Sai Da Frente!

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Em algum canto de sua visão periférica, viu Deku cair. O fudido tinha se quebrado todo de novo, apostava. E sem necessidade alguma. Ele dava conta daqueles extras de merda sem a ajuda de ninguém, e ia provar. Uma vitória limpa, sem nem um arranhão. Como um herói de verdade.

- SAI DA FRENTE, NERD DE MERDA!

Foi o que gritou, tomando o lugar dele no campo de batalha, as granadas em suas mãos já cheias o suficiente para o que seria uma de suas maiores explosões. Um sorriso sádico se estendia por seu rosto enquanto mirava nos vilões que o observavam, interrompendo o que faziam com certa apreensão.

- KACHAN, ESPERA!

Mas ele não esperou. Deku estava longe demais, de qualquer forma. Não pôde fazer nada enquanto a enorme explosão reverberava pelas paredes do galpão, derrubando escombros dos prédios destruídos, vilões e... O próprio Bakugou.

Retomou a consciência algum tempo depois, confuso. Abriu os olhos para registrar heróis e policiais tomando os vilões feridos, tirando os outros do caminho, inclusive seus colegas. Nenhum civil foi acertado, Bakugou não era nenhum idiota, mas alguns dos inimigos estavam em situações ruins.

Enquanto isso, Bakugou estava ajoelhado, a cabeça latejando, um zumbido agudo e irritante em seu ouvido deixando a entender que tinha exagerado. Não era incomum que esse tipo de coisa acontecesse depois de uma explosão especialmente poderosa, sabia que iria passar logo. Não tinha com que se preocupar.

Se levantou e limpou a poeira do uniforme, intacto no mais. Uma vitória limpa. O sorriso sádico e vitorioso voltou a seu rosto e só então pôde ver seus demais colegas de sala e professores o olhando em choque. "Essa cara é insano", era o que pensavam.

Menos Deku. Ele o olhava com apreensão. Resolveu decidir mentalmente que era admiração, e só soltou um "tsc" antes de seguir seu caminho. Ainda não ouvia nada, mas tinha certeza que logo voltaria ao normal.

Estavam sendo escoltados de volta à UA, quando Bakugou percebeu que estava demorando um pouco mais que o normal. Estavam no ônibus, e a maioria conversava de uma forma nervosa sobre os últimos acontecimentos, ao passo que o loiro ignorava tudo. Mais de uma vez Kirishima, sentado ao lado dele, tentou o puxar pro assunto, mas não fez mais do que rosnar ao ser tocado, já que seu nome não chamava sua atenção como deveria.

Depois da terceira vez, Kiri desistiu, e Bakugou voltou a apoiar o queixo e encarar o lado de fora enquanto as paisagens passavam. Seu peito batia, conseguia sentir. Conseguia ouvir pouca coisa das conversas mais altas, mas estava tudo misturado e difuso demais. Estava ficando nervoso. Odiava aquela sensação.

De volta na escola, todos receberam cuidados, e Bakugou se enfiou na fila para ver Recovery Girl com um falso tédio. Em algum momento Denki, com o rosto sujo de sangue, se virou para falar com ele e, pela primeira vez, o loiro conseguiu registrar bem o que ele dizia. Não porque o ouviu, mas porque conseguiu prestar atenção o suficiente em seus lábios para pegar palavras soltas como "pensei" e "machucado" num tipo de provocação, e juntou dois mais dois.

- Não sabia que conseguia pensar, dunce face.

Depois da cara emburrada de Kaminari, e risada de Sero, logo na frente dos dois, o assunto foi deixado de lado, e Bakugou voltou a relaxar os punhos, antes cerrados. O peito ainda batia forte, mas se recusava a deixar o m-- A apreensão alcança-lo. Já estava chegando sua vez.

Mas então viu a senhora, recebeu um beijo com sua pior careta, e parou, por um terrível segundo de ansiedade, no salão comum dos dormitórios, onde os colegas se reuniam nos sofás para conversar e... Mais uma vez, quase nada. Se não prestasse atenção em cada um deles enquanto falavam, não entendia nada. Quase não conseguia registrar o que eles diziam.

Com a mesma expressão inexpressiva (ou assim achava), ignorou todos e subiu para seu próprio quarto. Chegando lá, trancou a porta atrás de si e correu a seu banheiro, botando para fora no vaso tudo que tinha comido no dia. Como poderia se sentir tão mal...? Só precisava dormir, estaria bem no dia seguinte. Tinha certeza. Só podia ser. Isso não podia acontecer com ele, não podia.

you can count on me - deaf! bakugouOnde histórias criam vida. Descubra agora