EPISÓDIO 1 (ㅏ)

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EPISÓDIO 1 (ㅏ) 

[ Primavera de 2001 ]

– Ei, Jin So! – Não me lembro muito bem como, nem quando, mas me lembro de ter sentido a minha irmã me chacoalhar no colchão que dividíamos quando éramos crianças – Jin So Ah! – sussurrava ela com mais firmeza desta vez, me fazendo abrir os olhos devagar. 

– Já…Já está na hora? – Havia lhe perguntado ainda meio sonolenta.

– Está! Precisamos sair antes que ele acorde! – ditava ela com convicção de que esta era a escolha certa a ser feita – Se não levantar agora, eu vou te deixar aqui sozinha!

Rapidamente eu me levantei coçando os olhos a fim de ‘despertar’ a minha visão, mesmo tendo que pegar os meus óculos ao lado.

Minha irmã e eu havíamos preparado essa fuga há semanas, mas só agora ela estaria sendo feita. Jin Joo Ah e eu somos irmãs muito unidas, e por mais que ela fosse quatro anos mais velha e também uma grande influência para uma criança de apenas nove anos, eu sabia que eu estaria segura a onde quer que ela fosse.

Nosso appa, um drogado sem noção, nos fez de gato e sapato para arranjarmos dinheiro para satisfazê-lo durante muito tempo. Joo Ah sempre me defendia e sempre trabalhava dobrado para conseguir atingir a meta de quantia diária quando eu não conseguia. Uma heroína eu diria.

Naquele dia normal de primavera, Jin So Ah e Jin Joo Ah, de nove e treze anos, fugiram de casa em plena madrugada para conseguirem uma vida nova. Uma vida na qual elas pudessem escolher aquilo que quisessem fazer sem ter que ser para a satisfação de terceiros que nem sequer se importavam com pobres crianças.

Infelizmente o universo não fora gentil conosco no início. Fomos morar escondidas nos fundos de um restaurante local, até sermos descobertas. Achando que ali seria o nosso fim, o gerente do restaurante, um velho senhor de sorriso tão grande quanto o coração de ouro, nos acolheu e deixou que morássemos com ele. Minha irmã, madura e esperta que sempre foi, não ficou de braços cruzados. Ela mesma se ofereceu para trabalhar no restaurante com ele em troca de me matricular no ensino juvenil. 

E assim foi feito.

Digamos que eu tenho um diploma, mas mesmo a minha irmã não tendo isso, ela se provou mais inteligente do que imaginava.

Joo Ah se interessava bastante por cuidados médicos e sempre quis se tornar uma grande médica, mas por não possuir diploma do ensino juvenil, não pôde chegar tão longe. Confesso que por um breve momento eu achava que era um estorvo na vida de minha irmã, pois ela havia deixado a sua vida inteira de lado para tentar me dar uma. Eu a via noites e noites na sacada de casa, tristonha e fraca, mas sempre me mostrava os dentes quando eu me aproximava. Forte, eu diria. Minha irmã nunca havia se demonstrado fraca na minha frente.

E sinceramente? Isso só me fez admirá-la ainda mais.

Bem, os anos foram se passando para as irmãs de vida nova. Quando nos tocamos, já havíamos passado cinco anos inteiros com o nosso velho, agora chamado carinhosamente de “appa”. Joo Ah já tinha dezenove e eu faria quatorze em breve. Minha irmã limpava o restaurante com mais tranquilidade agora, uma vez que isso havia se tornado sua rotina. Eu sempre estava sentada em alguma mesa com cadeiras altas os suficientes para deixar os meus pés longes do chão estudando para as avaliações do colégio, enquanto o nosso velho ficava cada vez mais velho.

Certo dia, um jovem entrou no restaurante com marcas roxas em seu rosto e um corte na mão. Ele não poderia ter chamado a atenção de todos de uma outra forma. Rapidamente, appa seguiu em direção ao jovem e mencionou sobre seus machucados e ferimento, mas o garoto parecia se recusar a falar, e todo carrancudo só pediu uma sopa revigorante. Lembro-me do olhar de minha irmã sobre o garoto. Um olhar intrigante, encantado e talvez um pouco curioso. Não faço a mínima ideia de como ela estava se sentindo naquele dia, mas me lembro muito bem de uma mudança brusca nela nesse dia.

Minha vida é um Dorama - ATEEZOnde histórias criam vida. Descubra agora