Prólogo

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Eduarda abriu os olhos mas não quis se levantar

Ficou deitada e viu que horas eram

Eduarda e Mônica - Legião Urbana

São Paulo - 2020

Brittany Eduarda abriu os olhos.

7:03

A garota loira havia aberto os olhos mas não despertado completamente. Entre os vários pensamentos de uma mente adolescente recém acordada, por instantes riu sozinha sobre a curiosidade de seu nome.

Seu pai cismava que queria Eduarda, sua mãe preferia Brittany. A solução mais apropriada para evitar maiores discussões foi juntaram os dois nomes e assim com a família ela era Eduarda, com os amigos e outras pessoas ela era apenas Brittany. Brittany Eduarda Pierce, no auge de seus 16 anos estava se conhecendo. Não, talvez se descobrindo, essa é a verdade.

Se na agitada cidade de São Paulo, acidentes de trânsito, enchentes ou estações lotadas de metrô eram notícia de televisão, então só havia uma explicação para a cama estar tremendo daquele jeito.

- Lucas, para, tá muito cedo. - E Brittany Eduarda arrancou o travesseiro de debaixo da cabeça e atirou no irmão pulando em cima dela. - Hoje é sábado. Dá um tempo.

- Hoje é o campeonato do vovô. Acorda! - Lucas continuou saltitando, indiferente às dificuldades de uma adolescente em levantar cedo depois de ter ido dormir de madrugada por causa de uma festa. Mas o pestinha chegava lá. E Brittany não ia perder uma oportunidade de vingança.

A festa.

Mais um fracasso.

Mais um motivo para hibernar na cama mais tempo que pudesse.

- O campeonato começa às dez. - Brittany derrubou o irmão na cama e o segurou pelos braços e pernas. - Eu falei pra parar! Que saco!

- Mãããeee!!! - O criador de confusão da casa não deixou por menos. - A Duda tá me machucando!

Lucas sempre a chamava pelo assim, no caso um apelido carinhoso para seu segundo nome.

Brittany o soltou imediatamente, uma batalha que ela não ganhava nunca quando um dos irmãos menores reclamava dela para a mãe. Não interessava de quem era a culpa, a corda sempre arrebentava do lado mais forte, no caso, o de Brittany. Lucas saiu correndo, mas parou na porta antes de sair.

- O vovô quer treinar com você antes de ir. Ele disse que você tem quinze minutos pra ir tomar café.

Quinze minutos que seriam muito bem aproveitados, obrigado.

Brittany pegou o travesseiro do chão e se ajeitou nos lençóis macios. Vencer a preguiça não ia ser fácil, mas ela fazia qualquer sacrifício pelo avô e se ele queria colocar o time de futebol de botão para treinar antes do campeonato, era isso que eles iriam fazer.

Quem sabe ela não encontrava a Emily no clube?

Ainda era cedo, mas a faixa de sol entrando pela janela já estava queimando seu pé. A Emily não ia perder a chance de pegar uma piscina. Brittany podia ir de biquíni por baixo do calção e depois de assistir o avô recebendo o troféu de campeão, coisa certa (nenhum dos outros velhinhos do clube era fera como ele) Brittany podia se juntar à Emily, assim como quem não quer nada. Ou talvez, melhor deixar para lá. Melhor pegar leve e dar um tempo depois do fiasco da noite anterior.

Se ao menos a experiência de Brittany com garotas não se resumisse a apenas uns beijos aqui, uns rolos ali, ela podia tentar não bancar a idiota com uma menina que estava se mostrando mais complexa do que a assembleia da ONU para discutir o desarmamento nuclear. Emily estava lhe dando bola há semanas e na festa de ontem, as duas tinham batido altos papos, dançado três músicas lentas seguidas, bem coladinhas, e na hora que Brittany subiu a mão bem devagar até a nuca da gatinha, a pele dela se arrepiou e ela tomou coragem para fazer o que estava doida para fazer há um tempão, beijar aquela boquinha linda. O empurrão que a garota lhe deu pegou Brittany de supresa, e ela ficou com cara de tacho bem no meio do salão. Tudo bem, as meninas gostavam de se fazer de difíceis, nenhuma delas queria ficar com fama de adolescente gay, mas cara, isso estava ficando ridículo.

EDUARDA & MÔNICA        BRITTANAOnde histórias criam vida. Descubra agora