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O ar frio encheu meus pulmões. Por algum motivo meus pensamentos estavam frenéticos naquela noite. Alexandria estava sendo muito boa para mim, as pessoas naquela comunidade haviam se tornado aos poucos como parte da minha família.

Eu insistia em evitar aquele sentimento, mas finalmente eu tinha de admitir, era muito bom ter um convívio normal e carinhoso com outras pessoas. Naquele lugar, em poucos dias, eu encontrei amizades, proteção e até mesmo uma possível paixão. Eu não era mais aquela pessoa totalmente solitária, que só se importava com o bem estar da filha e se esquecia de si própria.

Analisando meu desespero naquela noite úmida, da pra se mensurar as raizes profundas que eu finalmente havia criado.

É escutado tiros e gritos no meio da noite. Eu na janela só pude me abaixar e tentar ter uma boa visão da rua. Gemma rapidamente se levantou, o som característico dos tiros soava como um despertador pra quem está no meio do apocalipse.

Eu não fazia ideia do que estava acontecendo, mas um clima misterioso estava pairado sobre o ar enquanto eu tentava acalmar minha criança, que assustada pedia para que ficássemos trancadas e escondidas.

Eu não podia fazer aquilo, se fosse algo realmente alarmante acontecendo, era melhor saber do que apenas esperar o perigo chegar, além de que outras pessoas podiam estar em maus lençóis lá fora. Foi aí que sai de casa armada com Gemma junto a mim, as duas atentas e cautelosas.

As ruas se encontravam misteriosamente vazias. Não encontrar nenhuma patrulha ou sobrevivente já mostrava que algo incomum acontecia no local. Por isso fui sorrateira até a entrada da comunidade, me escondendo entre as casas pude notar uma multidão.

Carros com faróis ligados e aparentemente, visitantes. Eram muitos, então logo deduzi que não se tratavam apenas dos moradores de Alexandria.

Como no dia em que eu havia visto Daryl pela primeira vez, escondida na farmácia, meu coração acelerou. Eu sentia a tensão mesmo a metros de distância e aquela sensação, quase como um instinto natural, provava que algo estava errado. Não se tratava somente de uma comunidade vizinha da qual eu não tinha conhecimento, o amargo em minha boca só decretava que aquelas pessoas não vinham em uma visita amigável.

Me aproximei o máximo que pude. Um homem andava falando enquanto um mar da cabeças olhava em sua direção, o ouvindo discursar. Ele carregava consigo um taco de beisebol enorme, enrolado em arame farpado e todo manchado por um tom característico. Sangue.

Foi então, que analisando um pouco melhor, eu pude notar outras peças do cenário. Os principais "representantes" da comunidade estavam ajoelhados em frente às fortes luzes dos faróis. A grande maioria dos moradores do local estavam rendidos, tendo de assistir a todo aquele show de horror.

O que piorou a situação e me abalou, chegando até mesmo embrulhar meu estômago, foi um corpo caído ajoelhado. Junto ao restante das pessoas que pude identificar como Carol, Maggie, Carl, Rick, Michonne e alguns outros. Abraham estava morto, com a cabeça estourada junto ao asfalto frio. Impedi que Gem sequer olhasse rapidamente a cena que fez meu corpo todo tremer.

— O que foi mãe? — ela sussurrou, me virei pra lhe responder quando de repente fomos pegas de surpresa.

— ME SOLTA SEU MERDA! TIRA A MÃO DA MINHA FILHA AGORA PORRA— gritei a plenos pulmões, enquanto o filho da puta me arrastava e fazia o mesmo com Gemma.

Fomos jogadas na frente do restante do pessoal, quando levantei a cabeça só consegui ver a bota de um homem ao lado do meu rosto. Me ajoelhei o mais rápido na medida do possível e puxei Gem para trás de mim.

— Não adianta se esconder, querida!

Aquele nojento soltou aquelas palavras pegando meu queixo com a ponta dos dedos, levantando meu rosto levemente em direção ao seu.

— LARGA ELA CARALHO! — escutei pela primeira vez desde que estava observando toda a cena a voz de Daryl. Ele se debatia em minha direção enquanto dois homens o seguravam.

— Seu defensor devia se acalmar querida, ele tem de se preocupar mais com a própria situação do que com você nesse momento... — o homem disse deslizando alguns dedos pela minha bochecha, ato totalmente nojento e repulsivo para mim naquele momento.

Ele então aproximou mais seu rosto do meu. Para cortar qualquer gracinha que este planejava, sem pensar duas vezes cuspi em sua face, repugnando o ser nojento a minha frente.

— Olha.. Ela é brava... — falou limpando seu rosto.

O homem levantou a mão em um ato rápido para virá-la em um tapa contra meu rosto, mas alguém o segurou. Em meio a luz forte aquele ser parecia até um anjo. Quando identifiquei quem era, comecei a acreditar que talvez aquilo tudo se tratasse apenas de um pesadelo estranho. Mas na realidade, era ele ali. A minha frente. Anos de incerteza, até que Ken estava na minha frente. Meu irmão, ele tava ali, segurando o braço de um louco sociopata.

— Helena... — me estendeu a mão, ajudando-me para que eu pudesse me levantar.

O observei assustada, procurando algo que fizesse sentido. Mas naquele momento nada parecia se encaixar em minha mente. Como? Após anos ele me aparece com uma comunidade rival?

Todos estavam em um silêncio absoluto nos observando.

— Quem é essa? — o estranho barbudo perguntou ao meu irmão.

— Minha irmã...

— Irmã? — Gemma questionou também assustada, dava para ver o medo e a confusão em sua face geralmente doce, que agora era dominada pelo pavor. Ela que estava atrás de mim e finalmente foi pega pela visão de Ken.

— Filha... — o homem abriu um sorriso sincero e feliz.

Ken me puxou para um abraço e apertou meu corpo contra o seu, enquanto chamava Gemma para perto. Ela se mostrou relutante e eu, em choque, apenas permaneci parada buscando algo no rosto do homem, sem esboçar qualquer reação além do espanto. Uma explicação talvez fosse a única coisa que eu procurava.

— Salvos pelo gongo, o reencontro do Ken talvez tenha decretado a sobrevivência dessa comunidade... — o desconhecido que caminhava com o taco apoiado no ombro disse, me olhando de cima a baixo.

— Ken por favor pede pra soltarem todo mundo! Eu te imploro! — soei desesperada. Eu falei como em um sussurro tentando convencer meu irmão.

— Não posso fazer isso! — foi irredutível. — Negan vamos, voltamos outra hora, pode ser?

— Tudo bem, mas o cabeludo vem com a gente...

Ele se referia a Daryl.

— Eu não vou a lugar nenhum com você.. — falei me soltando das mãos de meu irmão que havia aberto a boca para falar algo, mas logo revirou os olhos e me segurou com mais força.

— Você não tem escolha. — soou tão ríspido que quase não o reconheci.

— LARGA ELAS PORRA! — o Dixon se debatia enquanto outros homens pegavam eu e Gemma pelos braços, jogando-nos na caçamba de um caminhão.

Daryl infelizmente ou felizmente logo se juntou a nós, com as mãos presas atrás das costas por uma algema. Após o momento que a caçamba foi fechada, foi escutado o motor do velho caminhão rugir.

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⏰ Última atualização: Oct 01 ⏰

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All Alone (TWD-Dixon)Onde histórias criam vida. Descubra agora