Parte VIII

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Os catálogos de paletas de cores eram intermináveis aos meus olhos enquanto eu tentava decidir qual delas eu escolheria para a decoração da cerimônia e da festa do meu casamento com Carlos.

Do lado de fora, eu conseguia ouvir Jessica dar instruções aos funcionários que estavam preparando o jardim para o maldito jantar de noivado que meus pais insistiram que deveria ser feito.

Ana e Blanca, minhas cunhadas, estavam sentadas do outro lado da mesa redonda em que estávamos, também folheando catálogos de decorações que poderiam ser utilizadas no casamento. Eu não precisava sequer perguntar para saber que elas estavam desconfortáveis com alguma coisa, ainda mais do que eu e Lottie.

– Ana, Blanca, mamá quer vocês no jardim. – Carlos disse ao entrar na sala em que estávamos e eu desviei o olhar da paleta azul e marrom que estava analisando. Minhas cunhadas pediram licença e saíram da sala junto de Carlos, me deixando apenas com Lottie e os catálogos.

– Você também percebeu que elas não queriam estar aqui ou eu estou paranoica? – Lottie falou baixo e eu não consegui segurar a risada, concordando com ela. – Nossa, eu tenho certeza que a dona Reyes obrigou elas a te ajudarem.

– Eu tenho certeza disso também... É óbvio que esse casamento não é bem-vindo por nenhuma das duas famílias. – Falei fechando o catálogo com força e Lottie fechou o dela também, respirando fundo. – Ainda me pergunto o que foi que me deu pra aceitar isso...

Antes que ela dissesse qualquer coisa, Jessica entrou no cômodo para avisar que já estava tudo pronto para o jantar. Concordei silenciosamente e ela saiu, voltando a me deixar sozinha com Lottie.

– Não senta longe de mim, por favor. – Pedi para Charlotte antes que saíssemos da sala e ela concordou, segurando minha mão em sinal de força. Andei até o lado de fora e a primeira pessoa que vi foi Lando, conversando animadamente com Carlos e... Daniel Ricciardo?

Andei até eles devagar e recebi um sorriso satisfeito de Carlos ao me ver ali.

– O assunto chegou? – Perguntei rindo e observei as bochechas de Lando ficarem vermelhas enquanto ele coçava a nuca, sem jeito. Não consegui segurar minha risada e acariciei o ombro dele para acalmá-lo. – Tá tudo bem, Landinho. Eu sei que o Carlos vive falando mal de mim pelas minhas costas.

– Charlotte! – Carlos falou exasperado e eu ri novamente.

– Eu sei de tudo, mon amour, nem adianta disfarçar. – Foi a vez de Daniel rir e eu pisquei com um olho só para ele, que balançou a cabeça negativamente.

– Charlotte, precisamos de vocês na mesa. – Minha mãe interrompeu nossa conversa e eu me segurei para não revirar os olhos para ela enquanto acompanhava meu noivo e os amigos até a mesa.

De todas as pessoas sentadas, a única que realmente não me chamou atenção de estar ali foi Fernando. Ele estava sentado logo ao lado de meu pai, que estava ao lado de Carlos. Com as mulheres de um lado da mesa e os homens do outro, eu acabei ficando de frente para o meu noivo e ao lado de minha mãe e de Charlotte.

– Boa noite a todos! – Meu pai começou a falar, parecendo feliz e eu me controlei para não revirar os olhos novamente. – É com muito prazer que recebo todos vocês em minha casa para comemorarmos o noivado de minha filha, Charlotte Boissonnet, com Carlos Sainz Vázquez de Castro.

O sorriso forçado em meu rosto permaneceu enquanto os pais de Carlos falavam, com o mesmo tanto de fingimento que eu estava usando para sorrir, sobre como estavam felizes de saber que a noiva do filho deles era de uma família "tão nobre quanto a minha". Mal sabiam eles a que custo essa nobreza toda foi adquirida.

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