Nosso Amigo, E Um Grande Herói

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Foi Aizawa-sensei quem conversou com a sala no dia seguinte para explicar a situação. Izuku realmente esperava que Kacchan não o culpasse por isso.

- Bakugou não vai voltar pelo resto da semana, e vamos aproveitar esses momentos para colocar nossos estudos em dia.

Ninguém, obviamente, entendeu nada. Do nada, Bakugou tinha ido embora, sem pegar nada, depois de uma briga com Izuku, e agora o professor vinha com esse papo? Porque deveriam aproveitar a falta dele? E então Aizawa ligou o projetor no quadro, e todos se viram ainda mais confusos.

- Língua de sinais...?

É a voz de Mineta, verbalizando a dúvida de todos. E então o professor se vira pra explicar, e Izuku não consegue não pensar em como sua visão do quadro fica estranha sem o cabelo pontudo de Kacchan atrapalhando.

- Muitos poderes trazem consequências negativas, principalmente quando seu uso é exagerado. Katsuki Bakugou esteve no médico ontem, e chegou para nós a notícia que ele já perdeu mais da metade e quase toda a sua capacidade auditiva, em ambos ouvidos.

Ele esperou a turma digerir a informação. Forma várias interjeições de surpresa, e dó. Kacchan odiaria ter ouvido aquilo. Ou melhor, visto... Ele não iria querer que tivessem dó dele.

- Ele não iria querer que tivéssemos dó dele. - Kirishima fala exatamente o que ele tinha pensado, e Izuku se vira pra ele, surpreso. - Ele continua sendo Bakugou, nosso amigo, e um grande herói.

A turma inteira parecia ouvi-lo com admiração, mesmo o professor, apesar de ser difícil dizer graças a sua expressão mal humorada de sempre. Depois daquilo, mesmo os que menos gostavam do garoto pareceram aceitar a ideia, e se esforçaram a aprender língua de sinais, para que pudessem todos conversar com ele.

Algumas aulas foram dedicadas àquilo, mas não podiam mudar completamente o horário, então depois da aula, o Bakusquad organizou um tempo para estudarem nos dormitórios, ou na biblioteca nos intervalos. Obviamente, Izuku o acompanhou. Ele já sabia mais do que eles, porque vinha estudando há mais tempo, mas não perceberam muito isso, já que...

Com as mãos constantemente machucadas de Izuku, seus movimentos já não eram mais tão bons quanto antes. Seus cadernos eram bem mais bagunçados, sua letra mais tremida e mal feita. Ele não conseguia completar perfeitamente os movimentos, com os ossos quebrados e re-quebrados, e seus sinais não ficavam claros. Isso o abalou como nada mais poderia, mas ele continuou a ajudar seus amigos com um sorriso no rosto.

Bakugou voltou na segunda seguinte. A primeira coisa que Izuku notou foi que ele parecia nervoso, e então que não estava com aparelhos de audição. Porque não? O que será que tinha acontecido? Será que ele teria de fazer alguma cirurgia antes? Será que não adiantava? Será que ele precisaria se reajustar sem eles?

- Cala a boca, nerd, você tá resmungando de novo.

A reclamação veio junto de um cocão na cabeça, e Izuku parecia imediatamente outra pessoa, tomado por uma enorme felicidade. Kacchan tinha o ouvido resmungar?!

Pelo olhar que ele lhe lançou, não, não tinha ouvido, só visto. E Izuku voltou a afundar em seu lugar na mesa, enquanto Katsuki se sentava na sua frente, e Kirishima apareceu em sua frente, pra chamar sua atenção. Ele parecia melhor, agora que sabia o motivo concreto do afastamento do amigo. Era o cara mais determinado que Izuku conhecia, apesar de muito inseguro as vezes. Agora que sabia que o problema não era ele, deveria voltar a se esforçar e se aproximar de Bakugou... Parecia ser o único capaz de o fazer, afinal...

- Ei, Bakubro, não precisa disso. A gente já sabe.

De onde estava, Izuku pôde perceber que Kacchan tremia, enquanto entendia os sinais que Kirishima fazia. Ele tinha passado muito tempo estudando de novo e de novo aqueles gestos, para poder formar pelo menos algumas frases sem que o loiro tivesse que ler seus lábios para tudo.

E parece que aquilo teve algum efeito. Os punhos de Kacchan se cerraram, mas ele não tirou os olhos do amigo, apenas quando foi obrigado a se virar para Denki, e então Mina, e então Sero, que gesticulavam animadamente, perguntando como ele estava e colocando em dia as novas fofocas, como se não fosse nada.

- Tsc.

Foi tudo o que ele disse, abaixando a cabeça e parecendo se concentrar. Outros poderiam pensar que estava juntando paciência para não matar nenhum deles, mas Izuku o conhecia melhor. Kacchan estava emocionado.

De alguma forma, tudo parecia ter voltado ao normal, por mais que fosse completamente diferente de antes. Eles continuaram estudando, e dessa vez Bakugou se juntava a eles. Nas aulas normais ele parecia de mal humor, provavelmente porque estavam perdendo tempo em que poderiam estar treinando ou algo assim, mas quando eles se juntavam para estudar sozinhos, ele até mesmo os corrigia nos gestos errados, e ajudava os outros a estudar.

Era ótimo vê-lo assim, voltando a conversar com os outros, sem mais nada a esconder. Por vezes, quando lhe ofereciam ajuda com alguma coisa, ou lembravam uns aos outros de se virarem para ele antes de dizerem algo, ele ficava puto,  dizia que não precisava de ajuda nenhuma, mas na maior parte do tempo, ele parecia feliz. Era ótimo... Kacchan estava feliz.

- Oi, Deku, tira essa expressão de merda da cara.

- Hum?

Izuku se virou pra ele, assustado. Estavam estudando na biblioteca, como de costume, e Mina estava corrigindo Kirishima em um sinal enquanto Denki pesquisava palavrões e gírias pervertidas em sinais. Mas a atenção de Kacchan estava nele. Porque?

- Que cara...? É a única que tenho, Kacchan.

- Tsc. Você parece triste, está me deixando puto.

A frase foi um choque por sí só. Estava triste? B-Bem, talvez estivesse mesmo pensando sobre como era ruim que não pudesse conversar com ele como os outros, já que seus sinais eram horríveis, mas não estava triste. Kacchan estava bem, estava feliz! Era só o que importava! Mas não podia lhe dizer isso, ele já tinha se virado de volta pra frente, e não acompanhava seus lábios mais.

- Você não devia perder tempo com isso. Seus sinais são uma merda.

Então ele tinha percebido... Os lábios de Izuku tremeram, e ele abaixou a cabeça, para disfarçar a expressão triste. É claro que Kacchan não iria querer falar com ele, que diferença fazia ele estar ali ou não? Ele o odiava.

- Meus aparelhos vão chegar logo. Não vai precisar disso pra conversar comigo.

O-O que...?

you can count on me - deaf! bakugouOnde histórias criam vida. Descubra agora