Meu professor de Biologia pediu para minha turma fazer um trabalho em dupla. Trabalho em dupla era algo que eu odiava, pois eu nunca tinha com quem fazer e eu sempre ia com quem sobrava (e nem sempre eram boas opções).
Eu já estava olhando ao redor vendo quem iria ficar sem dupla, até que me assusto ao olhar para o lado e ver Allifer puxando uma cadeira até o meu lugar.
- Eaí, Diego. Quer fazer o trabalho comigo? - O mesmo dissera em meio a um sorriso. Era surpreendente como a fala do Allifer extrovertido que ele mesmo criou para si era bem informal comparada à sua fala nas mensagens de texto.
Na hora, eu fiquei paralisado com sua coragem. Os amigos dele também mostravam uma expressão confusa em seus rostos, provavelmente se perguntando o porquê dele querer efetuar o trabalho comigo.
- Claro. Mas por que você quer fazer o trabalho comigo? - Perguntei como se eu não tivesse uma certa noção do motivo.
- Ah... - Allifer ficou sem jeito, até pensar em uma resposta. - Eu sempre vejo você sozinho para fazer os trabalhos, e dessa vez decidi ser um cara legal e fazer com você.
Que desculpa esfarrapada...
- Entendi. Pode me passar seu número para conversarmos sobre o trabalho mais tarde? - Aproveitei a oportunidade, visto que aquela era uma das poucas chances de me aproximar dele sem que mais ninguém achasse estranho.
Allifer me passou seu número e apoiou seus cotovelos em minha carteira para tratarmos sobre o assunto da atividade avaliativa. Quando eu perguntei-lhe se poderiamos fazer o trabalho em sua casa, ele ficou apreensivo dizendo que seu pai não gostava de visitas. Outra possível desculpa esfarrapada. Em minha mente, eu imaginava que o verdadeiro motivo seria seus jogos em seu quarto, ou o medo de eu descobrir quem ele era (como se eu já não soubesse).
Mesmo Allifer sendo inteligente, suas mentiras não podiam enganar alguém que já sabia de toda a verdade.
. . .
De tarde, fomos direto para minha casa para prepararmos o trabalho. Ele foi embora comigo, mas não trocamos muitas palavras durante o caminho. Não era como se o clima estivesse pesado, mas nunca tínhamos conversado pessoalmente com nossas verdadeiras identidades, era simplesmente impossível fazer isso de maneira natural. Ao chegar lá, apresentei-o para minha mãe:
- Mãe, esse é o Allifer, meu amigo, ele veio aqui em casa para fazermos um trabalho. - Falei ao deixar minha mochila em uma cadeira.
- Ora, mas que moço mais belo que temos aqui. - Minha mãe sorriu. - Sou a mãe do Diego, muito prazer. - Minha mãe se aproximou de Allifer e cumprimentou-o com um beijo na bochecha.
- Oi, o prazer é todo meu. - O mesmo retribuiu o sorriso. - Me perdoe por entrar em sua casa sem te cientificar.
- Não há necessidade de tanta formalidade, você é amigo do meu filho, sinta-se em casa. - Ela se afastou de Allifer e se aproximou de meu ouvido. - Ele é um rapaz bem educado, não perca uma amizade dessas. - Ela sussurrou.
Ela estava certa, a educação do Allifer sempre me encantava. Pelo menos minha mãe gostou dele, o que era um ponto positivo, mas me perguntava qual seria a reação dela se ela soubesse que eu o considerava mais do que somente um amigo.
. . .
Eu tentava manter minha calma enquanto Allifer almoçava comigo, mas a verdade é que eu estava com o coração quase saindo pela boca, pois essa era a primeira vez que haviamos passado tanto tempo perto um do outro. E a tarde acabara de começar!
E além do mais, o garoto mais bonito e popular da minha turma, cujo coincidentemente é o garoto que eu gosto também, está na minha casa comendo comigo!
Logo após comermos, fomos até meu quarto para começarmos a planejar o trabalho. Meu quarto estava um pouco bagunçado porque eu não havia em mente de que eu receberia visitas, principalmente o garoto pelo qual eu estava apaixonado.
- Ainda não entendo, o que te fez querer fazer o trabalho comigo? - Pergunto na esperança de ver Allifer envergonhado mais uma vez, tal expressão que não combinava com sua índole, mas para mim, era totalmente adorável.
- Já disse, eu sou um cara legal. - O mesmo deu um sorriso confiante, mas que ainda transmitia vergonha.
- Não fale como se eu fosse morrer por fazer o trabalho sozinho.
- Poxa, não seja ingrato, muitas garotas queriam estar no seu lugar, sabia?
- Sabia. - Me aproximei de seu rosto e segurei seu queixo. - Mas não tem porque elas terem inveja, só vamos fazer um trabalho, certo? - Allifer arregala os olhos e eu me afasto, dando um sorriso com ar de gozação.
- O que você está fazendo? - Pergunta Allifer, tentando disfarçar seu nervosismo ao me dar um fraco tapa em meu braço esquerdo.
- Estou apenas brincando, não se preocupe.
Pensei que seria divertido provocar um pouco ele, já que o mesmo pensava que eu não sabia de seus sentimentos. Ver seu rosto pejoso e corado me trazia uma sensação boa, alegre.
Nós dois conversávamos como se fossemos melhores amigos, sem timidez, igual quando a gente conversava através do jogo. Talvez fosse isso. Já conhecíamos um ao outro muito bem pra podermos conversar a vontade.
Pensando nisso, levantei da minha cama onde estávamos sentados e decidi provocar o mais novo um pouco mais:
- Hey, já jogou esse jogo? - Perguntei mostrando a ele o jogo que costumávamos jogar.
- Ah. - O mesmo hesitou por uns segundos. - Nunca joguei, não sou muito de jogos, como ele é?
- Bem, o jogo em si não é muito interessante. - Me sentei ao seu lado novamente. - Quero dizer, já foi, mas me enjoei. Acho que a única razão de eu ainda jogar ele, é porque eu tenho um amigo muito especial no jogo. - Os olhos de Allifer que antes evitavam contato visual, passaram a ter o foco total em mim. - Ele é da nossa escola, mas não sei quem é, porém acho que seu nome é Josh, você conhece algum Josh que goste de jogos?
- Não, não conheço. - Allifer disse, apreensivo.
- Ele é realmente uma pessoa importante para mim, espero poder conhecer ele um dia.
- Ah, sério? Desejo boa sorte para você e seu amigo. - Disse Allifer em meio a um sorriso falso.
- O jeito dele me lembra um pouco o seu, sabia?
- O meu? - Allifer se espantou. - Por quê?
- Eu não sei, alguma coisa em você me lembra dele.
- Espero que não seja algo ruim. - Allifer soltou um riso nasal.
- Não é, não. - Percebi o clima embaraçoso ao redor e decidi mudar totalmente o assunto. - Bom, vamos a elaborar o trabalho?
- Claro, eu vim aqui para isso, né? - Disse o mesmo em meio a um sorriso metade sarcástico, metade desanimado.
Começamos a elaborar o trabalho, fazer pesquisas e ter novas ideias. Conforme as horas iam se passando, eu fui me sentindo cada vez mais confortável ao lado dele, e o nervosismo foi embora. Eu havia esquecido que antes daquele dia, éramos totais estranhos e nunca havíamos trocado uma palavra sequer, pois como eu disse anteriormente, parecia que éramos melhores amigos.
E eu estava me sentindo feliz em meio àquela atmosfera. Eu nunca me imaginei estando tão próximo assim de Allifer, e nunca imaginei que minha primeira vez perto dele seria assim tão boa.
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Não somos estranhos se nos conhecemos
Romansa"Não fale com estranhos na internet!" - Minha mãe me alertava quando eu era mais novo. Decidi bancar o adolescente rebelde e ignorar esse alerta (desculpa, mãe). Diego costumava jogar todo sábado a noite trancado em seu quarto, era uma rotina normal...