Capítulo 9

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Ao entrar no colégio, percebi alguns olhares voltados para mim. Senti-me desconfortável e estranhei a situação, pois eu sempre fui imperceptível aos olhares alheios.

Não eram todos que me olhavam, mas a quantidade de pessoas que não estavam ligando era mínima comparada aos olhos assustadores que me fitavam.


— Amigo, não é ele o garoto da foto? — Escuto uma garota da minha turma perguntar para seu amigo.


— Eu acho que sim. — Diz ele enquanto checa o celular. — Sim, é sim.


— Sério? Ele nem é tudo isso. — Retribuiu a garota.


Estranhei, não fazia a mínima ideia de que foto estavam falando. Por coincidência, como em quase todos os dias, Allifer chegou logo após. Os olhares que me deixavam destacado acabaram focando em Allifer em uma quantidade maior.

Allifer também parecia confuso com tudo isso, até um de seus velhos amigos passarem pelo seu lado:


— Nunca imaginei que você iria pra esse lado Allifer, chega a ser nojento. — Disse ele, se retirando com um sorriso cínico.


— Ei, esse não é o outro garoto da foto? — Perguntou a mesma garota que havia perguntado sobre mim.


— Sim, e ele é bem bonito e popular pelo que parece. — Disse seu amigo, novamente checando a imagem em seu celular.


Allifer se revoltou e tomou o celular da mão do garoto, sua reação ao ver a imagem foi abominável. Senti-me curioso e me aproximei para ver também e senti meu coração quase sair pela boca.

Alguém havia fotografado o momento em que Allifer me deu um selinho na porta de sua casa no dia anterior. Ainda não sabíamos quem, mas aquilo era o que menos importava no momento.

Allifer, sem saber como reagir com todos aqueles olhares e murmurinhos, segurou minha mão e correu até o pátio, me arrastando com ele, sem dar a mínima ao fato de estarmos perdendo aula.

Corremos até um lugar onde nínguem nos veria naquele momento:


— Você está bem? — Allifer me perguntou, segurando firmemente meu rosto. Senti seus dedos trêmulos sobre minhas bochechas.


— Estou sim, acho que quero ficar aqui fora durante a primeira aula. — Coloquei minhas mãos em cima das suas, ainda posicionadas em meu rosto.


— Eu também. Eu vou descobrir quem foi e vou acabar com essa pessoa. — O tom de sua voz expressava raiva.


— Sabe, não é a primeira vez que espalham essas coisas sobre mim, e eu não sou tão conhecido assim, então talvez não me afete tanto. Mas me preocupo com você, você é popular e almejado pelas garotas, sem contar que ninguém imaginava você junto de um garoto. Isso vai ser pior ainda pra você.


— E por esse motivo eu estou preocupado com você também. Tenho medo que te façam algum mal enquanto eu não estiver por perto, igual meus amigos fizeram.


— Eu não sei o que fazer, não estava esperando por isso. — Suspirei. — Muitos já sabiam sobre mim, mas você foi basicamente arrancado do armário sem mais nem menos.


— Eu vou pedir para a minha amiga que descobriu sua identidade descobrir quem foi o culpado disso tudo. E pedir para que apague a imagem.


— Mesmo que ela o apague, você é conhecido entre várias turmas. A maioria já deve estar sabendo, e quem não está, vai saber de alguma forma.


— Eu não estou incomodado com o fato de saberem da gente ou de que também posso gostar de garotos, não há nada de errado sobre isso. Mas não acho justo a pessoa que tirou essa foto estar de boa por aí enquanto nós recebemos olhares tortos de reprovação.


— Isso está me parecendo o que aconteceu comigo no 6° ano.


— Mas não é a mesma coisa. — Allifer olhou-me e se esforçou para sorrir, logo em seguida, segurou minhas mãos com força. - Que nem eu te disse ontem, agora você não está sozinho. Vamos enfrentar isso juntos, tá bom? — Ele deu um beijo em minha testa.


— Sim. — Sorri.


O sinal para a segunda aula bateu, criamos coragem e fomos para a sala de aula. Ao chegar lá, vários olhares se voltaram para nós. E a sala, que estava quase em silêncio, se encheu de burburinhos e falações sobre a gente, já que a professora não estava na classe ainda.

Alguns falavam que isso era nojento (em pleno século 21), outros falavam que Allifer era areia demais para o meu caminhão. Algumas garotas pareciam ser contra a ideia dele estar comigo e não com elas.

Ao notar a amontoação, Allifer segurou minha mão, bateu sua outra mão em uma mesa e aumentou o tom de voz:


— Sim, eu e Diego estamos juntos se estão tão curiosos sobre isso. E se eu ouvir mais alguém falando sobre isso perto de mim, eu vou lhe descer a porrada.


A sala ficou em silêncio. Allifer respirou fundo e não largou minha mão até chegarmos em nossos assentos.

Eu permaneci quieto, mas dentro de mim estava tudo agitado. Me faltava ar, meu coração pulsava cada vez mais rápido, eu suava e tremia, me sentia nervoso. Eu olhava para Allifer que parecia sério e despreocupado, mas conhecendo-o bem, conseguia ver o nervosismo habitado dentro dele também.

Tentamos seguir o resto da manhã como se nada tivesse acontecido. Por fora, parecíamos conseguir. Mas por dentro, ambos estavam inquietos e com medo do que poderia acontecer.


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