Capítulo 13

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Naquela mesma noite, eu tive um sonho. Naquele sonho, eu lembrei quem Gabriel era. Acordei assustado e com falta de ar. Era sábado e não havia aula naquele dia.


Depois do almoço, mandei mensagem para Allifer perguntando se poderíamos nos encontrar no parque próximo a minha casa, e ele aceitou sem questionar.


Quando cheguei lá, no horário marcado, sentei em um banco cujo havia duas quadras abertas por perto. Em uma delas, alguns adolescentes mais novos que eu estavam jogando basquete. Fiquei observando eles até o momento em que Allifer chegou:


- Você está bem? Estranhei me chamar aqui assim do nada.


- Estou bem, mas preciso contar algo.


- Mas por que não em nossas casas?


- Senti que eu precisava de um ar fresco.


- Hmm... - Allifer se sentou ao meu lado e me olhou. - O que aconteceu?


- Por que o Gabriel não pareceu chocado ao saber que você está de rolo com um cara?


- Ah! Eu esqueci de mencionar antes. Gabriel trabalha em um bar gay no centro da cidade. - Allifer encostou suas costas no banco. - Meu pai não sabe disso, apenas acha que ele está seguindo sua vida de colegial arranjando alguns bicos aqui, outros ali, mas a verdade é que ele parou de ir ao colégio. Se ele não tivesse parado, ele estaria na mesma série que nós, ele entrou atrasado.


- Eu me lembrei de onde conheço ele.


- Isso é ruim? Você parece tenso.


- Eu acho que ele é o garoto que gostei no 6° ano, aquele que espalhou o rumor sobre mim e me deu um fora. Digo, ele está totalmente diferente hoje em dia, mas eu me lembrei do nome e do jeito dele. Se ele estaria na mesma série que nós, então naquele ano ele estava no 6° ano junto comigo.


- Você tem certeza disso? - Allifer me olhou, perplexo.


- Quase, mas não totalmente. Ele está mais alto que eu e emagreceu muito, o rosto está mudado também. Mas é difícil acreditar que aquele mesmo garoto trabalha em um bar gay agora, que reviravolta. - Soltei um riso fraco enquanto prestava atenção no jogo dos garotos.


- Eu peço desculpas pelas ações idiotas do meu irmão. - Allifer colocou sua mão em sua testa e fechou seus olhos, com uma expressão de estresse.


- Ei! - Segurei seu pulso e afastei sua mão de seu rosto. - Está tudo bem, você não tem culpa de nada. E já faz tempo, eu tenho você agora, certo? - Sorri e afaguei seu cabelo.


- Certo. - Ele retribuiu o sorriso. - Em casa, eu tenho algumas foto antigas com o Gabriel, posso te mostrar pra você ter certeza de que era mesmo ele. Podemos ir agora se quiser.


Assenti com a cabeça e fomos direito para sua casa. Ao chegar lá, seu pai e Gabriel estavam em casa. Cumprimentei ambos:


- Boa tarde. - Falei, evitando contato visual com Gabriel, olhar para ele me dava a sensação de que ele iria descobrir que lembrei dele.


- Ei, Diego, como vai? - O pai de Allifer se aproximou de mim e apertou minha mão. - Estou indo para o mercado agora, se puder, espere aqui por algumas horas e trarei algo de comer para todos. Okay?


- Sim, muito obrigado. - Sorri e o mesmo foi em direção à porta, pegando as chaves do balcão e se retirando do local.


Entrei no quarto de Allifer e me sentei no chão enquanto ele procurava a caixa de fotos. Revirou gavetas, caixa e até mesmo no fundo de seu armário:


- Não estou achando, vou procurar no quarto do pai, espere um instante.


- Tudo bem.


Fiquei sentado em uma almofada no chão enquanto aguardava Allifer. Um minuto após, ouvi-o abrir a porta do quarto:


- Já encontrou? - Olhei para a porta. E quem encontrei não foi Allifer, mas sim o Gabriel.


- Desculpa, mas não sou seu namorado. - Disse enquanto se sentava do meu lado.


- O que veio fazer aqui?


- Você se lembra, certo?


- Do quê? - Na hora, senti meus pulsamentos acelerarem.


- De mim. Você está estranho desde a hora que chegou, tenho certeza que se lembra de quem eu sou.


- Eu me lembrei hoje cedo. - Virei meu rosto para o lado oposto. - Então realmente era você.


- Você me odeia? - Gabriel se aproximou de mim, tentando fazer com que eu olhasse para ele.


- Eu não sei, odiar é uma palavra muito forte para descrever algo que aconteceu anos atrás. - A verdade é que eu o odiava, e muito, mas queria ao máximo conter minha raiva.


- Me desculpa, foi só uma coisa de criança.


Naquela hora, naquela exata frase, senti meu sangue subindo pela minha cabeça.


- Coisa de criança? - Virei para ele e agarrei sua blusa com força. - Você tem noção do estrago que você fez na minha vida? - Aumentei meu tom de voz. - Do trauma que você me causou? Do enorme medo que eu fiquei de um dia me confessar a alguém novamente? Você ao menos tem noção de...

Naquele momento, Gabriel colocou sua mão na minha nuca e me puxou para perto de seu rosto, até nossos lábios estarem totalmente colados.

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