Capítulo 11

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Minha mãe sempre soube o que eu ia falar, antes mesmo de eu sequer abrir a boca. Era frustrante, pois é sempre bom observar o rosto surpreso de alguém quando você despeja algo, mas, em algumas situações, quando você não quer falar, a melhor sensação é quando alguém já sabia o que você iria dizer.

A segunda situação acabara de acontecer.

Eu estava jantando, aproveitando minha última noite na casa dos meus pais, pensando em qual seria a melhor abordagem para falar sobre o dinheiro que eu dava a eles. Quando tomei coragem e disse "mãe, pai, queria falar algo com vocês", estava com o estômago revirando de nervosismo, mas Sinu se adiantou.

— É sobre o dinheiro, certo?

Fiquei vários segundos parada, sem saber o que falar.

— Como você sabia? — perguntei, a boca aberta.

— Ah, querida — Meu pai começou. — Quando você nos falou do problema no apartamento já imaginávamos, na verdade, já fazia um tempo que nós mesmos queríamos falar sobre isso. Não há necessidade de você dar esse dinheiro.

Minha mãe concordou.

— Você trabalha e estuda demais e agora com esse problema no apartamento... Precisa parar de querer fazer tudo ao mesmo tempo e analisar suas prioridades. — Era a segunda pessoa que me falava isso.

— Mas...

— Não precisamos desse dinheiro. — Sinu interrompeu. — Eu agradeço a sua iniciativa durante todos esses anos, meu amor, mas vivemos bem com o que nós dois recebemos. Não faz sentido você ficar tão apertada, podendo usar esse dinheiro pra ajudar.

Assenti, ainda triste. Eu queria ajudá-los, ainda assim.

Meu pai pegou minha mão.

— Vai ter muito tempo para cuidar de nós dois quando estivermos velhos e usando fraldas.

Sorri, me sentindo mais aliviada, apesar de ainda não gostar da situação.

O plano era ficar na casa dos meus pais até depois do Ano Novo, contudo, uma viagem de última hora fez eles irem até outro estado, por causa de algumas coisas do trabalho, logo, voltei para o apartamento dos garotos.

Aparentemente, eu iria romper o ano sozinha. Não era tão deprimente quanto parecia, eu podia olhar os fogos pela janela.

O local estava silencioso quando eu entrei, pois todos os meus amigos estavam com a família nessa época. Deixei minha mala no quarto, decidindo arrumar depois. Na verdade, nem séria necessário, visto que em dois dias iria para o meu apartamento.

Deixar aquele lugar me entristecida, pois me habituei à viver com todos os meus amigos, apesar do estresse com a bagunça.

Decidida a não desanimar com isso, resolvi cozinhar algo. Se eu fosse romper o ano sozinha, que pelo menos fosse comendo algo bom.

Estava na metade do jantar quando ouvi um barulho dentro de casa. Fiquei parada, querendo saber se foi real ou apenas coisa da minha cabeça. Quando o barulho se repetiu, o medo preencheu meu corpo.

Será que alguém tinha invadido?

Peguei meu telefone, me preparando para ligar para a polícia, quando uma sombra surgiu no corredor. Shawn surgiu, o rosto amassado e confuso.

— Camila? O que você tá fazendo aqui? — murmurou, piscando várias vezes, como se estivesse se perguntando se era ou não uma alucinação.

— O que eu estou fazendo aqui? O que você está, não deveria estar com seus país? — perguntei.

PlatonicOnde histórias criam vida. Descubra agora