Parte V

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Monza era uma cidade linda, apesar de todo o vermelho Ferrari que tinha naquela cidade.

Andando pelo paddock, eu me perguntava porquê ainda deixava Charles me arrastar para esse grand prix, algo que acontecia todo ano desde que ele começou a correr pela Ferrari. A camiseta vermelha que eu estava usando cheirava a amaciante de roupas e era claro que não era minha. Até porque, eu me recusava a usar qualquer coisa que tivesse a ver com a Ferrari em dias normais.

Quando bati na porta do motorhome de Carlos (a única razão por eu ainda não ter voltado para Mônaco), ouvi um clique ao longe e vi um fotógrafo tirando fotos de alguém que andava pelo paddock. Virei de costas para a porta para olhar na direção em que a câmera estava apontada e vi Fernando chegando, ele sorria enquanto acenava para as pessoas e fotógrafos que estavam por ali.

O olhar dele cruzou com o meu e eu quis vomitar.

Entrei no motorhome assim que a porta foi aberta e abracei Carlos, sabendo que Fernando ainda estava olhando quando a porta foi fechada.

– Bom dia, pole-sitter! – Falei entre o abraço e senti a risada de Carlos em minhas mãos que estavam apoiadas em seu peito antes de ouvi-la sair pela boca dele.

– Bom dia, cariño. Dormiu bem? – Ele perguntou carinhosamente após beijar o topo da minha cabeça e eu me afastei do abraço para poder beijar-lhe as bochechas.

– Meu sono foi razoável... Não gosto muito de estar nessa cidade. – Ele concordou com um barulho baixinho e eu sorri, me segurando para não beijá-lo ali mesmo.

Eu conversava com Lottie por mensagem quando Carlos me avisou que precisava ir para a garagem. Levantei do sofá e estendi minha mão para poder segurar a dele antes de sairmos do motorhome.

Quando chegamos à garagem, Lottie já estava sentada lá, com o headphone vermelho para se proteger do barulho alto das máquinas. Acenei para ela e sentei no banco pequeno ao lado da estante com o nome e número de Carlos, logo também colocando o headphone vermelho sobre minhas orelhas.

Novamente, eu não fazia questão de prestar atenção no que acontecia ao meu redor, então me resignei apenas a observar enquanto Carlos e os engenheiros arrumavam tudo para a corrida que aconteceria em pouco tempo.

Quando os carros saíram da garagem, o sol já não estava tão forte, mas ainda estava quente. Eu ouvia, bem ao fundo, o narrador falar na televisão sobre como o desgaste dos pneus atrapalharia a corrida porque a pista estava quente demais.

As voltas em Monza eram sempre mais emocionantes para a Ferrari, porque os fãs eram absurdamente apaixonados e a energia deles era quase palpável. Não conseguia negar que até mesmo eu ficava emocionada ali.

Quando Charles foi tocado por Lando faltando 5 voltas para o final, Carlos assumiu a primeira posição, deixando Charles na terceira posição e Lando na segunda. Eu conseguia sentir os engenheiros e mecânicos segurando as emoções para não comemorar antes da hora.

Os gritos dos fãs quando Carlos cruzou a linha de chegada pareciam me puxar para o lado de fora, onde toda a equipe estaria. De alguma maneira, os mecânicos abriram caminho para que eu chegasse até a grade perto dos carros dos três primeiros.

Os gritos dos tifosi reverberavam por todo o lugar, as bandeiras vermelhas e amarelas atrás de mim não me incomodavam enquanto eu observava Carlos e Charles saírem de dentro dos cockpits.

Assim que Carlos cumprimentou a equipe, ele andou na minha direção, os olhos fixos nos meus, mesmo que por dentro do capacete. Eu não conseguia me ver, mas sabia que estava sorrindo como uma idiota.

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