04 - A proposta

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Marcus

O sinal da primeira aula soou no exato segundo em que pisei em terreno escolar. O estacionamento estava vazio, o que significava que eu era o único idiota ali a chegar atrasado.

— Merda! - Xinguei, sabendo que a classe em que eu deveria comparecer ficava do outro lado da porra do prédio e os corredores estariam apinhados de gente tentando se locomover.

Dito e feito.

Assim que cruzei as portas de vidro, fui engolido pelo falatório incessante e o aglomerado de alunos que transitavam de um lado para o outro às pressas, como um maldito formigueiro.

— Dá licença, tô passando! - Anunciei enquanto me enfiava no meio deles, me esquivando dos corpos que encontrava pelo caminho.

Ao chegar em meu armário, fiz a combinação necessária para destrancá-lo com rapidez, dando o típico soco na portinhola azul para obrigá-lo a abrir. Apanhei o livro necessário, corri o zíper da mochila para pescar meu caderno e o estojo que estavam ali e, assim que os alcancei, joguei a bolsa dentro do compartimento.

Mal tranquei tudo novamente e já estava trotando em direção a classe, afobado.

Foi impossível não notar que a quantidade de pessoas perambulando por aí em busca de suas salas já havia diminuído durante aquele curto espaço de tempo, e meu coração deu um salto de desespero diante da ideia de chegar atrasado e pegar detenção mais uma vez, consequentemente perdendo o treino de futebol – uma das poucas coisas que mantinha minha sanidade.

Virei uma esquina derrapando e o meu tênis causou um barulho agudo, que reverberou pelo ambiente.

Os últimos alunos adentravam a sala e de imediato reconheci a careca brilhosa do professor encarregado por ensinar História do Mundo aproximando-se, perigosamente perto da porta de entrada.

Ao me ver distante, o velho abriu um sorriso perturbador, gelando minha espinha.

Uma onda de adrenalina dispersou pelo meu corpo ao visualizar aquilo, obrigando-me a acelerar ainda mais o meu passo.

Porém, nem mesmo a rapidez com a qual me movi por aquele curto trajeto foi capaz de superar a vontade que o senhor Robert tinha de me foder. Porque em questão de segundos o velho adentrou a sala e fechou a porta na minha cara no exato momento em que estacionei em frente ao umbral.

— Ah, por favor! Me deixa entrar, eu não tô atrasado hoje! - Implorei, juntando as mãos em forma de prece ao observá-lo pelo vidro retangular.

— Não estava dentro da sala quando eu cheguei… Então está atrasado, sim. - Ele rebateu, seu sorriso sádico aumentando. — Vá pegar o seu passe pra detenção, senhor Marcus.

Soltei uma lamúria alta, contraindo as sobrancelhas.

— É sério? - Reclamei, meus lábios se curvando para baixo em desgosto.

— Seríssimo. - Rebateu, impassível. — Vá pegar o passe, rapaz.

Bufei alto e apertei os lábios em uma linha tensa, insatisfeita. Então, meio contrariado, ergui o polegar para ele em uma joinha, desejando poder mostrar-lhe outro dedo.

Girei sobre o meu próprio eixo e comecei a me afastar da sala, chutando o chão ao amaldiçoar:

— Que inferno!

Caminhei até a secretaria com passos duros, praguejando sem parar, indignado com a audácia daquele homem em me deixar para fora e ainda me dar detenção. Apertava o caderno e o livro com tanta força que os nós dos meus dedos se encontravam brancos quando parei em frente a blindagem que separava os funcionários da secretaria dos alunos.

Não Quebre a Terceira RegraOnde histórias criam vida. Descubra agora