07 - As três regras

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“O passado não reconhece o seu lugar: está sempre presente...”

– Mário Quintana

Marcus

Diana abriu a boca para me responder, mas não emitiu nenhum som a princípio, rapidamente apertando os lábios de maneira pensativa e envergonhada, abaixando o olhar em seguida.

Seus dedos tamborilaram, inquietos, e a garota manifestou:

— Não… Quer dizer, sim. Mais ou menos. - Comentou com um suspiro, indecisa. — Eu preciso da ajuda de alguém inteligente, não precisa ser especificamente você.

Respirou fundo, voltando a prender o olhar ao meu com certo receio.

— Mas se aceitasse me ajudar, seria ótimo. - Admitiu, tímida. — Não conheço muitas pessoas, então…

Soprei uma risada desacreditada, negando com a cabeça e fazendo ela parar de falar de imediato.

— Você deve estar brincando, né? Por que eu ajudaria você? - Devolvi ressentido, rangendo os dentes ao dizer: — Depois do que fez comigo?

Ela encolheu os ombros, fechando a mão sobre a mesa, as sobrancelhas se contraíram em uma expressão de culpa e suas íris se desviaram das minhas.

— Eu sinto muito por isso, Marcus. De verdade. - Falou em voz baixa, fazendo-me bufar e sorrir com escárnio.

— Sente, é? Que pena que isso não resolve nada. - Afirmei raivoso, estreitando os olhos para ela e inclinando-me em sua direção para sussurrar: — Você fez comigo duas coisas que eu não suporto, Diana: mentiu pra mim e me fez virar motivo de piada.

Puxei o ar com força, a raiva dentro de mim multiplicando-se ao me lembrar de como os meninos do time estavam me ridicularizando desde aquela maldita noite. Balancei a cabeça, forçando-me a afastar tais pensamentos e manter minha ira sobre controle.

Fui idiota por ter acreditado nela e me deixado levar pelo seu rostinho bonito e fala mansa.

Diana me odiava e não fazia questão de esconder isso, era óbvio que não iria me ajudar. Como pude cogitar o contrário? E o trouxa desesperado ainda cometeu a estupidez de contar a ela o que estava acontecendo dentro de casa…

Burro, burro, burro.

— E quando eu disse que precisava da sua ajuda, quando eu te contei sobre a minha situação, o que pode foder com a vida da minha família se você decidir abrir a boca… Você cagou. - Relembrei e ela ergueu as sobrancelhas, contrariada.— Sem contar o fato de que me fez perder vinte dólares, então muitíssimo obrigado, Diana!

— Isso não é verdade, Marcus. - Interferiu, ofendida. — Eu queria te ajudar, ok? Mas eu não podia…

Sua atenção se desviou para longe, parecendo subitamente introspectiva, submersa em algum tipo de memória atroz.

— Você não faz ideia de como as coisas são pra mim. - O tom de sua voz era frágil e infeliz.

Revirei os olhos, soltando o ar com irritação, e recostei-me contra a cadeira, cruzando os braços em frente ao corpo.

Apesar de que ela tinha razão: eu não sabia nada sobre sua vida e as possíveis razões que poderiam fazê-la recusar a minha proposta… Passei os olhos rapidamente pelo hematoma em seu rosto e  meu estômago afundou de maneira pesarosa ao pensar nas possíveis maneiras que ela poderia tê-lo conseguido.

Por mais que odiasse admitir, minha raiva estava sendo um pouco mal direcionada.

Eu podia ficar puto por ela ter me enganado e me humilhado? Com certeza. Mas Diana não tinha a obrigação de me ajudar, então não podia odiá-la por isso, não era justo.

Não Quebre a Terceira RegraOnde histórias criam vida. Descubra agora