O cheiro ambarado era agradável ao meu nariz quando eu acordei, e era completamente diferente do amadeirado que eu estava acostumada. Respirei fundo, relutando em abrir os olhos e senti um beijo carinhoso na minha testa enquanto o abraço em que eu estava envolvida apertava momentaneamente.
– Bom dia. – Murmurei contra o pescoço de Fernando e ouvi a resposta murmurada dele chegar aos meus ouvidos. – Acho que a gente precisa conversar, não é?
– Com certeza... – Ele respondeu rindo e eu não consegui segurar minha própria risada. Eu agradecia silenciosamente que ele tinha sido tão compreensivo comigo no dia anterior, além de ter realmente ficado comigo para que eu não voltasse a chorar sozinha durante a noite.
Eu sentia o olhar de Fernando fixo em mim enquanto eu passava pela casa, arrumando as coisas de Carlos em uma caixa para poder devolver a ele quando terminasse o relacionamento.
– Você não vai comer? – Fernando perguntou e eu balancei a cabeça negativamente, ainda concentrada na minha tarefa. – Char, não vai adiantar fazer isso agora. Vem comer.
– Fernando, eu estou com muita raiva para simplesmente sentar e comer. – Falei enquanto jogava duas camisas de Carlos na caixa, sem ter o mínimo cuidado de dobrá-las.
– Isso não vale uma gastrite, Char, venha comer. – Fernando falou sério e eu parei, rindo em derrota. Joguei a última camisa na caixa e me deixei ser levada até a sala de jantar, onde ele tinha colocado as coisas que eu tinha pedido da padaria para podermos tomar café da manhã.
Sentei em uma das cadeiras e peguei um croissant, que já estava frio, enquanto Fernando colocava um pouco de café em uma xícara para mim. Havia um elefante no meio da sala, mas eu não sabia como me aproximar daquele tópico.
– Perdão. – Fernando disse baixo depois de longos minutos de silêncio e eu tomei o último gole de café antes de respondê-lo. – Eu sei que fui péssimo com você durante todo esse tempo...
– Por que? – Eu perguntei, um pouco engasgada com aquela pergunta e o observei respirar fundo, os olhos levantando da xícara de café vazia para o meu rosto. – Por que você sempre foi tão ruim comigo se você diz que era apaixonado por mim?
– Eu sou apaixonado por você, Charlotte. – Ele reafirmou e eu apenas concordei com a cabeça, esperando a explicação. – Eu não podia contar para o seu pai que eu estava apaixonado pela filha adolescente dele, não é? Ele é meu melhor amigo e eu ainda sou quinze anos mais velho que você.
– Fernando, isso não justifica todas as coisas horríveis que eu já ouvi de você. – Sentindo o choro quase fechar minha garganta, eu respirei fundo, ainda aguardando a explicação total.
– Aquilo não eram minhas palavras, Charlotte. Eu repito, seu pai é o meu melhor amigo e não tem comunicação entre vocês, eu só falava o que ele me pedia para dizer. – Ele explicou, a expressão um tanto desesperada, e eu senti as lágrimas embaçando minha visão. – Foi assim com todos os seus namoros. 'Fernando, se livre dele', 'Fernando, você precisa ser mais duro', 'Fernando, você é o único que ela ouve e nós não sabemos o porquê'. Charlotte, eu nunca seria capaz de colocar em você a culpa das traições dos seus namorados. Assim como eu nunca seria capaz de dizer todas aquelas coisas horríveis sobre você.
"Você sabe como seus pais são, mas eles me ajudaram demais na Ferrari, com o divórcio, com a minha volta para a Fórmula Um, então eu não podia simplesmente me afastar deles... E eu também não queria ficar longe de você."
Tudo aquilo era absurdo demais aos meus ouvidos para ser verdade, então eu me resignei a rir, percebendo que eu tinha sido manipulada por mais da metade da minha vida. E agora, eu também estava sendo manipulada pelo meu "noivo" por um capricho dele.
– Eu sempre estive do seu lado nas conversas e discussões que tinha com seus pais, Char... E eles achavam extremamente incômodo que você desse valor à minha aprovação e à deles não. – Com a última frase, eu não consegui segurar a risada, talvez feliz por saber que meus pais sabiam que eu não dependia mais da aprovação deles para nada, mas talvez confusa demais para expressar uma só reação. Quando limpei as lágrimas que caíram de raiva e pela risada descontrolada, vi que Fernando estava muito mais perto de mim do que eu pensava, o cheiro do perfume dele novamente chegando às minhas narinas.
E em um ímpeto de coragem, eu levantei minhas mãos para poder segurar o rosto dele cuidadosamente, meus olhos oscilando entre os olhos castanhos e os lábios dele. Aproximei meu rosto do dele e fechei os olhos, sentindo ele terminar o "caminho" e juntar nossos lábios cuidadosamente. Naquele momento, eu sentia que tudo estava vermelho ao meu redor. Transbordando o desejo, a paixão e raiva que eu tinha reprimido durante toda a minha adolescência.
O barulho das cadeiras arrastando não foram nada aos meus ouvidos enquanto eu me deixava ser guiada por Fernando de volta para o meu quarto. Minha camiseta já tinha sido jogada em algum canto da casa, assim como a de Fernando, quando deitamos na minha cama novamente.
Meus dedos tentavam desfazer o botão da calça jeans dele quando o meu celular tocou, o toque específico de Carlos me fazendo paralisar automaticamente antes de olhar para Fernando, pedindo ajuda silenciosamente.
– Atende... Vocês ainda estão noivos. – Ele murmurou e deitou ao meu lado para poder me deixar esticar o corpo para pegar o celular na mesa de cabeceira.
– Alô? – Murmurei contra o celular e ouvi Carlos me cumprimentar animado ao mesmo tempo que Fernando se arrumava sentado atrás de mim, as mãos acariciando meu tronco coberto apenas pelo sutiã, os lábios depositando beijos pelo meu pescoço e nuca devagar.
– Dormiu bem, cariño? – Carlos perguntou do outro lado da linha e eu fechei os olhos, aproveitando as carícias de Fernando enquanto inventava uma resposta que fosse agradar Carlos o suficiente para que ele não estendesse a ligação mais do que o necessário. – Eu te liguei para avisar que o pessoal do buffet me ligou agora há pouco e confirmou tudo para o casamento, tá? Não precisa mais se preocupar com isso.
– Uhum... – Murmurei a resposta, tentando disfarçar um gemido de satisfação enquanto sentia Fernando morder a pele sensível da minha nuca, uma mão segurando meu cabelo firmemente entre os dedos para me manter na posição que ele queria. – Tudo bem, Carlos... Eu tô um pouco ocupada aqui, posso te ligar mais tarde? Um artista está tendo problemas com as músicas e eu preciso resolver.
– Ok, cariño! Boa sorte aí, te quiero mucho. – Respondi genericamente e desliguei a ligação, seguida do aparelho para ninguém mais me incomodar. O barulho do celular caindo no chão foi o suficiente para fazer Fernando rir contra a pele do meu pescoço.
– Ele é tão ruim a ponto de te deixar carente assim ou eu sou especial? – Ele sussurrou contra meu ouvido e eu senti um arrepio passar por todo o meu corpo, me deixando ainda mais submissa a ele naquele momento. – Huh, parece que eu sou especial mesmo...
– Só você... – Sussurrei alto o suficiente para ele ouvir e me surpreendi quando ele me puxou de frente para ele, para conseguir beijar meus lábios de maneira mais livre. – Você não sabe quanto tempo eu esperei por isso...
– E você não sabe o quanto isso me deixa feliz, mi cielo.
CIELO!
É oficial, então.
Eu estou, e sempre fui, perdidamente apaixonada por Fernando Alonso.
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Deceived
Fiksi PenggemarAté que ponto a profissão, o dinheiro e a paixão influenciam a vida das pessoas? Italiana radicada em Mônaco, Charlotte Mazza é filha de um dos engenheiros da Ferrari e aqui ela conta a sua história em primeira pessoa, apesar de não ter a autoestima...