mim, eu prometo que todas elas serão sanadas.

Levou sua mão para o braço do menino com descrição e ternura, mas assim que Ernesto notou rapidamente afastou um de seus braços.

Leonor não podia cobrar dele que gostasse dela assim como ela a ele o fazia. Então se limitou a voltar sua mão para si mesma. Observou ele com detalhe, e sorriu mostrando paciência e respeito ao seu espaço.

— Os dentes caem rápido, por isso você cuspiu eles. Isso acontece para que as suas presas nasçam no lugar. Qual é a próxima coisa que quer saber? — A mulher no quarto palpitou fazendo o rapaz mover os olhos e mostrar um maior interesse e atenção nas palavras que ela falava.

O menino parecia vencido e cansado. Realmente, não havia sido um dos melhores episódios em família, para todos.

Ela não sairia dali até que Miguel voltasse para substituí-la. Depois daquele deslize o menino não ficaria sozinho até que entendesse tudo que precisava entender.

— Por que cês mataram minha irmã?
O olhar de Ernesto mirou o de Leonor sugestivo e hesitante. A mulher reparou as mãos do rapaz que forçavam um punho fechado, trêmulo. Ele exalava ameaças para a moça com todo o seu corpo.

Leonor respirou fundo, aquilo nem de longe a amedrontava. O encarou, para que ele pudesse acreditar nela, pois falava a verdade e precisava da confiança do seu mais novo caçula.

— Não matamos a sua irmã, Ernesto. Jamais faríamos isso...
O garoto se ergueu como pouca energia.
— E porque não fariam?
— Você deve ter ouvido que os vampiros existem há milênios, há um motivo pelo qual não passamos de rumores: Somos discretos. Existe sim, algo na floresta que está chamando a atenção de todos, mas, provavelmente não é um de nós.
— Acha que foi ele que matou a minha irmã?

O garoto agora se mostrava mais preocupado que antes, falar a verdade não pareceu ajudar e Leonor suspirou cansada.

— Ernesto, não sabemos se sua irmã morreu. Eu não posso te prometer muitas coisas e tem respostas que nem eu sei te dar...
Com um olhar preocupado a mulher o fitou, seus olhos eram amendoados, e estavam em marejo enquanto prestavam atenção em cada som que saia da boca dela. De fato, a irmã era importante pra ele. — Mas eu juro, que você está seguro aqui, e que eu e meu marido vamos fazer de tudo pra te ajudar! Você acredita em mim?

O EncouradoOnde histórias criam vida. Descubra agora