É Porque É Você.

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E treinaram, por horas e horas. Mal se deram conta do sol se pondo pelas janelas da arena, se exaurindo mais que o normal. Fazia tempos que não treinavam juntos e tinham muito o que desabafar. Não eram os melhores com palavras, então deixaram as ações tomarem conta.

Lutaram por horas, saíram cheios de hematomas, cortes e sujos de sangue, mas não podiam se importar menos. Tinham descontado todas as frustrações das últimas semanas e depois de vários berros, explosões e "smashs", estavam bem.

Agora, estavam largados deitados no chão da arena, os uniformes danificados, os peitos subindo e descendo rapidamente pelo cansaço. Mas Izuku não conseguia parar de sentir que faltava algo. Não sabia se Kacchan ia querer que voltassem àquela rotina como se nada tivesse acontecido, mas não podia fazer isso sem falar a verdade.

Izuku, então, se levantou e foi até o vestiário, pegar os aparelhos pretos e laranjas de Bakugou, e os trouxe de volta. O loiro ainda estava deitado, mas abriu os olhos diante da aproximação. O moreno se abaixou e tocou suas orelhas com delicadeza, para colocar os aparelhos. De início, Katsuki se encolheu cm o toque, mas não o recusou. Deixou que os colocasse e então ligou, agora podendo ouvir direito.

- Que é?

- Eu gosto de você, Kacchan. - Izuku admitiu, antes que perdesse a coragem, se sentando do lado dele, um sorriso triste no rosto machucado. - Eu sei que você já sabe, mas eu queria dizer em voz alta.

Esperou uma resposta, apesar de estar certo que não teria nada. Uma minúscula parte de si ainda tinha esperanças dele tentar lhe calar como tinha feito na sala de aula, de qualquer maneira... Mas depois de alguns minutos em silêncio, os olhos fechados, Bakugou finalmente se pronunciou:

- Você... Você ficou comigo, mesmo eu tentando te deixar pra trás. Você me ajudou, mesmo quando eu não queria aceitar que precisava de ajuda. - Suas sobrancelhas estavam cerradas, e Izuku tinha certeza que deveria estar sendo uma tortura dizer tudo aquilo, mas não queria interrompe-lo. - Você me admirou e me defendeu mesmo quando eu me odiava mais do que a qualquer coisa...

Aquela parte o pegou de surpresa. Nunca tinha visto Kacchan tão vulnerável, mesmo depois da queda de All Might. Não tinha noção de quanta dor ele esteve carregando, desde então...

- Eu não sei se eu mereço... Tá, eu tenho certeza que eu não mereço, mas... Mas eu quero ficar do seu lado, Deku.

Ouch. Fazia muito tempo que Izuku não ouvia aquele apelido vindo de Kacchan. Mesmo quando estava de uniforme, ele se recusava a chamá-lo assim. O ouvir chamá-lo de Izuku tinha sido a melhor coisa de sua vida, e toda vez que Bakugou o chamava pelo primeiro nome, o moreno se via na obrigação de sorrir de orelha a orelha. Mas... Não podia dizer que não sentia falta daquele apelido.

Não por tudo o que significava, não por todas as memórias ruins, mas pelo sentimento de intimidade que só ele podia trazer. Kacchan não o dizia mais com raiva ou nojo, e sim... E sim daquela forma que ele dizia em batalha, quando estava preocupado com seu estado, como no dia em que entrou em sua frente e acabou perdendo a audição de vez. Fazia o peito de Izuku doer por todo o sentimento que carregava, de um jeito bom. O que era aquilo...?

Mal percebeu seus olhos enchendo d'água. Kacchan queria ficar ao seu lado. Finalmente o via como um igual, finalmente queria de verdade a sua presença. Finalmente o tinha consigo, mesmo que não do jeito que quisesse.

Limpou as lágrimas do rosto com pressa ao ver Bakugou se levantar, agora sentado de frente pra ele, tão próximo que chegava a doer. Ele pareceu analisar cada centímetro de sua pele, mas se viu algo sobre o choro, não disse nada. Ao invés disso, disse algo que quase arrancou a alma de Izuku de seu corpo:

- Não vai me beijar?

Depois de piscar algumas vezes, para ter certeza que não tinha imaginado aquilo, Izuku abriu a boca para checar:

- Você quer que eu te beije...? E-Eu pensei que você nem gostasse dessas coisas.

A resposta foi um revirar de olhos, o que em "Kacchanês" era bem óbvio. Mas então ele abriu a boca, e de novo tirou o tapete debaixo de Izuku.

- Não são "essas coisas", idiota. É porque é você.

Então quer dizer que... Se fosse com ele, iria querer? Logo ele, que odiava qualquer tipo de toque ou demonstração de carinho? Ah, Izuku nunca poderia perder essa oportunidade. As mãos ainda estavam machucadas, então tudo o que fez foi aproximar seu rosto até juntar os lábios.

Não passou de um toque, ambos os olhos fechados, os rostos tão próximos que podiam sentir a respiração alheia, entrecortada e nervosa. E então pararam, mas não se afastaram. Foi Bakugou quem apoiou a testa na de Izuku, e o moreno nada fez. Conhecia o amigo o suficiente para ver as engrenagens funcionando em sua cabeça. Ele estava confuso, e não poderia julgá-lo...

- Tudo bem, Kacchan. Podemos ir testando, se você quiser.

you can count on me - deaf! bakugouOnde histórias criam vida. Descubra agora