08 - A Terceira Regra

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"Abençoados os corações flexíveis;
Pois nunca serão partidos."

– Albert Camus

Marcus

Meus olhos estavam fixos nos lábios de Diana conforme eles se moviam, enfim revelando a terceira regra de nosso acordo:

— ... a terceira e última regra é: você não pode confundir as coisas. - Declarou, fazendo me unir as sobrancelhas em confusão.

— Como assim 'confundir as coisas'? - Indaguei de braços cruzados.

Assisti ela umedecer os lábios, desviando o olhar de mim por um instante e torcendo as mãos sobre o colo de maneira inquieta.

— Tudo o que vamos fazer... o que eu vou fazer, é uma atuação. - Murmurou em um tom reservado. — Não quero que você pense que existe algo além disso da minha parte. É um acordo impessoal, sem envolver sentimentos. E se eu perceber que você está começando a levar tudo a sério demais, se perceber que está  misturando as coisas... Vou pular fora.

Sua declaração me fez molhar os lábios, ponderando, e corri a mão esquerda pelo cabelo, analisando o rosto da garota à minha frente com cautela.

— E por que você acha que eu vou me apaixonar por você? - Devolvi, curioso, e em resposta ela torceu o nariz.

— Eu não usei essas palavras. - Rebateu, levantando-se de onde estava sentada e começando a circular o banco de ferro do vestiário devagar. Meus olhos acompanharam cada gesto do seu corpo, o balançar sutil da saia ao redor das coxas.  — Marc, você dá em cima de mim desde que nos conhecemos... Não sei se é sério ou não, mas se for, não quero que você pense que ao aceitar esse acordo eu estou correspondendo aos seus flertes.

Diana colocou ainda mais distância entre nós dois, fazendo o espaço parecer infinitamente maior do que parecia alguns segundos atrás, até que ela parou na outra ponta do vestiário e me olhou de soslaio, brevemente.

— Não estou. E não pretendo fazer isso nunca. - Afirmou, ajeitando o cabelo atrás da orelha.  — Quero que você tenha isso em mente durante todo o processo.

Com um suspiro, desencostei-me dos armários, dando passos lentos e calculados em direção a ela, fazendo uma careta pensativa.

— Essa regra só vale pra mim? - Questionei, aproximando-me enquanto ela se afastava. — E se você começar a confundir as coisas? Se você começar a envolver seus sentimentos nesse acordo?

— Acho que as chances disso acontecer são mais baixas do que o contrário. - Anunciou, convicta, no mesmo minuto em que percebeu que estava encurralada, as costas contra a parede.

Ela rapidamente olhou para trás assustada e então suas íris chocarem-se contra as minhas, as pupilas levemente dilatadas em uma expressão indecifrável enquanto suas mãos se cerravam em punhos ao lado do corpo.

— Mas existem chances então? - Indaguei com a voz suave, estacionando em sua frente e me inclinando apenas um pouco para ela.

Diana me encarou profundamente, os lábios entreabertos, no meio de uma respiração profunda que fez seu peito subir. A atmosfera ao nosso redor era densa e quente e elétrica, a ponto de me esquecer que havia acabado de sair de um banho frio....

— Talvez... - Comentou por fim, soltando o ar de uma única vez, sem nem piscar enquanto suas íris estavam presas as minhas.

Abri um sorriso com sua resposta e me permiti pender com o corpo um pouco mais em sua direção, seu cheiro invadindo meus sentidos. Ela umedeceu os lábios, e rapidamente olhou para baixo, constrangida.

Não Quebre a Terceira RegraOnde histórias criam vida. Descubra agora