Parte II

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Dava sentir o olhar fixo dele em mim enquanto eu terminava de arrumar minha mala, mas eu me recusava a desviar meu olhar e atenção das roupas que precisavam ser dobradas.

Periodicamente, Jessica, a governanta que trabalhava em minha casa desde a minha infância, entrava no quarto e me entregava algumas coisas que seriam necessárias na viagem. Era a última corrida antes das férias de verão e Carlos tinha pedido que eu o acompanhasse até a Inglaterra, já que iríamos direto para as Bahamas quando o fim de semana em Silverstone acabasse.

– Você sabe que ele é apaixonado por você, não sabe? – Charles disse de repente e eu ignorei, terminando de dobrar a última peça de roupa para colocar na mala. Fechei o zíper ao mesmo tempo que ele respirou fundo, incomodado com algo. – Char, eu não quero ser chato-

– Então não seja, Charles. – Interrompi a fala dele e tirei a mala de cima da cama para que Jessica a levasse para o andar de baixo da casa.

– O que eu quero dizer é que não quero ser chato com você, mas o Carlos também é meu amigo e sou eu que vou ter que consolar ele quando você perceber que não tem como corresponder os sentimentos dele. – Ele falou sério e eu revirei os olhos sem que ele visse. Respirei fundo e virei de frente para Charles, que agora estava de pé e logo atrás de mim.

– E como é que você sabe que não tem como eu corresponder os sentimentos dele, senhor clarividência? – Disse um pouco irritada e Charles suspirou irritado de novo.

– Porque ele é apaixonado por você há dois anos e você nunca ligou, Charlotte. Qual é a desse seu interesse repentino? – Charles falou rápido demais e eu me senti sem palavras, os pensamentos passando rápido demais na minha mente para que eu conseguisse falar algo. – Exatamente, foi o que pensei. Eu te prometo que não vou te encher mais a paciência se você realmente conseguir corresponder os sentimentos dele, mas se você magoá-lo, eu nunca vou te perdoar, por mais que eu te ame.

A única coisa que consegui fazer foi concordar com um aceno de cabeça e logo eu tinha o meu melhor amigo de volta, sorrindo alegre enquanto me puxava para um abraço.

– O que você está achando de passar uma semana todinha comigo, hein? Faz tempo que isso não acontece. – Ele falou sorrindo enquanto me guiava para fora do quarto com um braço sobre meus ombros.

– Tô tão animada, você nem imagina. – Falei com um falso desânimo e ele fez um barulho de decepção, também forçado, antes de rir.

– Tenho certeza que vai ser divertido, princesinha. – Charles falou sorrindo e eu não consegui segurar o meu próprio sorriso enquanto concordava com ele.

(...)

O uniforme vermelho me lembrava de quando a minha própria casa começou a ser avermelhada. Os quadros, fotos e bandeiras foram preenchendo as paredes aos poucos, principalmente no enorme escritório do meu pai. O meu quarto era o único lugar que o vermelho não tinha entrado. Ainda.

As pessoas passavam rapidamente por mim na garagem espaçosa, mas cheia. Terminando os ajustes finais no carro de Charles enquanto ele conversava com o meu pai em um canto afastado da garagem. O primeiro treino livre aconteceria em quarenta minutos e eles provavelmente estavam discutindo coisas que eu não fazia questão nenhuma de saber ou entender.

Do outro lado, separados por uma parede fina, estava a equipe de Carlos, tão ou mais apressada do que a de Charles do lado de cá. Sorri ao cruzar o olhar com o de Carlos e ele sorriu levemente em resposta, voltando a conversar com o próprio engenheiro.

Observá-lo tão concentrado era estranho, já que eu nunca tinha o acompanhado em uma corrida. O Carlos sempre foi bonito, o galã do grid, e ele tinha aquele charme espanhol que deixava as pessoas suspirando por onde ele passava. Eu não me lembrava de já ter suspirado por ele alguma vez, mas agora a história era (um pouco) diferente.

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