02 - Avião Caça

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Diana

Estacionei o carro na garagem e logo pude ouvir as vozes altas e masculinas vazando pelas paredes. Uma indicação de que havia mais gente em minha casa.

— Droga. - Sibilei, fechando os olhos e encostando a testa contra o volante.

Meus dedos apertaram o aro circular  e soltei um suspiro longo, exausto.

Levei alguns segundos para me preparar mentalmente e sair do veículo, batendo a porta do automóvel antes de amarrar a jaqueta ao redor da cintura para enfrentar aquela situação que nunca deixava de ser desconfortável – por mais rotineira que fosse.

Abri a porta de entrada e dei alguns passos para dentro, sendo engolfada pelo cheiro de nicotina que impregnava todo o ambiente.

— Cheguei. - Anunciei em um fio de voz, adentrando a cozinha.

Automaticamente várias cabeças se viraram em minha direção e lutei contra o ímpeto de me encolher, intimidada.

— Demorou, menina. - Meu pai disse, sentado em uma das cadeiras da mesa, as outras eram ocupadas pelos seus amigos, todos portando cigarros e copos com bebidas alcoólicas.

— É, peguei detenção. - Dei de ombros sob o olhar dos homens que me encaravam com muita atenção.

— Hum. - As íris cinzentas do meu progenitor estavam fixas em mim enquanto ele levava o cilindro branco até a boca, tragando demoradamente.

Meus olhos percorreram com rapidez o rosto dos presentes, todos ainda me observando sem nem tentarem disfarçar. Desviei o olhar para baixo, sentindo-me suja e indefesa, deixei meu tênis arranhar o chão e apoiei o quadril contra a pia.

— Hum, então... - Limpei a garganta, forçando as palavras para fora da boca. — Seus amigos vão ficar pra jantar?

Torci para que o meu tom de voz demonstrasse indiferença o suficiente para camuflar o quanto aquela ideia me deixava desconfortável.

— Não precisa fazer a janta hoje, preciso que você vá num lugar pra mim. - Lawrence, meu pai, disse, terminando de soltar a fumaça mal cheirosa na atmosfera.

Não consegui refrear a lamúria de reclamação que me escapuliu e notei a testa do meu pai se franzindo em desagrado perante o som.

— Algum problema, Diana? - Questionou, seco.

E no fundo eu sabia que não era inteligente respondê-lo, principalmente estando na frente de outras pessoas. Mas, naquele momento, não consegui me conter:

— Tá meio tarde, pensei que eu poderia ficar em casa hoje e... - O resto da frase não chegou a sair dos meus pensamentos, porque logo captei o olhar gélido de reprovação e o movimento quase imperceptível que meu progenitor fez.

Suas mãos se fecharam em punhos sobre o tampo da mesa.

Mãos grandes e fortes, que ganhavam dinheiro sujo e puxavam gatilhos... Mãos que batiam e deixavam ferimentos.

— E o quê, Diana? - Perguntou, a voz dura, em um tom de advertência que eu conhecia muito bem.

Mirei seus olhos cinzas, tão parecidos com os olhos que me encaravam de volta toda vez que eu fitava algum espelho, e meu coração passou a bombear mais rápido com a ameaça silenciosa que aquelas duas orbes direcionavam a mim.

Um calafrio de medo me percorreu e engoli em seco, balançando a cabeça em negação logo em seguida.

— Nada. - Murmurei baixinho, a boca seca. — Eu posso ir, sim, só me deixa tomar um banho primeiro...

Não Quebre a Terceira RegraOnde histórias criam vida. Descubra agora