12 - Iniciação

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Eu nunca acreditei em milagres,
Mas eu sinto que é hora de tentar
Eu nunca acreditei nos caminhos da mágica
Mas eu estou começando a perguntar o por quê”
- You Make Loving Fun

Diana


O clima tenso que pairava no ar estava me sufocando.

Ficar no mesmo ambiente que minha mãe, desde o desentendimento que tivemos dias atrás, tinha se tornado completamente desconfortável. Não me sentia mais bem vinda naquela casa e não sabia dizer se era algo da minha cabeça ou não.

Liên não estava falando comigo, mal se dignava a olhar em minha direção. Talvez ela estivesse esperando um pedido de desculpas de minha parte ou algo do tipo, mas… Parecia que algo em mim estava bloqueado. Por mais que tudo aquilo me fosse incômodo, eu ainda não conseguia ceder esse tipo de vulnerabilidade a ela, queria me desculpar, porque me sentia culpada; contudo, as palavras “sinto muito” se agarravam as minhas cordas vocais e se recusavam a sair.

No fundo eu esperava que as coisas se resolvessem por conta própria, e o mais rápido possível, porque não saber como eu poderia agir ou não com ela me deixava ansiosa. Eu estava acostumada com os gritos e agressões de Lawrence quando ele se irritava comigo, já o  tratamento do silêncio de Liên era uma novidade desagradável.

Sai de casa sem me despedir e o barulho da porta se fechando pareceu reverberar dez vezes mais alto do que realmente era. Puxei o ar profundamente, afim de aquietar meu coração e meus pensamentos e caminhei em direção ao meu carro para buscar Marc e sua irmã como havia se tornado costume.

Podia sentir o aperto em meu peito se desfazendo pouco a pouco conforme me afastava daquele lugar e, no fundo de minha mente, notei que fazer o caminho até Marcus havia se tornando um tanto terapêutico para mim, não sabia definir o porquê: se era pelos poucos minutos sozinha, apenas sentindo a paz me invadir enquanto a brisa balançava os meus cabelos, ou porque sabia que dali a poucos minutos minha mente seria distraída com as implicações entre os dois irmãos.

Contudo, dessa vez quando estacionei o carro em frente a fachada da casa simples, a única pessoa à minha espera era Marc.

Ele estava sentado próximo a porta, lendo algum livro em silêncio enquanto a luz da manhã batia em seu perfil, iluminando os cabelos castanhos e os olhos verdes. E, por algum motivo, a forma como ele parecia – tão sereno, tão centrado, tão inteligente – ao virar as páginas tranquila e demoradamente com as mãos grandes me fez soltar um longo suspiro… O que fez meu coração acelerar de vergonha assim que me dei conta, sentindo minhas bochechas começarem a arder de imediato.

O que foi isso?!, me questionei indignada com a minha própria reação e balancei a cabeça para evitar pensar muito nisso.

Nesse mesmo minuto, Marcus pareceu notar minha presença ali e levantou o olhar intenso em minha direção, fazendo minha pulsação acelerar ainda mais, nervosa, como se ele pudesse ler através de mim.

— Ah, oi, linda. - Cumprimentou, abrindo um sorriso sossegado enquanto se levantava. — Tudo bem?

— Sim, sim. - Respondi apressada e, sem saber reagir, soltei uma risada nervosa. — Por que eu não estaria bem?

O rapaz arqueou a sobrancelha para mim, estranhando-me.

— Ué, sei lá, não pode perguntar não? - Devolveu, abrindo a porta do passageiro e largando o corpo ali ao meu lado.

Dei de ombros sem saber como responder e desviei os olhos dele, concentrando-me na paisagem à minha frente enquanto milhões de pensamentos constrangedores cruzavam minha cabeça. Eu podia sentir um calor de vergonha subindo pelo meu pescoço, a pulsação acelerada sem motivo e o coração se apertando com uma sensação de humilhação desproporcional ao acontecimento.

Não Quebre a Terceira RegraOnde histórias criam vida. Descubra agora