Capítulo 1

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"Não fale com estranhos na internet!" - Minha mãe me alertava quando eu era mais novo. Decidi bancar o adolescente rebelde e ignorar esse alerta (desculpa, mãe).

Sábado a noite. Eu tinha uma vida ordinária, passava a semana estudando e quando chegava no sábado, eu gastava toda a minha energia jogando.

Naquela noite, já estava tarde, era madrugada melhor dizendo. Havia apenas um jogador online e joguei com ele incansavelmente até ver uma mensagem dele na aba do jogo.

@_moon_josh: Gostei de jogar com você. Quero passar mais tempo contigo mas preciso dormir. Por favor, vamos jogar mais vezes caso o possível.

@_max_to_max: claro, eu adoraria

Depois desse dia, passei a conversar durante horas com esse jogador misterioso. Entretanto, mesmo após criarmos certa intimidade, ele ainda negava em me dizer seu nome ou me ver pessoalmente.

Eu sentia como se eu estivesse criando sentimentos por ele, nada muito forte, só aquela atração como quando temos um "crush" do ônibus ou do mercadinho.

Não sabia se eu quem me apaixonava rápido demais ou se era por eu não ter muitos amigos que fazia com que eu me apegasse aos que se aproximavam de mim. Eu mal sabia quem ele era, e como um gay dentro do armário, preferi continuar tratando-o apenas como um amigo.

Bom, ou quase dentro do armário.

Na escola, eu não conversava com muita gente. Nunca fui bom em conversas ou em estar no meio de diversas pessoas, pois isso me deixava inquieto e ansioso. E isso piorou quando alguém expôs no fundamental que eu gostava de garotos e passaram a se afastar e praticar bullying comigo.

Então, não, eu não me assumi. Mas ter várias pessoas sabendo da minha sexualidade por conta de rumores faz com que eu esteja dentro ou fora do armário? Nunca soube responder essa questão.

Após anos passando por isso, já não era mais algo em que eu ligasse. No entanto, nos últimos dias eu só andava pensando naquele tal jogador e imaginando como ele era. Alto? Bonito? Um garoto simples como eu? Mas a principal pergunta era: será que ele gosta de meninos? Perguntas como essas passavam pela minha cabeça durante horas.

. . .

Durante o intervalo, no meio dos meus pensamentos sortidos voltados ao jogador de nome ainda identificável, acabei me distraindo ao ver a Laura se confessando para Aliffer, ambos da minha turma.

Mesmo não estando em filmes americanos, a maioria das escolas tem aqueles garotos bonitos que acabam se tornando populares por suas aparências. Na minha turma era o Allifer. Um rapaz de 17 anos, alto, inteligente, com um corpo definido e uma personalidade árdua. Ele tinha cabelo loiro e uma pele bronzeada que combinava bastante com seus olhos cor-de-mel. Ah! Sem mencionar seu nariz que ficava inexplicavelmente bonito em todos os ângulos e seu maxilar destacado. Chegava a ser ridículo o quão atraente ele era para a idade e era terrivelmente cafona o quanto ele parecia um jogador de futebol americano de filmes adolescentes. Clichê e brega, mas ele era bonito pra caralho. Ele estava mesmo no ensino médio?

Eu, Diego, nunca teria oportunidade com um garoto daqueles. Minha pele era pálida por não sair de casa para pegar sol, cabelo preto ondulado e bagunçado (não fazia questão de arrumar ele para ir à escola), cara de nerd, mas nada inteligente. Eu passava todo o meu tempo livre assistindo e jogando e não enxergava nenhum ponto positivo em mim. Mas eu gostava dos meus olhos, verdes como a malaquita.

Me impressionava em saber que eu era alguns meses mais velho que Allifer, com 18 anos completos, e mesmo assim não corria atrás de emprego.

Na sala, havia apenas nós três. Eu sempre evitava ir para locais cheios, então eu geralmente passava o intervalo deitado em minha carteira. Eu não tinha certeza se eles não notaram minha presença no recinto ou se apenas estavam me ignorando, visto que eu sempre ficava calado.

Levantei um pouco minha cabeça e espiei a situação. Laura estava nervosa, suas mãos estavam tremendo e suas palavras estavam emaranhando. Ela abaixou sua cabeça e começou a boquejar tudo o que sentia, disse gostar dele durante meses e que não aguentava mais guardar para si mesma.

Logo após, Aliffer a olhou com um olhar lastimado. Disse que não poderia retribuir, pois não sentia o mesmo. Laura se apressou e saiu da sala rapidamente. Naquele momento, Allifer me encarou depressa e saiu da sala. Pensei que permaneceria angustiado após aquela situação, mas pelo contrário, Aliffer saiu da sala com um sorriso em seus lábios. Talvez ele não fosse tão bom como muitos imaginavam.

. . .

No final da aula, voltei para casa pensando em como seria se um dia eu me declarasse para ele. Ele iria dizer o mesmo que disse para Laura ou iria ser pior? Ele tinha muita cara de hetero, então definitivamente seria pior.

Quando cheguei em casa mandei mensagem para o jogador por quem eu estava afim. Pelo seu apelido no jogo, eu me arriscava em dizer que seu nome era Josh, mas, como o mesmo permanecia negando em me dizer seu nome, presumi de que era outro. As vezes nem jogávamos e passávamos horas conversando no "chat" do jogo (porque ele me negava em passar seu número). A curiosidade se despertava cada vez mais em mim. Eu não sabia absolutamente nada dele.

Mas, da mesma forma que eu não sabia nada sobre ele, ele também não sabia nada sobre mim. Nem meu nome, nem onde eu estudava, nem nada. Eu exclamava que apenas iria contar depois que ele contasse.

@_max_to_max: ei, não poderia nem ao menos me dizer onde você estuda? uma escola tem muitos alunos pra eu saber quem você é

@_moon_josh_: Red hill...

@_max_to_max: estudamos no mesmo colégio!!! não pode me dizer teu nome?

@_moon_josh: Não.

@_max_to_max: ah, por quê?

@_moon_josh: Eu prefiro manter isso anônimo. Desculpa, vou dormir, conversamos outro dia.

_moon_josh está offline

O que antes eram palpitações alegres, se transformaram em um aperto solitário. O "jogador anônimo" saiu do jogo logo após deixar o ar um pouco pesado.

Isso só fazia as perguntas aumentarem. O que havia de tão problemático em simplesmente dizer o nome dele? Será que ele não queria que ninguém soubesse quem ele era ou o problema era só comigo? E se ele fosse uma pessoa perigosa na vida real? (Eu não deveria ter ignorado o alerta da minha mãe). A cada pergunta, minha mente se encontrava cada vez mais cansada e confusa.

Josh sumiu do jogo por alguns dias.








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